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O Mundo Agora

Portuguese, Political, 1 season, 60 episodes, 4 hours, 49 minutes
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Crônica de política internacional de Alfredo Valladão, do Instituto de Estudos Políticos de Paris
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Opinião: Vladimir Putin precisa de Donald Trump mais do que nunca

À medida que o mundo acompanha o desenrolar da eleição presidencial na Rússia, prevista para o mês de março, fica claro que 2024 pode ser um ano estratégico para Vladimir Putin. A eleição, que deve estender o governo de Putin até a década de 2030, parece ser mais uma formalidade constitucional do que um concurso democrático, com o sistema eleitoral russo firmemente sob o controle do presidente. Thiago de Aragão, analista políticoDiante deste cenário, a possibilidade do retorno de Donald Trump à Casa Branca poderia significativamente realçar a posição geopolítica de Putin, especialmente em relação à guerra em andamento na Ucrânia e a paisagem mais ampla das relações internacionais.A potencial presidência de Trump pesa enormemente sobre o futuro da política externa dos EUA, particularmente em relação à Rússia e à Ucrânia. Seu mandato anterior foi marcado por uma postura notavelmente suave em relação a Putin, levantando preocupações entre aliados internacionais sobre a consistência do apoio dos EUA sob sua liderança.Trump sugeriu abertamente que consideraria retirar o apoio à Ucrânia em sua guerra contra a agressão russa, uma medida que, sem dúvida, inclinaria o equilíbrio a favor das ambições de Putin no Leste Europeu. Recentemente disse que a Rússia poderia ter caminho livre para fazer o que quisesse com os países da OTAN que não pagassem mais para estar dentro da aliança. Para Putin, a vitória de Trump nas eleições dos EUA poderia representar uma oportunidade de avançar os interesses russos com menos restrições. A perspectiva de uma presidência de Trump também abre a porta para a Rússia aprimorar sua relação com a China, fortalecendo ainda mais a aliança entre Moscou e Pequim. Esta parceria em ascensão poderia ser significativamente reforçada pela abordagem isolacionista de Trump, que no passado incluiu ceticismo em relação à OTAN e ambivalência sobre compromissos militares dos EUA no exterior.Além disso, a abordagem de Trump à política externa poderia levar a um enfraquecimento das relações com a Europa, bem como com muitos aliados asiáticos. Tal mudança alinharia perfeitamente com os objetivos estratégicos de Putin, pois um Ocidente dividido e distraído proporcionaria à Rússia maior latitude para afirmar sua influência não apenas em sua vizinhança imediata, mas também no palco global.A postura suave em relação a Putin que Trump provavelmente adotaria, combinada com suas tendências ao isolamento, serviria assim para realinhar alianças globais e estruturas de poder de maneiras que poderiam ser altamente vantajosas para a Rússia. Ao criar uma divisão entre os Estados Unidos e seus aliados tradicionais, e ao diminuir potencialmente o papel dos EUA em arranjos de segurança internacional, as políticas de Trump poderiam inadvertidamente fortalecer a parceria estratégica entre Rússia e China, apresentando um contrapeso formidável à influência ocidental.Este potencial realinhamento teria implicações profundas para a estabilidade global e a ordem internacional. Com a Europa potencialmente distanciada dos EUA e aliados asiáticos reavaliando seus compromissos de segurança, Putin poderia se encontrar em uma posição significativamente fortalecida para perseguir suas ambições regionais e globais, sabendo que se trataria de uma oportunidade única e boa demais para deixar passar. Este cenário seria um vento favorável estratégico para a Rússia, permitindo a Putin capitalizar em mudanças geopolíticas que colocariam a Rússia num papel de influência, além de projetar ambições ainda maiores com aliados poderosos como a China. À medida que esses eventos se desenrolam, a comunidade internacional deve permanecer vigilante, compreendendo que os resultados dessas eleições têm implicações de longo alcance além das fronteiras nacionais. A possibilidade de uma postura mais suave dos EUA em relação a Putin sob Trump, combinada com um eixo Rússia-China mais forte, poderia encorajar regimes autoritários, desafiar instituições democráticas e remodelar a ordem global com consequências duradouras para a paz e segurança internacionais.
2/26/20244 minutes, 37 seconds
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Trump ameaça a Otan e coloca a Europa em alerta

Em uma demonstração do que só pode ser descrito como uma aula de imprudência diplomática, Donald J. Trump, o ex-presidente dos EUA que aspira retornar à Casa Branca, mais uma vez conseguiu deixar a comunidade global boquiaberta. Desta vez, sugerindo que prefere sacrificar o compromisso de defesa coletiva da Otan, se isso atender aos seus caprichos. Thiago de Aragão, de WashingtonEm um comício recente, Trump propôs, de maneira descompromissada, dar à Rússia luz verde para "fazer o que bem entender" com os países da Otan que não abrem suas carteiras o suficiente, virando as costas efetivamente para décadas de compromissos dos EUA em apoiar seus aliados. Essa nova abordagem da política externa bem que poderia enviar o delicado equilíbrio da diplomacia global para fora de seu eixo.Jens Stoltenberg, o Secretário-Geral da Otan, juntamente com um coro de líderes globais e a própria Casa Branca, foram rápidos em condenar as declarações de Trump, classificando-as de "terríveis" a "desconexas". Parece que a disposição de Trump para arriscar a segurança global em favor de ganhar pontos políticos não passou despercebida. Sua visão transacional das alianças internacionais — reduzindo a complexa dança da política global a meros sinais de dólar — demonstra um profundo mal entendido tanto do conceito de segurança coletiva quanto da importância estratégica da unidade, conforme delineado no Artigo 5 do tratado da Otan.Em um momento em que a Otan está ampliando seus horizontes para lidar com ameaças da China e fortalecer laços com nações no Indo-Pacífico, a retórica divisiva de Trump não poderia estar mais deslocada. Ela ameaça minar a confiança e cooperação cruciais para enfrentar tudo, desde a agressão russa até os desafios estratégicos impostos pela China. Além disso, à medida que a Otan se solidariza com a Ucrânia contra a invasão russa, a atitude despreocupada de Trump em relação aos princípios fundamentais da aliança encoraja agressores e sinaliza uma potencial fratura na frente unida da Otan — uma perspectiva tão alarmante quanto perigosa.Resumindo, a mais recente incursão de Trump na política externa parece menos uma estratégia bem pensada e mais uma aposta de alto risco com a segurança do mundo inteiro. É um lembrete contundente de que o mundo poderia dispensar um líder cuja ideia de construção de alianças é semelhante a escolher times em um jogo de escola, com pouca consideração pelas consequências. À medida que o mundo enfrenta desafios sem precedentes, a importância de alianças sólidas como a Otan, construídas sobre o suporte e defesa mútuos, nunca foi tão clara.
2/12/20244 minutes, 46 seconds
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Cresce inquietação social na Europa, onde protestos dos setores de transportes e agrícola assombram

A Europa continental foi cenário nos últimos dias de um crescimento exponencial dos protestos sociais, sobretudo nos transportes e no setor agrícola.  Flávio Aguiar, analista políticoNa Alemanha houve a paralisação sucessiva do sistema ferroviário nacional, dos aeroportos e por fim do transporte urbano em Berlim durante algumas horas da manhã de sexta-feira passada. O motivo: reivindicações salariais e de melhores condições de trabalho.A Covid-19 deixou de ser o fantasma fatal de tempos atrás, mas continua penalizando trabalhadores que se vêm impossibilitados de desempenhar suas funções, sobrecarregando os demais. E conta, nesta época do ano, com seu aliado o inverno europeu, que, com fortes resfriados, também vai levando trabalhadores ao repouso forçado.Na Finlândia também houve uma paralisação total na semana, que passou com sindicatos de várias categorias protestando contra um projeto do governo conservador que visa restringir o direito de greve e reduzir o seguro-desemprego. A paralisação atingiu sobretudo o sistema de transporte público.Mas a estrela da semana foi mesmo o setor agrícola. O movimento começou na Alemanha, onde os agricultores paralisaram, com seus tratores, estradas e o acesso a vilas e cidades. Logo ele se alastrou por quase toda a Europa continental, da Polônia à Península Ibérica, com fortes manifestações na França e em Bruxelas, na Bélgica, onde os manifestantes atearam fogueiras diante da sede executiva da União Europeia.Agricultores cercaram ParisNa França, os agricultores ameaçaram cercar e isolar Paris. Não chegaram a tanto, mas entre protestos e até prisões de manifestantes, conseguiram mobilizar o governo de Emmanuel Macron, que se prontificou a lutar contra a aprovação do acordo de livre-comércio com o Mercosul e rever as novas limitações que pretendia impor ao uso de agrotóxicos, o que provocou novos protestos, desta vez dos ecologistas. Além disto, a União Europeia se comprometeu a investir mais algumas centenas de milhões de euros em subsídios ao setor.Além de se sentirem ameaçados pela temida concorrência com os agricultores do Mercosul, a insatisfação dos europeus têm outros motivos. Dados oficiais dizem que 15% de sua renda vem dos subsídios governamentais e da UE para o setor.Os agricultores alegam que tal subsídio vem se mostrando insuficiente para enfrentar a alta da inflação, sobretudo no custo dos combustíveis, principalmente o diesel, e dos fertilizantes, cuja alta deriva de sua relativa escassez graças à guerra na Ucrânia. Protestam também diante do que veem como uma concorrência ameaçadora por parte dos produtos agrícolas deste país, isentos de impostos pela União Europeia como forma de ajudá-lo na guerra com a Rússia.Outro ponto de desacordo está nas limitações ecológicas que, segundo os agricultores, encarecem demasiadamente seus produtos. O movimento põe em risco as medidas de proteção ao meio ambiente adotadas dentro da UE.Insatisfação persisteA insatisfação e os protestos ameaçam continuar, apesar das medidas atenuadoras de governos e da UE, e se alastrar a outras categorias. Oficialmente o continente europeu, como um todo, não está em recessão econômica, embora sua principal economia, a alemã, esteja. Mas a crise é um fato inarredável do cotidiano, liderada pelos custos dramaticamente crescentes da energia, dos alimentos, e das despesas com saúde e habitação.No outro lado do Canal da Mancha, no Reino Unido, os protestos no setor da saúde são constantes e a crise econômica ameaça a hegemonia do Partido Conservador, no poder desde 2010.Politicamente, na Europa Continental nota-se uma tentativa, por parte dos partidos de extrema direita, como o Rassemblement National na França e o Alternative fúr Deutschland na Alemanha, no sentido de capitalizar a insatisfação e os protestos, sobretudo dos agricultores, vistos como um setor mais conservador do que os trabalhadores urbanos.Em breve haverá uma possibilidade de medir se terão sucesso ou não, com as eleições para o Parlamento Europeu em junho deste ano.
2/5/20244 minutes, 47 seconds
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Ataque com drones na Jordânia mostra mudança na dinâmica de poder no Oriente Médio

O recente ataque com drones na Jordânia, que resultou na morte de três militares americanos, marca uma escalada significativa nas tensões do Oriente Médio. A crise, que vem se acentuando nos últimos meses, exige uma análise matizada e uma reavaliação estratégica. Thiago de Aragão, analista políticoDo ponto de vista geopolítico, o ataque, reivindicado pela Resistência Islâmica no Iraque, uma aliança de grupos armados pró-Irã, não é apenas mais um incidente na longa história deste conflito regional. O incidente representa uma mudança crucial na dinâmica de poder no Oriente Médio. O alvo de um posto militar dos Estados Unidos perto da fronteira entre a Jordânia e a Síria, conhecido como Torre 22, sublinha a expansão do raio de ação das milícias apoiadas pelo Irã e sua disposição para confrontar diretamente os interesses dos Estados Unidos na região.A resposta de Washington, conforme expressa pelo presidente Joe Biden e pelo secretário de Defesa Lloyd Austin, sugere uma reação militar inevitável. No entanto, como analista político, argumento que este incidente necessita de uma reflexão mais profunda sobre as implicações mais amplas da estratégia militar dos Estados Unidos no Oriente Médio.A presença americana na região, há muito tempo justificada com base no combate ao terrorismo e na estabilização do Oriente Médio, muitas vezes se depara com complexidades que desafiam respostas militares tradicionais. O ataque na Jordânia exemplifica a intrincada teia de política regional, onde o engajamento militar americano, embora destinado a deter ameaças, muitas vezes se enreda em lutas de poder locais e regionais.Risco de escalada de tensãoAo considerarmos as possíveis repercussões de uma resposta militar de Washington, o risco de uma escalada adicional não pode ser ignorado. A retaliação, embora satisfaça os chamados imediatos por justiça, poderia mergulhar a região em um conflito mais profundo. Também poderia fornecer material para o sentimento antiamericano, frequentemente explorado por grupos como os responsáveis pelo ataque na Jordânia.Além disso, este incidente deve provocar uma reavaliação da estratégia de longo prazo dos Estados Unidos no Oriente Médio. A abordagem tradicional do poder militar, embora essencial em certos contextos, precisa ser complementada com iniciativas diplomáticas e uma compreensão mais profunda das dinâmicas sociopolíticas da região. O envolvimento com aliados regionais, estratégias de resolução de conflitos e o enfrentamento das causas raízes da instabilidade devem ser parte integrante desta reavaliação.O papel dos atores regionais, como a Arábia Saudita e Israel, na formação das políticas dos Estados Unidos no Oriente Médio, também merece atenção. Seus interesses geopolíticos e dinâmicas com o Irã influenciam significativamente a estabilidade regional e, por extensão, a política externa americana. Uma abordagem matizada, considerando essas perspectivas regionais, é crucial na formulação de uma resposta que não apenas aborde a ameaça imediata, mas também contribua para a estabilidade de longo prazo na região.Em conclusão, o ataque de drone na Jordânia é mais do que um chamado às armas: é um chamado para a introspecção estratégica e recalibração da política dos Estados Unidos no Oriente Médio. Este incidente oferece uma oportunidade para Washington redefinir seu papel e abordagem em uma região que continua sendo um ponto quente geopolítico global.
1/29/20244 minutes, 27 seconds
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Dois ausentes dominaram o Fórum Econômico Mundial em 2024: Trump e Putin

Na semana passada realizou-se a 54ª edição do encontro anual promovido pelo Fórum Econômico Mundial na cidade de Davos, nos Alpes suíços. O Fórum Econômico Mundial é uma Organização Não-Governamental criada em 1971 pelo empresário e professor de Economia Klaus Schwab, de nacionalidade alemã, com sede na cidade de Cologny, também na Suíça, perto de Genebra. Schwab preside a ONG e o encontro até hoje. Flávio Aguiar, analista políticoEntre os objetivos da ONG está o de promover iniciativas de governança global baseadas em princípios do liberalismo econômico. Para tanto reúne anualmente cerca de 3.000 empresários, governantes, acadêmicos, lideranças globais, jornalistas e demais “influenciadores” (para usar uma palavra da moda) que durante cinco dias debatem temas da atualidade em centenas de mesas.Com a queda do muro de Berlim em 1989 e a dissolução da União Soviética em 1991, o Fórum de Davos tornou-se uma "menina dos olhos" do capitalismo triunfante na Guerra Fria. Naquele momento, o cientista político norte-americano Francis Fukuyama chegou a proclamar o “fim da história”, afirmando que o capitalismo liberal do Ocidente e sua forma de democracia eram o estado social definitivo da humanidade.Ao lado dos entusiastas do Fórum Econômico Mundial cresceram também seus críticos, vendo nele a formação de uma elite “desnacionalizada” sem compromissos sociais que não os de natureza apenas retórica. Fruto destas críticas nasceu seu contraponto, o Fórum Social Mundial, criado em 2001 em Porto Alegre, no Brasil. O FSM reuniu desde sempre um número expressivo de ONGs, sindicalistas, militantes de movimentos sociais e políticos em geral de esquerda. Já na sua primeira edição o FSM reuniu cerca de 20.000 participantes.Em alguns momentos em que as datas de realização dos dois fóruns coincidiram, chegou a acontecer um diálogo virtual entre os participantes de cada um. Neste ano o FSM se reunirá no Nepal, na Ásia, entre 15 e 19 de fevereiro. Aliás, o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, é dos poucos líderes mundiais com presença marcante em ambos os Fóruns, embora estivesse ausente nesta edição do de Davos em 2024.Inteligência ArtificialDesta vez, vários comentaristas concordaram que a grande estrela dos debates foi a Inteligência Artificial, suas vantagens, conquistas e também seus problemas. Ressaltou-se a sua capacidade relâmpago de criar “fake news” e mundos imaginários num ano em que processos eleitorais de grande alcance envolvem 40% da humanidade, em todos os continentes regularmente habitados.Também foram marcantes as presenças do presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, como sempre passando seu chapéu em busca de financiamento e mais armas para a guerra de seu país contra a Rússia, e a do recém-empossado presidente da Argentina, o ultra-liberal Javier Milei, propagandeando seu anarco-capitalismo e chegando ao ponto de afirmar que o próprio Fórum de Davos se apresentava contaminado por algo que chamou de “coletivismo” e “socialismo” - coisa que provocou aplausos e risos ao mesmo tempo.Mas houve duas outras "presenças marcantes" nas mesas, nos corredores e nos encontros sociais do Fórum: os ausentes Donald Trump e Vladimir Putin. Trump foi uma espécie de aparição fantasmagórica, com o risco de seu retorno à Casa Branca e seus princípios de “America First” e desprezo por fóruns internacionais - o que, de certo modo, inclui Davos. Por outro lado, Putin - que já foi convidado ao Fórum e dirigiu-lhe a palavra em 2009 - foi eleito pelos comentários gerais como o inimigo n* 1 dos princípios de Davos.Foi tal a hostilidade em relação ao presidente russo que circulou nos corredores, de modo insistente, a proposta de expropriar os 350 bilhões de dólares das reservas internacionais da Rússia para aplicá-los na guerra e na recuperação da Ucrânia.Uma ideia semelhante já ocorrera antes em relação às reservas em ouro da Venezuela no Banco da Inglaterra, para entregá-las ao então líder oposicionista Juan Guaidó, hoje desacreditado por seus próprios ex-seguidores. Tais propostas contêm um paradoxo. Aparentemente a expropriação de capitais, uma prática antes defendida por organizações revolucionárias de esquerda, passou a ser uma bandeira seletiva de lideranças do Ocidente capitalista, para ser aplicada contra quem considerem um inimigo.
1/22/20245 minutes, 15 seconds
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Do clima à geopolítica mundial, 2024 será um ano de extremos

Em 2024, a alta da temperatura mundial deverá bater novo recorde e o ano será marcado por novos eventos climáticos extremos. Será também um ano de turbulências na geopolítica e economia mundiais, acredita o analista de política internacional da RFI. Flávio Aguiar, analista políticoTodos os meteorologistas concordam quanto à previsão de que 2024 será um ano mais quente do que 2023, que já foi o ano mais quente da história pelo menos desde que os registros regulares de temperatura começaram a ser feitos no século 19.Há divergências quanto ao nível de aumento da temperatura. Os mais extremados afirmam que 2024 pode ser o ano em que a média dos 12 meses ultrapasse 1,5°C acima da chamada média pré-industrial. O limite de 1,5°C foi o acordado em Paris, no ano de 2015, para impedir uma catástrofe climática maior, que aumente o risco de vida do nosso já combalido planeta.De todo modo, se aquela previsão se confirmar, 2024 será, como 2023, um ano marcado por excessos: inundações, ciclones, avalanches de neve e deslizamentos de terra em toda parte.Brics ampliadoA economia mundial promete também alguns confrontos aquecidos. O ano começa com a expansão do grupo conhecido como Brics, que até agora reunia Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Passam a integrá-lo o Irã, a Arábia Saudita, os Emirados Árabes Unidos, a Etiópia e o Egito.Apesar da desistência da Argentina de Javier Milei, que preferiu não entrar no bloco por razões ideológicas, esse Brics ampliado passa a representar 36% do Produto Nacional Bruto contra 31% do G7, grupo que reúne as nações mais ricas e industrializadas do planeta. O novo grupo representa 46% da população mundial, contra 10% do G7, e produz 40% do óleo bruto e gás do mundo.São países muito diferentes entre si, mas que desejam implementar um banco alternativo ao Fundo Monetário Internacional (FMI) e ao Banco Mundial, além de desejarem instituir novas moedas de negociação internacional, para além do dólar norte-americano.Disputas eleitorais2024 será marcado também por grandes disputas eleitorais nacionais em quatro dos cinco continentes. A exceção fica por conta da Oceania.Nas Américas, haverá eleição nos Estados Unidos e a questão que se coloca neste momento é se Donald Trump poderá participar ou não da votação. Também haverá eleição no México, onde pela primeira vez duas mulheres disputarão a presidência: Claudia Sheinbaum, pelo partido no poder de esquerda, e Xóchitl Gálvez, pela oposição de direita. Haverá ainda eleições gerais no Uruguai e na Venezuela.Na África, eleições gerais  ou presidenciais acontecem na Argélia, Moçambique, Tunísia e África do Sul. Na Ásia será a vez da Indonésia, Irã, Paquistão, Taiwan e Índia, onde o partido do primeiro-ministro Narendra Modi enfrentará uma frente unificada dos 26 partidos de oposição.Na Europa ocorrem eleições gerais na Bélgica, Áustria, Finlândia, Geórgia, Islândia e Portugal. Em junho haverá eleição para o Parlamento Europeu, prevendo-se o crescimento da bancada de extrema direita.Na Rússia, país que ocupa dois continentes, haverá eleição presidencial em março, com Vladimir Putin tentando seu quinto mandato.GuerrasProsseguem as duas principais guerras do momento. Na Europa, a da Ucrânia versus Rússia, com dúvidas sobre se prevalecerá no mesmo nível o apoio financeiro e bélico dos países da Otan ao governo de Kiev.No Oriente Médio, o conflito entre Israel e o grupo Hamas já provocou mais de mil mortos civis israelenses e duas dezenas de milhares de mortos civis em Gaza, sobretudo de mulheres e crianças. A situação humanitária no enclave palestino é terrível.E o novo ano começou mal para o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, e seu governo de extrema direita. No dia 1° de janeiro, o Supremo Tribunal de Israel declarou inconstitucional a projetada reforma do sistema judicial do país, que retiraria poderes do judiciário em favor dos poderes executivo e legislativo.Não há ainda um horizonte de paz ou pelo menos de cessar-fogo para essas duas guerras.Paris 2024Para sairmos do âmbito catastrófico, vale registrar que Paris sediará dois eventos de importância mundial, um no campo esportivo e outro no artístico.Em julho e agosto a capital francesa será a sede dos Jogos Olímpicos de Verão. No correr do ano, o Musée d’Orsay oferecerá uma exposição comemorativa dos 150 anos do lançamento da arte impressionista, um evento que reuniu pintores rejeitados pelo Salão Oficial de Paris da época, com nomes como Renoir, Monet, Cézanne, Degas, Sisley, Pissarro, Sisley, Guillaumin e Morisot. A exposição de 1874 aconteceu no salão do fotógrafo Nadar.Como começamos esta resenha de previsões para este ano falando do meio ambiente, lembremos, para terminar, que diversas associações e agências governamentais prometem atacar de frente o acúmulo de plásticos nos oceanos e de microplásticos em toda parte, outra ameaça grave à saúde humana e ao planeta.
1/8/20245 minutes, 48 seconds
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2023: um ano marcado por guerras e extremos

2023 termina como um ano marcado por extremos, para onde quer que se olhe. Guerras e conflitos armados, internacionais e intranacionais, ou sua ameaça, estiveram e estão presentes em todos os cinco continentes regularmente habitados. Dois destes conflitos se destacaram durante este ano. São: a já prolongada guerra na Ucrânia, envolvendo diretamente este país e a Rússia e indiretamente os aliados e fornecedores de armamentos e recursos para o primeiro; e a guerra recentemente iniciada ou reiniciada entre Israel e o grupo Hamas, conflito que também arrisca ser prolongado. Flavio Aguiar, analista políticoA guerra na Ucrânia entrou num impasse. O ano começou com uma planejada contraofensiva por parte da Ucrânia, que prometia ser espetacular. Ela empacou, para dizer o mínimo, sem conseguir ganhos significativos até o momento. Na frente econômica e política, o conflito também empacou.As sanções econômicas e políticas impostas ao presidente Vladimir Putin e à Rússia não parecem ter abalado nem o prestígio interno daquele nem o desempenho desta. Ambos se aproximaram mais da China e as sanções não contam com um apoio significativo de países fora do círculo dito ocidental, liderado pelos Estados Unidos.Além disso, a guerra na Ucrânia se viu ofuscada pela emergência do segundo conflito entre Israel e o Hamas. No momento, o governo de Kiev luta por manter-se à tona nas atenções mundiais, diante da fadiga provocada pelo prolongamento do conflito, seu alto custo financeiro e a falta de ganhos significativos no campo de batalha.Israel x HamasA guerra entre Israel e o Hamas começou desta vez pelo ataque terrorista deste grupo em 7 de outubro, invadindo aquele país e produzindo cerca de 1.200 mortos, na maioria civis israelenses. O ataque provocou uma reação imediata de apoio a Israel.Entretanto, este apoio vem perdendo força rapidamente, devido à brutalidade e a extensão da resposta do governo de Benjamin Netanyahu, atingindo de modo indiscriminado a população civil da Faixa de Gaza e também, ainda que em menor escala, na Cisjordânia ocupada, provocando cerca de duas dezenas de milhares de vítimas fatais, em grande parte crianças e mulheres.Também chama a atenção o elevado número de mortes entre médicos, paramédicos e jornalistas em Gaza, além da destruição de grande parte da sua infraestrutura e do deslocamento forçado de sua população civil.Na Europa, este conflito estimulou a intensificação do tradicional antissemitismo contra judeus e suas instituições, como sinagogas e cemitérios, mas também estimulou a islamofobia. Esta última forma de intolerância ganhou mais força graças à tendência, em quase todo o continente, de partidos e movimentos de extrema direita para “cancelar” seu passado antissemita e aproximar-se de Israel.Por outro lado, em muitos países europeus registraram-se manifestações massivas em favor dos direitos dos palestinos e de um cessar-fogo humanitário em Gaza. Muitas vezes esses manifestantes foram reprimidos pela polícia e condenados por autoridades sob a alegação de que supostamente abririam espaço para manifestações em favor do Hamas ou antissemitas.A extrema direita continuou crescendo na Europa, em duas frentes. Em eleições, ela vem ganhando cada vez mais espaço e votos, como na Holanda, onde o Partido da Liberdade, liderado por Geert Wilders, foi o mais votado no recente pleito nacional.Ao mesmo tempo, ela vem tendo sucesso em liderar a pauta anti-imigrantes e refugiados oriundos de fora do continente, com muitos países adotando medidas cada vez mais duras e restritivas contra eles. Por outro lado, ela perdeu o governo polonês, em favor de uma coligação mais próxima do centro, liderada por Donald Tusk.Inteligência Artificial e Meio AmbienteNa área tecnológica, 2023 foi um ano marcado pelas discussões éticas em torno do uso da chamada Inteligência Artificial. Louva-se seu uso prático em áreas como saúde e pesquisas científicas, dentre outras.Entretanto, manifesta-se preocupação pela possibilidade de seu uso repressivo no campo político, como as técnicas de reconhecimento facial, que podem abrir caminho para racismos e outras formas de discriminação. Neste mês de dezembro a Comissão e o Parlamento Europeu anunciaram que adotarão em breve um código de ética para o setor, que seria o primeiro no gênero em todo o mundo.Na frente climática, 2023 foi um ano marcado por um sem número de inundações no planeta, sintoma do crescente aquecimento global. A realização da COP28 em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, renovou a esperança de que algo venha de fato a ser feito para contê-lo. Apesar da timidez dos termos da declaração final, foi a primeira vez em que o tema dos combustíveis de origem fóssil e de seus problemas esteve no centro das atenções. Por último, mas não menos importante nesta rápida resenha de 2023, cabe registrar o retorno significativo do Brasil à cena política mundial, depois dos anos de ostracismo e isolamento, devido à  mediocridade da política externa do governo anterior.
12/25/20235 minutes, 45 seconds
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As lições do fracasso do processo constituinte para a democracia no Chile

No dia 17 de dezembro de 2023, os chilenos rejeitaram, por uma margem de 56% a 44%, a proposta de nova Constituição elaborada pelo Conselho Constitucional. Este é o segundo fracasso consecutivo de um processo constituinte no país, após o resultado negativo do plebiscito de 2022. Thiago de Aragão, analista políticoA rejeição da nova proposta da Constituição é um duro golpe para a democracia chilena. Ela reflete a profunda polarização política que o país vive, bem como a crescente desconfiança da população nas instituições democráticas. Existem algumas lições importantes que podemos tirar desse processo no Chile.A primeira lição é que a polarização extrema mina a confiança cidadã na real importância das transformações propostas. No caso chileno, as propostas apresentadas pela Assembleia Constituinte em 2022 e 2023 foram extremamente polarizadas, com uma visão radical de esquerda e outra radical de direita. Essa polarização, juntamente com o abandono da proposta apresentada em 2018, contribuiu para minar a fé dos cidadãos na real importância das transformações propostas.A polarização é um fenômeno comum em democracias representativas, mas ela pode ser especialmente prejudicial em processos constituintes. Isso ocorre porque as constituições são documentos que buscam estabelecer um consenso sobre os valores e princípios que regem uma sociedade. Quando a polarização é extrema, torna-se difícil encontrar um denominador comum que seja aceito por uma maioria significativa da população.Fake newsA desinformação é outro desafio importante. A campanha eleitoral para o plebiscito foi marcada pela disseminação de notícias falsas e boatos sobre a proposta constitucional. Isso contribuiu para confundir a população e dificultar o processo de tomada de decisão.Esse processo de fake news é disseminado por uma variedade de atores, incluindo políticos, grupos de interesse e indivíduos. Ela é facilitada pelo uso das mídias sociais, que permitem a rápida disseminação de informações sem validade alguma.O resultado do plebiscito também reflete a crescente desconfiança da população nas instituições democráticas. A Constituição de 1980, elaborada durante a ditadura de Augusto Pinochet, é amplamente considerada ilegítima pela população. O processo constituinte de 2020-2022 foi visto por muitos como uma oportunidade de corrigir os erros do passado.No entanto, o fracasso do processo constituinte agravou a crise de confiança. Muitos chilenos acreditam que as elites políticas são incapazes de produzir um texto constitucional que seja aceitável para a maioria da população.A segunda lição é que a necessidade de os partidos políticos consolidarem sua presença territorial e entenderem melhor as necessidades cidadãs é urgente. O processo constituinte se encerrou com milhões de chilenos optando por partidos como a Lista del Pueblo, de esquerda radical, e o Partido Republicano, de extrema direita, mostrando um vazio político em busca de referências sólidas.A legitimidade da democracia representativa depende da representação efetiva dos interesses dos cidadãos. Quando os partidos políticos não conseguem conectar-se com as preocupações da população, eles perdem a legitimidade e a confiança dos cidadãos.No caso chileno, a polarização do processo constituinte contribuiu para a fragmentação do sistema partidário. Isso tornou mais difícil para os partidos políticos representarem os interesses da população de forma efetiva.Crise de confiançaO fracasso do processo constituinte é um momento de reflexão para a democracia chilena. O país precisa encontrar uma forma de superar a crise de confiança e de fortalecer as instituições democráticas.Uma possível solução seria retomar o processo constituinte, mas desta vez com um enfoque mais moderado e consensual. Os partidos políticos deveriam deixar de lado suas diferenças ideológicas e se concentrar nos temas que unam a maioria dos chilenos.Outra possível solução seria continuar reformando a Constituição de 1980 de forma gradual. Essa opção seria mais realista, já que seria mais fácil alcançar um consenso entre os partidos políticos. As reformas poderiam incluir medidas para fortalecer os direitos humanos, os direitos sociais e a democracia representativa.Qualquer solução que for adotada, é importante que o processo seja transparente e participativo. A população deve ter a oportunidade de se envolver na discussão e de fazer suas vozes serem ouvidas.O fracasso do processo constituinte é uma oportunidade para a democracia chilena aprender com seus erros. Se os partidos políticos, as instituições públicas e a população puderem trabalhar juntos para superar a crise de confiança, o país poderá construir um futuro mais justo e equitativo para todos.A terceira lição é que as necessidades concretas dos cidadãos devem ser o foco central da ação política e ser atendidas com seriedade e eficácia. O governo deve mostrar resultados tangíveis, especialmente nas áreas de educação e segurança. Declarações pós-eleitorais dos líderes dos partidos devem ter correspondência em ações legislativas e na gestão de agendas colaborativas.A democracia representativa só é legítima se for capaz de atender às necessidades dos cidadãos. Quando o governo não consegue mostrar resultados tangíveis, ele perde a confiança dos cidadãos.No caso chileno, a rejeição da proposta constitucional foi em parte motivada pela percepção de que o processo não estava atendendo às necessidades dos cidadãos. A população chilena está preocupada com questões como desigualdade, acesso à educação e segurança pública. O governo chileno precisa mostrar resultados concretos na resolução desses problemas.O futuro da democracia chilena precisa de vários pontos de convergência entre governo e oposição, mas também de algumas renovações básicas para que a principal parte nessa equação democrática, a sociedade, entenda e participe sem depender de alucinações cada vez mais típicas da esquerda e da direita na América Latina. Reformar o sistema eleitoralO sistema eleitoral atual é majoritário, o que favorece a fragmentação política e dificulta a formação de maiorias estáveis. Uma reforma para introduzir um sistema proporcional seria mais favorável à representação da diversidade de opiniões da população.Fortalecer os partidos políticosOs partidos políticos são essenciais para a democracia, pois são responsáveis por organizar a representação dos interesses da sociedade. No entanto, os partidos políticos chilenos estão enfraquecidos, o que dificulta a formação de consensos. É preciso fortalecer os partidos políticos, tornando-os mais inclusivos e representativos da diversidade da sociedade.Promover a educação cívicaÉ importante que a população esteja informada sobre os seus direitos e deveres cívicos. A educação cívica deve ser promovida nas escolas e na sociedade civil, para que as pessoas possam participar ativamente da vida democrática.A democracia chilena está em um momento crítico. O fracasso do processo constituinte é um sinal de que o país precisa enfrentar desafios importantes. No entanto, também é uma oportunidade para a democracia chilena aprender com seus erros e construir um futuro mais justo e equitativo para todos. 
12/18/20234 minutes, 22 seconds
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Na Alemanha há censura por causa da guerra no Oriente Médio?

Uma guerra pode fazer todo tipo de vítimas, não apenas mortos e feridos no campo de batalha ou entre os civis próximos. A Alemanha se orgulha por ser um país de cena cultural aberta e livre, sobretudo depois da reunificação levada a cabo em 1991. Entretanto, no passado recente, artistas e intelectuais têm manifestado preocupação diante do que descrevem como um clima de “repressão” por acusações que consideram exageradas de antissemitismo, o que teria se acentuado a partir de outubro deste ano, com o conflito envolvendo o Hamas, o governo israelense, o ataque terrorista de 7 de outubro e o bombardeio e ocupação da Faixa de Gaza, com vítimas civis tanto do lado israelense quanto do palestino.  Flávio Aguiar, analista políticoA reclamação dos artistas e intelectuais alcançou repercussão internacional graças a um artigo no New York Review of Books (19/10/2023) e uma reportagem no The New York Times (7 e 8/12/2023). O artigo é assinado por Susan Neiman, de origem judaica, diretora do Einstein Forum, organização acadêmica com sede em Potsdam, ao lado de Berlim, voltada para a cooperação internacional. Nele, a autora deplora que o esforço por combater o antissemitismo descambou para uma às vezes velada, às vezes ostensiva repressão contra quem manifeste críticas a Israel e ao governo israelense. Uma das bases deste desvirtuamento estaria em resolução adotada pelo Parlamento Federal que considera qualquer forma de boicote a Israel como um ato antissemita; outra base seria também a consideração de que a segurança de Israel tornou-se uma “razão de Estado” na Alemanha, o que implica um apoio incondicional às ações daquele país e de seu governo. A partir daí, qualquer declaração ou ação de artistas ou intelectuais que propiciem uma acusação ou sequer suspeita de antissemitismo leva à exclusão dos autores dos planos de fomento - financiamento - público de atividades culturais, venham a acusação ou a suspeita de onde vierem. Aponta ela que esta prática vem ocorrendo já há alguns anos no país.Casos A reportagem do The New York Times lista uma série de casos de artistas que tiveram exposições ou premiações canceladas, ou suspensas por fazerem declarações consideradas hostis a Israel depois do ataque de 7 de outubro e da retaliação israelense em Gaza e na Cisjordânia ocupada. Também comparece à lista pelo menos um caso de artista que fez anos atrás uma declaração considerada hostil a Israel. Um dos casos mais contundentes listados no jornal é o da artista judia sul-africana Candice Breitz que, por ter criticado a retaliação de Israel em Gaza, teve sua exposição, prevista para 2024, cancelada no estado de Saarland. Diga-se de passagem que a exposição nada tinha a ver com a questão palestina ou israelense, versando sobre prostituição na África do Sul.O antissemitismo continua sendo um problema ora latente, ora explícito na Alemanha, assim como em outros países, e merece repulsa, assim como a islamofobia ou qualquer outra forma de discriminação racial, cultural, política, religiosa, de gênero ou ainda outras. O problema, aponta Neiman em seu artigo, é que esta preocupação vem descambando para o que chama de uma forma de “histeria” que promove ou aceita qualquer tipo de denúncia, com ou sem fundamento, como motivo suficiente para cancelar atividades ou personalidades de iniciativas culturais.Artistas e intelectuais de origem judaica, além de outras e outros, têm se manifestado em favor do diálogo ao invés da exclusão. A ministra da Cultura alemã, Claudia Roth, também se manifestou em favor de uma maior tolerância, afirmando que a exclusão deva ser um último recurso, ao invés de algo liminar. Entretanto, o problema persiste, uma vez que curadores de arte e diretores de museus ou outras instituições culturais temem perder o apoio institucional caso alguma de suas atividades levante uma sombra de suspeita de antissemitismo.Problema também em outros paísesO problema não é só da Alemanha. Em novembro, o conhecido artista chinês Ai Wei Wei, que apoia as reivindicações dos palestinos, teve uma exposição em Londres cancelada porque seus patrocinadores consideraram que este não era “o momento oportuno” para fazê-la, diante de apreensões por ele formuladas sobre a situação dos palestinos na Faixa de Gaza. Disseram respeitar o artista, e que considerariam a conveniência de retomar a iniciativa em outra ocasião. Nos Estados Unidos, denúncias da deputada do Partido Republicano por Nova York Elise Stefanik, uma entusiasta apoiadora de Donald Trump, levaram à convocação pela Câmara de três presidentas de universidades norte-americanas, Harvard, Princeton e o MIT, Massachussets Institute of Technoogy.As três foram acusadas de não porem ênfase suficiente na condenação do eventual ou suposto antissemitismo em manifestações pró-palestinos entre seus estudantes. Em consequência, a presidenta da Universidade de Princeton, Elizabeth Magill, renunciou. A deputada republicana comemorou: “Uma já foi”. Há quem veja nisto o renascimento do macarthismo repressivo dos anos 50, de triste memória. 
12/11/20235 minutes, 40 seconds
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Disputa entre Venezuela e Guiana pelo Essequibo coloca Brasil em situação desconfortável

Segundo Caracas, mais de 95% dos eleitores apoiaram a proposta de criar a província venezuelana do Essequibo no referendo realizado neste domingo (3). A disputa territorial entre a Venezuela e a Guiana gera tensão na região e preocupa a comunidade internacional. O analista político da RFI, Thiago de Aragão, avalia que o litígio coloca o Brasil em uma situação desconfortável. Thiago de Aragão, analista políticoA América do Sul tem sido palco de uma disputa complexa entre a Venezuela e a Guiana, centrada em um referendo realizado neste domigno, que poderia resultar na anexação de territórios em disputa. No entanto, essa disputa ganhou uma nova dimensão com a decisão da Corte Internacional de Justiça (CIJ) de se opor ao referendo e a eventual anexação do Essequibo. Além disso, um importante ator internacional, a multinacional Exxon, desempenha um papel crucial nesse cenário.Enquanto o embaixador venezuelano, Carlos Amador Pérez Silva, enfatiza que a Venezuela não tem intenção de invadir a Guiana, as suspeitas de que membros do governo venezuelano estão envolvidos em atividades ilegais, como a exploração de ouro, levantam desconfiança sobre as ações da Venezuela na região. É essencial compreender o contexto interno da Venezuela para entender plenamente a situação.O governo de Nicolas Maduro enfrenta desafios crescentes, incluindo recursos financeiros cada vez mais escassos devido à falta de capacidade de gestão e altos níveis de corrupção. A economia está em colapso, o que leva a um desespero crescente para manter-se no poder.Nesse contexto, a ameaça de invasão à Guiana pode ser vista como uma cortina de fumaça para desviar a atenção da população venezuelana de seus problemas internos. Cogitar uma invasão é uma estratégia desesperada de um governo que luta para lidar com questões econômicas e políticas cada vez mais espinhosas.Capacidade militar: uma comparação desigualAo avaliar a capacidade militar da Venezuela em comparação com a Guiana, fica evidente que a Venezuela possui uma vantagem significativa. A Venezuela tem uma força militar muito maior e mais bem equipada, incluindo um exército consideravelmente maior em termos de pessoal e equipamento. Por outro lado, a Guiana possui uma força militar muito menor em termos de pessoal e equipamento. Sua capacidade de defesa é limitada em comparação com a Venezuela, tornando-a vulnerável a qualquer ameaça militar significativa.A Guiana tem cerca de 3.000 soldados equipados com veículos de combate, enquanto a Venezuela possui um contingente militar muito maior, com aproximadamente 123.000 militares distribuídos em várias ramificações.O exército venezuelano está equipado com uma variedade de veículos militares, incluindo 173 tanques de batalha principais (MBTs), como AMX-30V e T-72B1, bem como veículos de reconhecimento, veículos de combate de infantaria (IFVs) e veículos de transporte de pessoal blindados (APCs).Fator Internacional e a desesperança de MaduroDiante dessa disparidade na capacidade militar, é importante reconhecer que a Venezuela, se desejasse invadir a Guiana, teria a capacidade de fazê-lo. No entanto, o fato de a Venezuela alardear o referendo e a decisão da CIJ de rejeitar a organização da consulta popular indicam que uma invasão não é o caminho escolhido. A comunidade internacional desempenha um papel fundamental em desencorajar qualquer ação militar.Os Estados Unidos e outros países têm se manifestado contra qualquer agressão e em apoio à soberania da Guiana. Essa pressão internacional desempenha um papel significativo em manter a estabilidade na região.Além disso, o papel da Exxon, que é a maior exploradora de petróleo na Guiana, torna a situação ainda mais complexa. A multinacional americana possui seu maior investimento no mundo nesse país. Essa presença maciça da Exxon na Guiana é um fator que coloca ainda mais pressão sobre a Venezuela, por conta da importância estratégica da Guiana para os EUA.Situação delicada para o BrasilNo entanto, a situação também coloca o Brasil, sob o governo do presidente Lula, em uma posição desconfortável. O Brasil é um aliado de longa data de Nicolas Maduro, mas compreende que não há argumentação legítima por parte da Venezuela para realizar tal provocação contra a Guiana. O país se encontra em uma delicada encruzilhada, buscando equilibrar suas relações regionais enquanto defende os princípios de paz e resolução diplomática de disputas.À medida que essa disputa complexa se desenrola, é crucial manter um olhar crítico sobre a situação, lembrando que a desconfiança em relação ao governo venezuelano e suas verdadeiras intenções não pode ser ignorada. A Guiana, nossa vizinha na região, deve continuar a buscar soluções que garantam sua segurança e soberania, enquanto mantém a porta aberta para o diálogo e a diplomacia. A América do Sul enfrenta desafios complexos, mas a busca pela paz e pela resolução pacífica de disputas deve sempre prevalecer.
12/4/20234 minutes, 17 seconds
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Os traços em comum das vitórias da extrema direita na Holanda e na Argentina

A extrema direita europeia comemora duas vitórias seguidas. A primeira aconteceu além-mar: a de Javier Milei na distante Argentina. A segunda foi em casa: a vitória do Partido pela Liberdade, do radical Geert Wilders, na Holanda. Há traços em comum em ambas as vitórias. Flávio Aguiar, analista políticoA de Milei teve uma diferença de votos em relação a seu rival Sergio Massa, muito maior do que a prevista nas pesquisas de opinião que lhe eram favoráveis, havendo outras que davam a vitória ao adversário. A de Wilders surpreendeu mais ainda os institutos de pesquisa, pois estes o colocavam num modesto quarto lugar na fragmentada política holandesa, onde há uma miríade de partidos pequenos, médios e grandes.Qual o traço em comum?As extremas direitas desfrutam do que se pode chamar de um “voto escondido”, que só aparece no momento decisivo da eleição.Provavelmente entre os que se declaram “indecisos”, talvez também entre os que declaram a intenção de votar em branco ou de anular o voto. Há também a migração de parte do voto conservador nos partidos tradicionais, mais ainda para a direita. Outro traço em comum está no emprego de certas palavras-chave, como a de “mudança” ou de “desconfiança” em relação à política e políticos tradicionais.A extrema direita parece capitalizar, em momentos de profunda crise econômica, o descontentamento e a desilusão com a política e os políticos como um todo: é o chamado “voto no outsider”, ou “aquele que vem de fora do sistema”, o que não deixa de ser uma ilusão, pois os políticos que tiram vantagem deste estado de espírito em geral crescem dentro deste mesmo “sistema”.Tal foi o caso de Milei, cuja carreira política começou na mídia, mas enveredou pelo parlamento nacional em 2021.Wilders é um político veterano, dos mais antigos na política holandesa. No Brasil, o próprio Jair Bolsonaro desfrutou de anos como deputado no Congresso Nacional.DiferençasMas entre Milei e Wilders há também algumas diferenças notáveis. O primeiro radicalizou o quanto pôde suas declarações polêmicas durante a campanha presidencial, atacando ferozmente tudo e todos, inclusive os políticos conservadores que depois vieram a apoiá-lo no segundo turno, contra o candidato de centro-esquerda.Já Wilders, nesta campanha de 2023, digamos, “amaciou” seu discurso. Conhecido inimigo de imigrantes e refugiados, islamofóbico, defensor histórico de propostas como a de proibir mesquitas e o próprio Alcorão, o livro sagrado dos muçulmanos, começou a dizer que pretendia “governar para todos os holandeses”, independentemente de origem ou religião. A tal ponto chegou sua conversão a este novo perfil, que seus adversários chegaram a dizer que ele pretendia passar por uma “Madre Teresa” na política.Outra diferença significativa está na natureza da própria eleição. No sistema presidencialista argentino, Milei foi eleito diretamente chefe de Estado, embora seu partido seja absolutamente minoritário no parlamento, o que aponta para uma necessária negociação com as forças conservadoras tradicionais no país (se ele a fará é outro capítulo desta história).NacionalismosJá no fragmentado quadro político holandês, o partido de Wilders foi o mais votado, mas alcançou 37 cadeiras das 150 cadeiras da Câmara Baixa. Os partidos conservadores tradicionais mostram-se recalcitrantes em aceitá-lo como futuro primeiro-ministro, o que pode colocá-lo na difícil posição de “ganhar, mas não levar” no cômputo político definitivo.E tais processos e procedimentos na Holanda costumam ser muito complicados: a coalizão que ora deixa o poder levou quase um ano para ser negociada, e se desfez em poucas semanas, o que levou a esta eleição que favoreceu Wilders e seu partido radical. Seja como fôr, a eleição holandesa mostra a força crescente da extrema-direita numa Europa que enfrenta uma situação econômica muito difícil.Mesmo que não ganhe ou não leve, é ela que vem ditando a pauta política, brandindo a xenofobia, ou seja, a rejeição a estrangeiros, sejam refugiados ou imigrantes, a rejeição ao Islã e, com maior ou menor veemência, a desconfiança quanto à União Europeia. Aliás, durante sua campanha, Wilders anunciou que, caso chegasse ao governo, promoveria um plebiscito sobre a permanência da Holanda na União Europeia, o que mostra que os velhos nacionalismos estreitos, que devastaram o continente tantas vezes no passado, continuam na espreita.
11/27/20235 minutes, 5 seconds
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Os reflexos do encontro entre Biden e Xi Jinping para a eleição presidencial dos EUA em 2024

No cenário político atual, a reunião entre Joe Biden e Xi Jinping em São Francisco assume um papel crucial, especialmente considerando as próximas eleições presidenciais dos EUA em 2024. Este encontro, que ocorreu à margem da cúpula da Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (APEC), reuniu os líderes das duas maiores economias mundiais, abordando temas cruciais como comércio, tecnologia, direitos humanos e questões territoriais.  Thiago de Aragão, analista políticoEmbora não se esperasse grandes acordos ou anúncios, a ênfase foi dada na manutenção de linhas de comunicação abertas para evitar um clima de conflito aberto. Esse diálogo pode ser interpretado como uma tentativa de Biden de equilibrar a rivalidade competitiva com a China, mantendo uma postura firme, mas evitando o agravamento das tensões, especialmente em áreas sensíveis como Taiwan e o Mar do Sul da China. Para Biden, a gestão desta relação bilateral é crítica, considerando a aproximação das eleições presidenciais. A maneira como ele navega nesse relacionamento com a China pode influenciar significativamente a percepção do público americano sobre sua capacidade de lidar com desafios internacionais complexos. Um equilíbrio cuidadoso é necessário para evitar o agravamento das tensões, ao mesmo tempo em que defende os interesses americanos. Impacto na corrida eleitoral O encontro também teve um foco em questões de cooperação global, como a luta contra as alterações climáticas e o tráfico de fentanil. Esses temas são importantes tanto para a política interna quanto para a imagem internacional dos EUA, e podem servir como áreas de colaboração potencialmente benéfica para ambas as nações.No entanto, com as eleições presidenciais de Taiwan em 2024 e a possibilidade de um retorno de Donald Trump à Casa Branca, o ano promete ser repleto de incertezas. A abordagem de Biden em relação à China, especialmente nas questões de Taiwan e direitos humanos, pode ter implicações profundas na corrida eleitoral, possivelmente influenciando a escolha dos eleitores americanos.Em resumo, a reunião entre Biden e Xi em São Francisco, embora discreta em termos de resultados tangíveis, é um momento significativo na política externa dos EUA. As repercussões deste diálogo podem se estender até as eleições presidenciais de 2024, afetando a narrativa política e a percepção pública sobre a eficácia do governo Biden no cenário internacional.
11/20/20234 minutes, 25 seconds
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Na Europa, a extrema direita se aproxima de Israel

A guerra no Oriente Médio está provocando uma maior inclinação do eixo de grande parte da extrema direita europeia para o lado israelense do conflito. Flávio Aguiar, analista políticoO caso mais chamativo desta tendência é o da líder do Rassemblement National - Reunião Nacional - francês, Marine Le Pen. Em declarações à imprensa e no Parlamento Nacional ela manifestou seu apoio irrestrito à sobrevivência de Israel e o seu “direito à auto-defesa”.Jordan Bardella, o presidente do Partido, complementou: “Para muitos judeus franceses o Reunião Nacional representa um escudo contra a ideologia islamista”.Críticos da líder francesa veem neste seu movimento uma tentativa - que qualificam como “demagógica” - de apagar o passado antissemita do partido, quando se chamava “Frente Nacional” e era liderado por seu pai, Jean-Marie Le Pen, condenado em processos por minimizar o Holocausto.Apontam que ela está mirando a eleição presidencial de 2027, quando o atual presidente, Emmanuel Macron, não poderá concorrer, uma vez que a Constituição francesa proíbe o exercício de mais de dois mandatos presidenciais consecutivos. E lembram que de eleição em eleição os votos em Le Pen vem crescendo continuamente.Itália, Espanha e AlemanhaNa Itália, o líder do partido Lega, Matteo Salvini, igualmente de extrema direita, também se posicionou ao lado de Israel numa manifestação por ele convocada na cidade de Milão. Foi cauteloso ao afirmar que “o inimigo não é o Islã, mas o extremismo islamista”.Na Hungria não houve surpresas. O primeiro-ministro Viktor Orbán é um antigo aliado não só de Israel, mas da direita israelense, e um ardoroso defensor da “civilização europeia”. E não tardou em declarar que qualquer manifestação que apoiasse o “terrorismo do Hamas” seria proibida. Assim mesmo, destacou que deveria haver ajuda humanitária à população civil de Gaza.O caso mais contundente deste apoio de extrema direita a Israel veio do espanhol Vox, que se declara herdeiro do franquismo falangista e até dos Cavaleiros Templários da Idade Média. O secretário-geral do partido, Ignacio Garrido, acusou o governo socialista do primeiro-ministro Pedro Sánchez e  Yolanda Diaz, a líder do Sumar, uma coalizão de esquerda que apoia o governo, de supostamente “justificarem” os ataques do Hamas.O líder do Partido e deputado Santiago Abascal chegou a dizer que “se possível devia-se matar os terroristas antes que eles matassem inocentes”, numa tirada que lembra o filme “Minority Report”, em que potenciais criminosos eram “neutralizados” antes que cometessem seus supostos crimes.O Vox se comprometeu igualmente a apresentar um projeto de lei ao Parlamento proibindo a imigração proveniente de “países de cultura islâmica enquanto não se possa assegurar sua integração”, seja lá o que isto signifique.Na Alemanha a situação se apresentou de modo um pouco mais complexo. No Bundestag, o Parlamento Federal, o líder do AfD, Alternative für Deutschland, Alexander Gauland, declarou que “o ataque [do Hamas] não atingiu apenas Israel, ele nos atingiu também; Israel é o Ocidente numa vizinhança que rejeita e combate o Ocidente”.Já o presidente do partido, Tino Chrupalla, condenou o ataque, mas ressaltou que o momento é “para a diplomacia”. Outros membros do partido criticaram esta sua declaração, inclusive um grupo auto-intitulado “Judeus com o AfD”. Deve-se ressaltar que recentemente membros do partido foram acusados e processados como defensores, simultaneamente, de antissemitismo e de islamofobia.Posição semelhante de dirigentesUma observação: em grande parte, exageros retóricos à parte, estas posições de partidos de extrema direita na Europa não diferem substancialmente das posições de grande parte dos governantes europeus e autoridades da União Europeia, embora estes últimos ponham mais ênfase nas preocupações humanitárias em relação aos civis de Gaza. Entretanto, elas apontam para a busca de apoio mais amplo nos países onde aqueles partidos de extrema direita atuam.Por outro lado, atividades racistas, sejam antissemitas, islamofóbicas ou outras contam com a participação de um sem número de pequenas células clandestinas, cujo comportamento frequentemente violento será certamente reforçado pela circunstância da guerra.
11/13/20235 minutes, 17 seconds
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Pesquisa revela que idade de Biden pode influenciar o cenário político futuro dos EUA

Em meio aos novos dados de seis estados-chave de batalha, onde o atual presidente enfrenta desafios em quatro, torna-se essencial focar em um elemento que se destaca na última  pesquisa eleitoral realizada pelo The New York Times: a idade dos candidatos. Este fator crítico pode influenciar significativamente o cenário político futuro dos Estados Unidos, e levou David Axelrod, um destacado estrategista político democrata e ex-funcionário da Casa Branca, a fazer uma reflexão pública. Thiago de Aragão, analista políticoEntre os eleitores entrevistados, Trump lidera à frente de Biden em quatro dos seis estados estratégicos (Arizona, Geórgia, Nevada e Pensilvânia), empata em outro (Michigan) e perde de Biden em apenas um (Wisconsin). Em 2020, Trump perdeu em todos esses estados, mas agora suas vantagens nas pesquisas têm pelo menos 5 pontos percentuais, enquanto a vantagem de Biden em Wisconsin (2 pontos) está dentro da margem de erro da pesquisa.Esses números alarmantes levaram Axelrod a fazer uma ponderação pública no domingo (5). O democrata, mais conhecido por seu papel fundamental nas campanhas presidenciais de Barack Obama em 2008 e 2012, além de ter atuado como conselheiro sênior em sua administração, destacou que o presidente Joe Biden precisa ponderar cuidadosamente se deve prosseguir com sua candidatura à reeleição."Apenas @JoeBiden pode tomar essa decisão," escreveu Axelrod em sua conta no X (antigo Twitter). "Se continuar concorrendo, ele será o candidato do Partido Democrata. O que ele precisa decidir é se isso é prudente, se está em SEU melhor interesse ou no interesse do país?"Mais notório por ser a figura motriz por trás das campanhas presidenciais bem-sucedidas de Barack Obama e por ter ocupado uma posição de alto conselheiro em sua administração, Axelrod estava reagindo às novas pesquisas do jornal The New York Times que mostravam Biden enfrentando dificuldades em estados-chave na disputa eleitoral contra o ex-presidente Donald Trump. Axelrod apresentou esses números como uma avaliação realista da situação."É muito tarde para mudar de rumo," ele escreveu. "Muita coisa acontecerá no próximo ano que ninguém pode prever, e a equipe de Biden afirma que sua determinação em concorrer é firme", acrescentou."Ele já desafiou a sabedoria convencional antes," continua Axelrod, "mas isso gerará tremores de dúvida no partido — não é 'alarmismo', mas uma preocupação legítima."Idade virou tema central da campanhaA idade e as incertezas políticas são agora temas centrais à medida que as eleições de 2024 se aproximam, e a decisão de Biden terá um impacto significativo não apenas em sua trajetória pessoal, mas também no futuro político do país.Uma pergunta de grande relevância para as eleições de 2024 é: os eleitores estão dispostos a eleger um homem que terá 86 anos quando seu mandato terminar em janeiro de 2029? Um ano antes da votação, a resposta parece ser não. Sete em cada dez eleitores prováveis nos estados estratégicos concordam que Biden "é simplesmente velho demais para ser um presidente eficaz", enquanto apenas 28% discordam.Surpreendentemente, mesmo com apenas três anos a menos do que Biden, Trump é visto como um "jovem" em comparação ao rival. Somente 39% dizem que o principal candidato republicano "é simplesmente velho demais para ser um presidente eficaz," enquanto uma maioria de 58% discorda.
11/6/20234 minutes, 13 seconds
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A guerra entre Israel e o Hamas e o labirinto das palavras

Na sexta-feira, 27 de outubro, a Assembleia Geral da ONU aprovou uma resolução proposta pela Jordânia pedindo uma “trégua humanitária”, sustentável e incondicional, que permitisse o acesso da população da Faixa de Gaza à ajuda que lhe está sendo concedida por inúmeros países da cena internacional. Flávio Aguiar, analista políticoA resolução, que não é vinculatória ou coercitiva, foi aprovada por 120 votos a favor, 14 contrários, 45 abstenções e 14 ausências, dentre os 193 países membros da Assembleia Geral.Como de costume, o exame dos votantes é revelador sobre o cenário geopolítico. Além de Estados Unidos e Israel, votaram contra a resolução apenas Áustria, Hungria, República Tcheca, Croácia, Guatemala, Paraguai e mais seis pequenos países-ilhas ou arquipélagos do Oceano Pacífico.Dentre as abstenções, houve o voto de vários tradicionais aliados dos Estados Unidos, como Canadá, Reino Unido, Itália, Índia, Alemanha, Ucrânia, Japão, Coreia do Sul, Polônia e Austrália. A França votou a favor da resolução, bem como o Brasil. A resolução, aliás, retomava a proposta levada pelo Brasil para o Conselho de Segurança da ONU, que só não foi aprovada graças ao veto dos Estados Unidos. Embora não seja coercitiva, a resolução tem inegável peso político, evidenciando o isolamento dos Estados Unidos e de Israel no cenário geopolítico.Vocabulário do conflitoEm meio à guerra das propostas apresentadas sobre a questão, as poucas aprovadas e as muitas rejeitadas, destaca-se a dança nada alegre, por vezes macabra, das palavras em jogo. Por mais confusas que pareçam, elas obedecem a um vocabulário preciso, definido pela Organização das Nações Unidas. “Cessar-fogo” ou “trégua” implicam uma adesão acordada entre as partes em guerra, seja temporária ou permanente, em geral antecedendo uma solução negociada diplomaticamente para o conflito. Nem os Estados Unidos nem Israel aceitam tais termos, alegando que eles favorecem o Hamas e contrariam o “direito de Israel à autodefesa”.Já uma “pausa humanitária” implica a suspensão temporária de ataques para que algum tipo de socorro possa ser levado à população civil atingida. Ao contrário do “cessar-fogo” ou “trégua”, ela pode ser adotada unilateralmente por uma das partes do conflito. O mesmo acontece em relação a um “corredor humanitário”, como o que se pretende estabelecer a partir do Egito para socorrer a população civil de Gaza.Pode-se constatar a complexidade da questão lembrando que na semana passada uma reunião de cúpula da União Europeia demorou dois dias para chegar a uma resolução pedindo o estabelecimento de “pausas humanitárias” no bombardeio aéreo da Faixa de Gaza, pois este termo não seria contrário ao “direito de Israel à autodefesa” diante do ataque “terrorista” do Hamas.Este termo - “terrorista”  - é outro que entra na dança das palavras. O Hamas é considerado oficialmente como “terrorista” apenas por sete países (Austrália, Canadá, Israel, Japão, Paraguai, Reino Unido e Estados Unidos) além da União Europeia. Fica a pergunta se a adesão da UE à definição implica o seu reconhecimento automático por parte dos 27 países-membros.Em 2018, o governo dos Estados Unidos apresentou uma resolução ao Conselho de Segurança da ONU declarando o Hamas um grupo “terrorista”, mas ela teve um único voto a favor, o norte-americano. Igual tentativa fracassou na Assembleia Geral. Em parte, isto se deve à  complexidade do Hamas, que tem um braço político e social e outro militar - as Brigadas Izz-al-Din e Qassam - ambas atuando com grande independência.Mudança ?Talvez o ataque de 7 de outubro passado, inequivocamente um ato terrorista contra a população civil, venha a mudar esta situação. Mas é difícil. Os países árabes tendem a não aceitar uma resolução que defina aquela ação do Hamas como “terrorista” sem que igual classificação seja aplicada aos bombardeios de Israel na Faixa de Gaza.Enquanto prossegue a dança diplomática das palavras, também prossegue o martírio da população civil de parte a parte: até o domingo, 28 de outubro, os números oficiais ostentavam quase 8 mil palestinos mortos em Gaza, além de mais de uma centena na Cisjordânia ocupada por Israel, com cerca de 20 mil feridos, e 1.405 mortos em Israel, com 5.431 feridos. Uma grande parte destes números era de crianças e mulheres. E no baile das palavras permanecia barrada a palavra “paz”.
10/30/20235 minutes, 30 seconds
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Guerra entre Israel e Hamas pode impactar eleições presidenciais nos Estados Unidos

Com as crescentes tensões entre Israel e Hamas, uma pergunta é inevitável: como a guerra atual impactará as eleições presidenciais do próximo ano nos Estados Unidos?  Thiago de Aragão, analista políticoDe acordo com a recente pesquisa Econômica All-America da CNBC, o público americano quer que o governo dos Estados Unidos apoie mais Israel do que os palestinos e que haja forte apoio financeiro militar dos Estados Unidos para Israel. No entanto, uma porcentagem significativa quer que os EUA sejam imparciais no conflito.Esses resultados podem afetar negativamente o apoio do presidente Biden, que neste momento está em baixa, e abrir espaço para que o ex-presidente Donald Trump volte a disputar a presidência. Biden perderia para Trump por 4 pontos em uma possível disputa direta.Os dados da pesquisa indicam que 39% da população acredita que o governo dos EUA deve favorecer Israel nesse conflito com os palestinos, em comparação com 34% após a guerra de Gaza em 2014. Enquanto isso, 36% acreditam que os EUA devem tratar ambos os lados igualmente, em comparação com 53% em 2014.Dezenove por cento estão indecisos, número que aumentou 9% em relação a 2014, sugerindo que a situação ainda é incerta e que as ações de um dos lados ainda podem influenciar a opinião pública.Ajuda militarOs resultados da pesquisa também mostram que a maioria (74%) acredita que é importante que o governo dos EUA financie a ajuda militar a Israel. Esse número pode ser comparado aos 72% que dizem que é importante financiar a segurança na fronteira com o México, assim como a ajuda humanitária estrangeira.Uma maioria menor, mas ainda sólida (61%), responde que é importante financiar a ajuda militar à Ucrânia, em comparação com 52% que apoiam a ajuda militar e econômica a Taiwan.A pesquisa revela que o apoio a Israel em relação aos palestinos é impulsionado pelos republicanos, com 57% afirmando que o governo dos EUA deveria favorecer Israel, em comparação com apenas 29% dos democratas e 27% dos independentes. Em contrapartida, 44% dos democratas e 47% dos independentes querem que o governo trate ambos os lados da mesma maneira.Esses dados podem indicar um desafio para o partido do presidente Biden, uma vez que é improvável que a postura pró-Israel se torne menos importante para os eleitores, especialmente quando se trata de votos de republicanos.Além disso, há uma clara diferença de opiniões entre gerações nessa questão. Os eleitores democratas mais jovens demonstram mais interesse em serem imparciais, enquanto a faixa etária acima de 50 anos parece apoiar Israel em detrimento dos palestinos.Portanto, se a guerra atual continuar, o apoio a Israel pode se tornar um fator importante para os eleitores, e pode levar a uma mudança significativa nas eleições presidenciais de 2024 nos Estados Unidos. É necessário que os candidatos recordem a importância do diálogo e que sejam capazes de encontrar soluções para esse conflito.
10/23/20234 minutes, 54 seconds
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Guerra no Oriente Médio entre Israel e o Hamas divide a Europa

O primeiro efeito na Europa dessa nova fase da guerra no Oriente Médio, entre Israel e o a organização palestina Hamas, foi jogar a guerra na Ucrânia para segundo plano. Em seguida, o ataque terrorista do Hamas, deflagrado em 7 de outubro, e a retaliação como de costume duríssima por parte do governo israelense, provocou diferentes reações no continente europeu. Flávio Aguiar, analista políticoTodos os governos da Europa se solidarizaram com Israel e condenaram o Hamas. Mas houve nuances na reação geral.A Dinamarca e a Suécia logo anunciaram a suspensão temporária da ajuda financeira aos palestinos para uma “revisão de seus programas”. Já as autoridades da União Europeia e de outros países decidiram que não interromperiam a ajuda, feita através de organismos da ONU e de organizações como a Autoridade Palestina.Nas ruas das cidades europeias, no entanto, a situação é bem distinta. As manifestações de apoio ao povo palestino e às suas reivindicações se multiplicaram em todo o continente. Muitos destes protestos envolveram um apoio à ação do Hamas.As manifestações pró-palestinos foram proibidas em quase todo o continente, decorrendo daí confrontos com a polícia e prisões de manifestantes.Segurança reforçadaAs medidas de segurança foram reforçadas em toda a Europa. Houve pelo menos um atentado fatal na França e uma ameaça de bomba levou ao fechamento do Museu do Louvre, em Paris.Há um temor generalizado de que esta nova fase da guerra fortaleça o recrudescimento de manifestações antissemitas.Na mídia, a reação inicial também se concentrou no repúdio à violência desencadeada pelo Hamas em território israelense.Nos últimos dias, no entanto, cresceram as manifestações de pesar e temor diante da situação dos palestinos na Faixa de Gaza, que enfrentam os contínuos bombardeios aéreos por parte de Israel que atingiram inclusive hospitais e outras instalações civis.O temor aumenta diante da expectativa de uma intervenção terrestre do Exército israelense, o que pioraria muito as já deterioradas condições de vida em Gaza, com o suprimento de água, eletricidade e alimentos cortado pelo governo de Tel Aviv.Na Faixa de Gaza, espremida entre sua fronteira com Israel ao norte e a leste (51 km), o Mar Mediterrâneo a oeste e uma nesga de fronteira com o Egito ao sul (11 km), vivem 2,3 milhões de palestinos.Em termos de comparação, o Distrito Federal Brasileiro tem um pouco mais de habitantes, 2,6 milhões. Mas a Faixa de Gaza tem 365 km2, enquanto o DF é mais de 15 vezes maior, com 5,8 mil km2.Guerra de narrativasA guerra no campo de batalha desencadeou, é claro, uma guerra de narrativas sobre ela. As autoridades da União Europeia advertiram as plataformas na internet, em particular o X (ex-Twitter) de Elon Musk, sobre a profusão de fake news que utilizam, muitas vezes, imagens de conflitos antigos para reforçar as denúncias sobre atrocidades cometidas por ambos os lados no presente.Por hora, há uma série de incógnitas e fios soltos nas narrativas apresentadas.Qual será o destino de Gaza, depois da ação do governo israelense, que poderá destruir o território?Qual será a situação do Hamas?E qual o futuro do próprio governo de Israel, apontado como o mais direitista da história do país? Partidários afirmam que ele sairá reforçado. Vozes mais críticas dizem que ele sairá fragilizado, acusado de negligência diante do perigo que se armava nas catacumbas de Gaza.Como ficarão as relações de Israel, da Autoridade Palestina e de outros grupos palestinos com os países árabes e outros países da cena internacional?Entre tantos fios soltos, um está certamente firme no tecido atual: por enquanto, a paz não tem a menor chance na região.
10/16/20234 minutes, 41 seconds
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Conflito entre Israel e Gaza pode trazer turbulência econômica em região crucial para o petróleo

O recente conflito entre Israel e os militantes palestinos do Hamas tem suscitado preocupações sobre o seu possível impacto nos mercados petrolíferos globais. No entanto, especialistas do setor energético sugerem que as repercussões podem ser limitadas, a menos que o conflito se intensifique ainda mais. Thiago de Aragão, analista políticoIsrael e a Palestina não são tradicionalmente reconhecidos como grandes atores na indústria petrolífera, mas a região onde o conflito está ocorrendo é de importância crítica para a produção de petróleo. Isso gera temores de que o conflito possa ter consequências mais amplas nos mercados petrolíferos mundiais. Especialistas em Nova York afirmaram que poderíamos testemunhar um "aumento instintivo" nos preços do petróleo quando os mercados abrissem na segunda-feira (9), o que realmente ocorreu. Esse aumento pode ser uma reação imediata à incerteza causada pelo conflito em curso. No entanto, os especialistas destacam a importância de avaliar a evolução da situação, uma vez que o verdadeiro impacto dependerá, em grande parte, da duração e intensidade do conflito.A situação econômica em Israel sofre um golpe severo com os ataques do Hamas. De acordo com relatos de Wall Street, os preços das ações de empresas israelenses registraram uma queda significativa, e muitas empresas tiveram que fechar as portas no dia seguinte ao assalto. Isso destaca a vulnerabilidade econômica do país diante de eventos desse tipo. Um elemento-chave a ser considerado é o potencial para uma escalada do conflito, já que a região onde ocorre é crucial para o transporte e produção de petróleo. Um agravamento adicional da situação poderia desestabilizá-la, com consequências imprevisíveis para os mercados petrolíferos globais. Além disso, o bloqueio do Estreito de Hormuz por navios iranianos é uma preocupação significativa. Isso poderia impedir a saída de quase 25% do petróleo consumido globalmente por dia, colocando o Irã no epicentro desse conflito entre Israel e o Hamas e elevando significativamente os riscos na região. Irã alvo de IsraelO Irã é tido como um dos principais financiadores do Hamas. Isso aumenta a preocupação de que a curto ou médio prazo, o país possa se tornar um alvo de ataques israelenses. Qualquer ação militar no Golfo Pérsico poderia desencadear uma escalada nas tensões e afetar o fornecimento global de petróleo, levando a aumentos de preços e instabilidade nos mercados.A presença dos Estados Unidos, que enviaram um porta-aviões ao Mediterrâneo e vários caças para colaborar com os israelenses, pior a quadro. Em resumo, enquanto os especialistas em Nova York observam um aumento imediato nos preços do petróleo em resposta ao conflito Israel-Hamas, é importante ter em mente que o impacto real nos mercados petrolíferos globais dependerá da duração e intensidade do conflito.A possibilidade de consequências no Irã e a presença dos Estados Unidos na região acrescentam uma dimensão adicional à complexidade dessa situação, que exige monitoramento atento à medida que se desenrola. A estabilidade no Golfo Pérsico é fundamental para a segurança do fornecimento de petróleo em escala global, e o mundo está observando com apreensão os acontecimentos na região.
10/9/20234 minutes, 35 seconds
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O direito ao aborto na Europa e a polêmica brasileira

No dia 22 de setembro, pouco antes de se aposentar, a ministra Rosa Weber, do Supremo Tribunal Federal brasileiro, inaugurou a votação sobre o processo de descriminalização do aborto nas 12 primeiras semanas da gravidez. O voto da ministra, que era a relatora do processo, foi positivo. A votação será retomada presencialmente em data ainda a ser fixada. Flávio Aguiar, analista políticoO tema é polêmico, envolvendo aspectos de saúde pública, éticos, religiosos, jurídicos, penais e last, but not least, de direitos humanos, no caso do direito das mulheres ao controle sobre seu próprio corpo, conforme as defensoras e os defensores da descriminalização, ou do direito do feto à vida desde a concepção, conforme as opositoras e os opositores.O tema do aborto se implantou de vez no Brasil, curiosamente dentro e fora do país. Na semana passada o filme brasileiro Levante, de Lilah Halla, ganhou o primeiro prêmio da categoria ficção no Festival de Cinema Latino-Americano em Biarritz, na França. A protagonista do filme é uma jogadora de vôlei que, às vésperas de um jogo decisivo para sua carreira, descobre que está grávida e deseja interromper a gravidez. O filme já merecera menção de melhor filme de estreia na mostra paralela do Festival de Cannes, também na França. E no começo do ano o filme Infantaria, de Laís Santos Araújo, que também aborda o tema do aborto, ganhara o Prêmio Especial do Júri na seção Generation 14Plus, na Berlinale, o Festival Internacional de Cinema de Berlim.Na maioria dos países europeus o aborto mediante pedido da mulher grávida é descriminalizado. Encontram-se neste caso países tão diferentes em matéria de tradições culturais, políticas e religiosas como a Itália e a Rússia, a França e a Turquia, a Irlanda e a Suécia, Portugal e Hungria, Espanha e Ucrânia, para citar alguns exemplos. Em alguns casos a liberalização da prática do aborto foi muito precoce, como na extinta União Soviética e também em vários países que pertenciam ao finado Pacto de Varsóvia, do antigo Leste geopolítico da Europa. Em geral o prazo da permissão varia entre 10 e 14 semanas de gravidez. Na maioria dos países o prazo é de 12 semanas. Mas há exceções: na Islândia o prazo é de 22 semanas, e na Holanda, 24.A Finlândia e o Reino Unido são considerados países onde há leves restrições ao aborto, embora neste último país seja permitido requerer um aborto até as 24 semanas de gravidez, Já a Polônia, Liechtenstein, Mônaco e San Marino são considerados países onde as restrições são muito severas, como no Brasil, onde o aborto só é admitido em casos de estupro, risco de vida da mãe e anencefalia do feto. Em San Marino um plebiscito recente aprovou a descriminalização, mas a matéria ainda deve ser regulada em lei.Em Malta e Andorra o aborto é proibido. Um caso curioso é o da Dinamarca, país considerado liberal na matéria. Entretanto nas Ilhas Faroe, sob sua jurisdição, o direito ao aborto ainda é restrito por limitações muito severas.Organizações não-governamentais assinalam que a descriminalização ou legalização do aborto é uma coisa; mas a garantia de acesso é inteiramente outra.  Apontam como exemplo o caso da Itália, onde a maioria dos médicos se recusa a fazer abortos, alegando motivos éticos ou religiosos. Sublinham ainda que o custo da operação pode ser muito alto, como no caso das clínicas particulares na Hungria. Por fim, defendem que a regulamentação do aborto deixe de ser feita dentro do Código Penal e passe definitivamente integrar o capítulo dedicado à Saúde Pública ou o dedicado a Direitos Humanos. Motivo: mesmo onde seja apenas descriminalizado, o aborto continua sendo uma prática ilegal. Só que a paciente e quem faça o aborto não serão punidos, mas “perdoados”.O dia 28 de setembro é considerado mundialmente como o Dia Internacional pelo Aborto Seguro. Faz muito tempo que a data integra as mobilizações em favor da descriminalização do aborto na América Latina. A partir de 2011 a Rede Internacional de Mulheres pelos Direitos de Reprodução decidiu que a data deveria ser adotada mundialmente. A escolha do dia 28 de setembro se deu para comemorar a data em que, no ano de 1871, o Parlamento do então Império do Brasil aprovou a Lei do Ventre Livre, que declarava libertos os filhos de escravas.E foi no dia 28 de setembro que a ministra Rosa Weber pediu sua aposentadoria da presidência e do seu cargo de ministra do Supremo Tribunal Federal, seis dias após declarar seu voto histórico pela descriminalização do aborto até as 12 semanas de gravidez.
10/2/20235 minutes, 37 seconds
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A surpreendente crise da economia alemã seria a nova vilã da Europa?

Durante décadas a Alemanha foi a cereja do bolo na economia europeia. Seus pilares eram uma grande estabilidade monetária com um mínimo de inflação, um sistema de transporte muito eficiente, um padrão de consumo interno alto e estável, uma pauta de exportações e importações de alto padrão e ainda um equilíbrio político considerado inabalável, com a alternância ou combinação entre social-democratas, verdes e as uniões cristãs, a social da Baviera e a democrata do resto do país. Flávio Aguiar, analista políticoCom tais predicados, o governo de Berlim se tornou o fiel da balança da União Europeia e do continente como um todo, exercendo uma parceria sobretudo com Paris. Ao mesmo tempo, se revelou o carro-chefe da economia continental, graças à sua variada pauta de importações e exportações.Dos dez países que mais importam da Alemanha, oito são europeus - os outros dois são a China e os Estados Unidos. O mesmo se aplica às exportações. A economia continental europeia está presa à alemã como um comboio em uma locomotiva. Ou um peixe no anzol?De repente, não mais que de repente, este belo edifício mostrou rachaduras nos alicerces, e hoje ameaça ruir, arrastando o continente inteiro. A inflação subiu meteoricamente, de quase 0% para cerca de 10% ao ano, em média, com alta de 20% no setor de alimentos, e de 40% do na energia. A demanda interna caiu, a externa balançou perigosamente com as oscilações da economia chinesa e a pressão protecionista dos Estados Unidos.A indústria alemã, setor estratégico das exportações e importações, sobretudo de veículos, auto-peças e acessórios, de produtos farmacêuticos, artefatos elétricos, aviões e helicópteros, além de outros, entrou em depressão. No começo de 2023, o FMI previu uma retração de 0,1% na economia do país. Depois aumentou a cariação para 0,2%, e agora a estimativa está em 0,4% negativo.Como assim? O que aconteceu? As respostas são várias e variadas, mas há alguns pontos de convergência.Alimentação e energiaEm geral, as consequências da guerra na Ucrânia são apontadas como o principal fator inflacionário, sobretudo nos setores já em destaque: alimentação e energia. Com a redução das importações de grãos e óleos da Ucrânia, o preço de produtos agrícolas foi para as nuvens.A indústria alemã também dependia fortemente das importações de gás russo, e, com as sanções econômicas impostas ao país, Moscou apertou a torneira do fornecimento. Além disso, os gasodutos que ligavam os dois países sofreram atentados até hoje sem explicação oficial. As previsões parecem ter subestimado as consequências do incidente, e o efeito imediato sobre a indústria alemã foi muito pesado.Há outros fatores menos evidentes entre as raízes da crise. A pandemia atingiu duramente o comércio, provocando o fechamento a princípio de pequenas lojas e logo depois também de alguns grandes estabelecimentos, em função inclusive do aumento exponencial de compras pela internet, que permanecem em alta. As reformas de inspiração neoliberal implementadas no começo do século, com o aperto nos investimentos sociais e a compressão das aposentadorias, começam a cobrar seu preço, diante de uma população cujo envelhecimento cresce a olhos vistos.Extrema direitaPara completar este quadro sombrio, as intenções de voto no partido Alternative für Deutschland, AfD, de extrema direita, anti-União Europeia, ameaçador para imigrantes e refugiados, crescem assustadoramente, sobretudo nos estados da antiga Alemanha Oriental e entre os jovens, região e faixa etária mais duramente atingidos pelo desemprego e pela queda do poder aquisitivo.O AfD está em segundo lugar nas pesquisas, atrás apenas da democrata CDU, que, pressionada pela deserção de eleitores, vem tornando seu programa cada vez mais conservador. Não há risco imediato para as instituições democráticas da Alemanha, mas já há coriscos e trovoadas na linha do horizonte.As previsões e declarações mais otimistas arrefeceram. A guerra se prolonga, e a recessão alemã veio para ficar, afetando o continente inteiro. A questão mais relevante hoje é o quanto esta crise vai durar. E até o momento nenhuma bola de cristal de economista, de político, jornalista, banqueiro, agente financeiro, sindicalista, etc., arrisca seu pescoço em uma previsão.
9/18/20235 minutes, 17 seconds
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Biden consolida influência americana na Ásia na cúpula do G20

O panorama geopolítico do Ásia-Pacífico tem sido palco de intensas movimentações estratégicas por parte dos Estados Unidos. Durante a recente cúpula do G20 na Índia, o presidente norte-americano, Joe Biden, posicionou-se como um contraponto à crescente influência da República Popular da China.  Thiago de Aragão, analista políticoA aproximação dos EUA com o Ásia-Pacífico não é um fenômeno recente. Foi inicialmente evidenciada com a política de “Pivô para a Ásia”, em 2012, sob a administração de Barack Obama. A ênfase nessa região foi continuada por Donald Trump, que adotou a perspectiva de um “Indo-pacífico livre e aberto”, atribuindo à Índia um papel estratégico significativo. Embora o presidente Biden siga os passos de seus antecessores, ele se destaca por sua proatividade notável. Sua atuação é marcada pela participação direta em eventos significativos na Ásia e pelo fortalecimento de alianças regionais, refletindo um compromisso renovado dos EUA com a região.Estratégias de Biden na ÁsiaNa ausência de representantes chineses e russos na cúpula do G20, Biden aproveitou para consolidar importantes alianças, dando ênfase à coalizão Aukus e revitalizando a Quad. Seu objetivo primordial é ampliar a influência americana na Ásia, apresentando-se como alternativa ao projeto chinês da Rota da Seda. Esta estratégia envolve acordos que abrangem setores vitais, como ferrovias, portos e conexões energéticas.Visitas Diplomáticas e AliançasA dedicação de Biden à Ásia é evidente em suas viagens diplomáticas. Em maio de 2021, ele se encontrou com líderes aliados, como aqueles da Coreia do Sul e Japão. No ano seguinte, participou da Cúpula da ASEAN no Camboja e do G20 na Indonésia, reforçando o compromisso dos EUA com a região.No contexto de segurança, Biden tem dado prioridade às coalizões denominadas “minilaterais”. Caracterizadas por sua flexibilidade, essas coalizões têm objetivos estratégicos bem definidos. O Aukus, formado em 2021 entre Austrália, Reino Unido e EUA, destaca-se nesta categoria, resultando em iniciativas como o fornecimento de submarinos nucleares à Austrália. Além disso, Biden revitalizou a Quad e promoveu um acordo trilateral de segurança com Coreia do Sul, Japão e Estados Unidos, solidificando ainda mais a rede de alianças norte-americanas na região.Em resumo, a estratégia de Biden no Ásia-Pacífico reflete um compromisso profundo e renovado dos Estados Unidos com a região, buscando equilibrar o poder e influência em um cenário geopolítico em constante evolução.
9/11/20234 minutes, 34 seconds
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Alta de 100% do preço do azeite espelha "mudanças dramáticas" na Europa

O aumento estratosférico do preço do azeite de oliva nos supermercados é global. Na Europa, o produto subiu 100%, impactando a economia de três grandes produtores europeus: Espanha, Itália e Grécia. A inflação não é a única responsável pela alta dos preços. Flávio Aguiar, analista políticoRecentemente, a imprensa relatava que muitos consumidores brasileiros estão espantados diante do aumento estratosférico do preço do azeite de oliva nos supermercados. Na Europa ocorre o mesmo espanto, num momento em que a espiral inflacionária corrói o poder aquisitivo dos consumidores em todos os países, notadamente o daqueles do andar de baixo da pirâmide social.Se ultimamente a inflação dos alimentos passou dos 20% anuais na maioria dos países europeus, a do azeite de oliva foi superior aos 100%.O impacto dessa alta na economia, e mesmo na culinária global, é pequeno. O azeite é responsável por apenas 2% do consumo de óleos comestíveis em escala mundial. A fatia maior fica com seus primos, os óleos de soja, canola, milho e girassol.Entretanto, o peso do produto na economia dos três maiores produtores e exportadores do azeite é enorme. Espanha, Itália e Grécia são responsáveis por 66% da produção mundial. Além disto, é um elemento fundamental da economia de Portugal. "Ouro líquido"Na maior produtora, a Espanha, se diz  que a região da Andaluzia está para o azeite assim como a Arábia Saudita está para o petróleo. Aliás, algum tempo atrás o litro do azeite valia em média cinco vezes o litro do petróleo; agora vale dez vezes. Na Espanha é chamado de “ouro líquido”.Qual a principal causa deste aumento vertiginoso? Produtores, técnicos e economistas são unânimes: a escassez do produto, determinada pelas prolongadas secas dos últimos tórridos verões que assolam o continente europeu. Por trás de tudo, assoma o fantasma do aquecimento global.Em um ano, entre 2022 e 2023, a produção de azeite caiu 20% na Europa. Os fornecedores se voltaram para produtores alternativos, como Turquia, Tunísia, Marrocos e Argélia. Mas a queda da produção e a escassez do produto impuseram limites mais rígidos às exportações destes países, em alguns casos chegando à proibição.Se a participação do azeite de oliva na economia global e europeia é menor, o mesmo não se pode dizer de seu valor simbólico e cultural, intimamente associado à história e a civilização do continente, embora sua fonte originária seja na Ásia Menor, mais precisamente na Anatólia, cujo território pertence hoje maioritariamente à Turquia, e também na Pérsia e na Mesopotâmia.O azeite de oliva foi largamente utilizado na Grécia e na Roma antigas, na cozinha, no tratamento do corpo e até na iluminação. Seu uso em rituais religiosos remonta a milênios antes de Cristo e foi potenciado pelo judaísmo e o cristianismo.Hoje, além de ser utilizado em produtos cosméticos, é parte essencial da chamada “Dieta Mediterrânea”, considerada a mais saudável da Europa, rica em legumes, verduras e peixes, num continente onde é frequente o abuso de gorduras, carnes vermelhas e embutidos.Mudanças dramáticasO caso do azeite faz parte da série de mudanças dramáticas que atingem hábitos, costumes e a paisagem física e cultural da Europa.Um outro exemplo: no verão europeu, ouvem-se cada vez mais crianças dizendo às mamães que não querem "ficar em casa”. Por quê? Porque em grande parte da Europa as casas e os prédios foram feitos para guardar, ao invés de dissipar o calor. Resultado: na onda de calor geral, as moradias se transformam em verdadeiras saunas de grande porte.Uma outra área onde as mudanças são perceptíveis no continente é a política. A já citada Andaluzia espanhola sempre foi considerada como um reduto da centro-esquerda, do Partido Socialista Obreiro da Espanha. Os últimos resultados eleitorais registraram a queda da sigla, em favor dos partidos de direita, o Partido Popular e o Vox, este último autoproclamado herdeiro da tradição falangista e ditatorial de Francisco Franco.
9/4/20234 minutes, 22 seconds
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Ron DeSantis acumula erros nas primárias republicanas e vira meme nos EUA

Ron DeSantis, governador da Flórida e candidato presidencial pelo Partido Republicano americano, é um exemplo para todos que desejam entender como não se deve gerir uma campanha presidencial. Não se trata apenas de um candidato com um desempenho abaixo do esperado. No caso de DeSantis, chega a ser patética sua postura em relação a inúmeros temas de alta importância para os americanos.  Thiago de Aragão, analista políticoO lançamento oficial da campanha de DeSantis, em maio, pelo Twitter, foi recheado de falhas técnicas, a ponto de ninguém conseguir ver ou ouvir nada do que estava sendo falado. Comparado com o lançamento de outras campanhas presidenciais, a dele ficou registrada como uma das piores. No entanto, o pior ainda estava por vir. DeSantis lançou um novo programa escolar para as escolas da Flórida, que entre muitas coisas, ensinava que os negros americanos ”se beneficiaram da escravidão, pois aprenderam inúmeros talentos diferentes”. Isso levou a uma queda considerável no número de doadores para a campanha do republicano. Em um dos vídeos de campanha, desta vez com foco contra homossexuais, DeSantis aparece soltando raios laser pelos olhos contra homens musculosos e sem camisa. Além de patético, o vídeo foi criticado por inúmeros republicanos, tanto na Flórida como em outros estados americanos.Ações controversas e postura ineficazRon DeSantis demonstra claramente a sua incapacidade para a liderança presidencial com suas ações controversas e postura ineficaz. O desrespeito manifestado por ele em relação a importantes questões sociais e raciais, como evidenciado pelo conteúdo inaceitável do seu programa escolar, aliena um amplo espectro de potenciais eleitores e prejudica a sua reputação perante o eleitorado.Além disso, a gestão ruim, desde as falhas técnicas no lançamento até a criação de vídeos ofensivos, indica uma falta de competência para gerir campanhas eficazes. Essas falhas, aliadas a uma postura que muitos consideram insultuosa e desrespeitosa, tornam DeSantis um candidato presidencial inviável.Donald Trump, provável nome dos republicanos nas eleições presidenciais americanas de 2024, segue como uma liderança quase incontestável dentro do partido. DeSantis acreditou que, devido ao fato de Trump ser perdoado pelos republicanos a cada fala desastrada ou comportamento reprovável, teria o mesmo tratamento.Vários candidatos republicanos, como Nikki Haley, por exemplo, tentam manter um comportamento ao menos normal em suas propostas e posicionamentos, na esperança de que, caso Trump derrote Joe Biden (o provável candidato democrata), um cargo interessante possa cair em seu colo. Antimanual de campanhaNo caso de DeSantis, cada bobagem dita (que choca até os republicanos) diminui consideravelmente a possibilidade dele ser um integrante chave no gabinete de Trump, caso esse eleito. Enquanto Trump é tratado como folclórico pelos seus adoradores, DeSantis gera um desconforto profundo. O seu comportamento pessoal tem se tornado meme e tem sido alvo de críticas constantes.Em suma, a campanha de Ron DeSantis para a presidência é um verdadeiro manual de como não conduzir uma corrida eleitoral. Ao invés de utilizar sua plataforma para promover políticas produtivas e coesas, DeSantis optou por abordar questões sociais de maneira controversa e ofensiva, alienando potenciais apoiadores e manchando sua reputação.Portanto, a menos que haja uma mudança significativa em sua abordagem, é improvável que ele seja considerado uma opção viável para a presidência.
8/28/20235 minutes
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Análise: a difícil devolução de peças espoliadas em guerras e invasões aos países de origem

O recém-empossado presidente do Paraguai, Santiago Peña, pretende retomar com o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, as negociações para que se devolvam ao seu país troféus tomados durante a guerra no século XIX. O pedido envolve centenas de armas, bandeiras, estandartes, o arquivo militar e objetos pessoais do presidente paraguaio Solano Lopez. Flávio Aguiar, analista políticoNo passado já houve a devolução de alguns objetos tanto por parte do governo brasileiro quanto por parte dos governos do Uruguai e da Argentina, países que também participaram da guerra contra o Paraguai, devastado por ela.A peça mais importante do pedido que agora será reencaminhado é um canhão chamado de “El Cristiano”, que hoje está no pátio do Museu Histórico Nacional, no Rio de Janeiro. Ele tem este nome porque foi confeccionado com o bronze derretido de sinos das antigas missões jesuíticas no Paraguai.Esse tipo de devolução de objetos tomados por países, no mais das vezes conquistadores, de países no mais das vezes conquistados, vem se tornando cada vez mais comum, sobretudo na Europa.Na Alemanha, há a já veterana devolução de objetos artísticos tomados ou comprados a preço vil por oficiais e líderes nazistas de famílias judias assassinadas ou em fuga.Recentemente foram assinados protocolos de devolução de objetos daquele tipo por parte da Alemanha e da França à Nigéria e também à República dos Camarões, na África.A Alemanha se prepara para devolver ao Brasil um fóssil de dinossauro contrabandeado do Ceará. A França vai fazer o mesmo, devolvendo 611 objetos indígenas levados ilegalmente do Brasil.Nem sempre essas devoluções são tranquilas. Há quem alegue que esses países do antigo Terceiro Mundo não têm condições objetivas de salvaguardar tais objetos. Outros alegam que muitos deles foram comprados em transações legais e legítimas.Também se deve olhar com cautela a generosidade das devoluções. A Dinamarca vai devolver um manto sagrado dos tupinambá para o Brasil, que possui desde o século XVI ou XVII. Ótimo. Mas é um dos cinco que possui. Só há dez exemplares dessa peça notável no mundo. Todas estão na Europa, onde vão permanecer.Dos poemas de HomeroO caso mais espetacular nessa matéria é o do chamado “Tesouro de Príamo”, que o arqueólogo alemão Heinrich Schliemann trouxe do que ele supunha ser a Troia dos poemas de Homero para Berlim, ao final do século XIX. Consta de inúmeras joias e outros objetos de valor que Schliemann pensava que pertenceram ao rei Príamo da legendária cidade tomada pelos gregos nos poemas de Homero.Críticos de Schliemann dizem que ele, usando pás e escavadeiras onde hoje os arqueólogos usam colherzinhas de chá e escovas de dente, mais destruiu do que achou. Dizem que ele conseguiu o que nem os piratas gregos conseguiram no poema de Homero: arrasar Troia de vez.Acontece que aqueles eram os métodos usados pela arqueologia do tempo, não apenas por Schliemann. Interessava conseguir o máximo num mínimo de tempo, e de gastos.De todo modo, acontece que Schliemann não era apenas um arqueólogo inexperiente. Era também um historiador ingênuo. Encarava os míticos poemas de Homero como se fossem modernos guias de viagem, tomando-os ao pé da letra.No fim da Segunda Guerra, os soviéticos levaram na surdina o “Tesouro de Príamo” para a Rússia. Durante décadas ele foi dado por perdido, até que em 1994 o Museu Pushkin, em Moscou, admitiu que o possuía.A Alemanha quer o espólio de volta. A Rússia se nega a entregá-lo, alegando que é uma compensação pelos danos praticados pelos nazistas em seu território.Mas… mais gente entrou na história. A Grécia alega que parte dos objetos do “Tesouro” foram obtidos na ilha de Micenas, não em Troia. A Turquia alega que a maior parte das escavações de Schliemann aconteceram em seu território. Até os descendentes do diplomata britânico Frank Calvert, que mostrou o sítio escavado ao arqueólogo amador, alegam que uma parte do espólio foi obtido numa antiga fazenda dele.Segundo a lenda, a guerra de Troia durou dez anos. A controvérsia jurídica em torno do “Tesouro” pode durar décadas ou centenas de anos.Voltando ao caso do canhão “El Cristiano”, melhor de fato seria devolvê-lo. A manutenção desses “troféus de guerra” ajuda a naturalizar a violência dos conflitos. Se fosse tecnicamente possível, o melhor mesmo seria refundi-lo a fim de reconstruir os sinos das antigas missões, que foram destruídos para que uma arma de guerra viesse a existir.
8/21/20234 minutes, 45 seconds
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Eleições nos EUA: anúncio oficial da candidatura de Biden será feito esse mês

A eleição presidencial de 2020 começou com um número histórico de candidatos concorrendo ao cargo, o que pode se repetir em 2024. Até agora, os republicanos que anunciaram suas candidaturas para presidente superam os democratas por 12 a 3. O presidente em exercício Joe Biden anunciou sua candidatura para a eleição de 2024 no final de abril, juntamente com Robert F. Kennedy Jr. e Marianne Williamson como os atuais candidatos democratas. Thiago de Aragão, analista políticoO partido Democrata vai selecionar oficialmente seu candidato presidencial em agosto de 2024 na Convenção Nacional em Chicago, Illinois. A eleição é prevista para ser mais uma batalha entre o ex-presidente Donald Trump e o presidente Joe Biden.Avaliação de campanhaA equipe de campanha de Biden tem ignorado as médias recentes de pesquisas baixas, notando semelhanças com os resultados antes das eleições de meio de mandato de 2022, nas quais o Partido Democrata se saiu bem. Embora as avaliações de aprovação do presidente Biden ainda sejam mais altas do que as de Donald Trump, o restante de seu mandato e outros fatores relacionados à confiança do eleitorado podem representar desafios para sua campanha. Os números mais recentes sugerem que o presidente Biden está enfrentando uma taxa de desaprovação de quase 55%.Pesquisas recentes conduzidas pela Emerson College com eleitores de Michigan, indicaram que o presidente Biden e Donald Trump possuem uma taxa de aprovação de 44% cada, e uma pesquisa conduzida pela Marquette Law School mostrou eleitores de Wisconsin divididos 50-50 entre os dois candidatos. Por outro lado, uma pesquisa conduzida pela Quinnipiac University com moradores da Pensilvânia destacou eleitores inclinados a Donald Trump com 47-46 sobre Biden.Agenda de campanhaO presidente Biden ainda não ofereceu detalhes concretos sobre sua agenda de campanha em 2024. No entanto, o sucesso em sua agenda "Build Back Better" com a aprovação de uma lei de infraestrutura bipartidária, clima e contas de saúde provavelmente estará na vanguarda de sua estratégia de campanha.A campanha de Biden também deve destacar os aspectos negativos das posturas de política de seus concorrentes republicanos em várias questões, como aborto e controle de armas. Os estados do cinturão da ferrugem, como Michigan, Wisconsin e Pensilvânia, foram cruciais para a vitória de Biden na eleição de 2020. O presidente teve sucesso em virar cada um desses estados, que foram anteriormente ganhos por Donald Trump em 2016, apesar de ser uma batalha eleitoral acirrada.Sua campanha e o Comitê Nacional Democrata já começaram a prestar atenção específica a esses estados, bem como ao estado de residência de Trump, a Flórida. Além disso, uma proposta recentemente derrubada em Ohio, tipicamente republicana, para restringir o aborto, pode chamar a atenção da campanha de Biden como um trunfo em sua candidatura. Da mesma forma, Arizona e Geórgia apareceram no final da eleição de 2020 como estados potencialmente vantajosos para a campanha de Biden, o que provavelmente se repetirá na eleição de 2024 em termos de defesa do estado por sua equipe de campanha. A Carolina do Norte também pode se tornar um centro de atividade, já que o atual presidente perdeu anteriormente por apenas um ponto percentual.DesafiosOutros fatores podem ter um impacto significativo na campanha do presidente Biden para a eleição de 2024, incluindo supostas atividades ilegais de seu filho - Hunter Biden, preocupações com o bem-estar e a liderança do presidente, bem como incertezas sobre a capacidade de liderança da vice-presidente Kamala Harris.A recente controvérsia foi iniciada após um relatório de um denunciante da Receita Federal alegando interferência na investigação de Hunter Biden em 2018. Os eleitores de Biden ainda demonstraram algum tipo de preocupação com sua saúde física e mental para os próximos anos. Mesmo assim, o Partido Democrata entende que o atual presidente é quem reúne as melhores chances de derrotar novamente o potencial candidato Republicano, Donald Trump. 
8/14/20235 minutes, 2 seconds
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Descriminalização da maconha: tendência na Europa é de tolerância com usuário

No Brasil, o debate sobre a descriminalização do uso recreativo da canábis, a popular maconha, ganhou realce com o começo da votação sobre a matéria no Supremo Tribunal Federal (STF). No momento da redação deste comentário, o placar estava em 4 x 0 pró-descriminalização. Flávio Aguiar, analista políticoAs opiniões se dividem. Os defensores da medida alegam que descriminalizar o uso das drogas pode ajudar a combater o tráfico e também a corrupção na polícia. Lembram a histórica ineficácia da Lei Seca nos Estados Unidos, durante a década de 1920, que proibia a fabricação e a comercialização de bebidas alcoólicas, e terminou por incrementar o crime organizado, como o liderado pelo famoso gângster Al Capone.Aqueles contrários alegam que a descriminalização de uma droga, como a maconha, vai potencializar o caminho para o uso e o tráfico de drogas mais pesadas, como a cocaína, a heroína e outras, o que fortaleceria o tráfico.Há também quem diga que o tema deveria ser debatido no Congresso Nacional, e não no STF.Na Europa, a consideração do uso e cultivo da maconha varia bastante de país para país. Mas há tendências comuns e agrupamentos de países por regiões.De modo geral, a tendência dominante, mesmo em países onde o uso recreativo da maconha seja proibido, é a de criminalizar o tráfico e ser mais tolerante em relação ao usuário. A ação policial contra o usuário tende a se restringir aos casos de conduta perigosa, como a de dirigir drogado, ou considerada turbulenta em público.Com variantes legais e de tolerância ou rigor, essa é a tendência dominante em países como Portugal, Espanha, Itália, Luxemburgo, Bélgica, Dinamarca, Áustria, Irlanda, Reino Unido, Holanda, França e Irlanda. Em alguns desses países, como na Holanda, permite-se a compra e venda de pequenas quantidades de maconha, em locais especializados e fiscalizados.Já em países como a Grécia, a Noruega, a Suécia e a Finlândia o rigor na aplicação da lei que proíbe o uso da maconha é maior. No antigo Leste europeu, os países se dividem: há os mais liberais, como a República Tcheca, a Croácia, a Polônia e a Estônia, e os menos tolerantes, como a Hungria, a Romênia, a Eslováquia e a Sérvia.As situações acima descritas podem mudar, com a ascensão generalizada das forças políticas de extrema-direita, costumeiramente mais conservadoras.Uso recreativoNa Alemanha, o atual governo prepara uma legislação para, ainda em 2023, descriminalizar o uso recreativo da maconha, sua comercialização e cultivo individual em pequenas quantidades.Um acontecimento curioso, registrado há mais de dez anos em Berlim, ilustra bem as contradições e tendências deste século XXI.É comum encontrar aposentados nas ruas catando latinhas de refrigerante e cerveja para aumentar suas rendas, porque a pensão é muito reduzida em relação ao salário que ganhavam na ativa.Um belo dia a polícia descobriu uma autêntica quadrilha de idosas e idosos que aumentavam sua féria vendendo maconha, e só maconha, nada de cocaína ou coisas mais pesadas. Todas e todos estavam na casa dos setenta anos ou pouco menos. Constatou-se que eram remanescentes da revolucionária “geração de 1968”. Consumidores inveterados de maconha, decidiram aumentar seus ganhos vendendo os excedentes do que plantavam. Mais: a “capo” do grupo, que controlava a contabilidade com firmeza, era a mãe de um deles, que já estava numa casa avançada dos 90 anos. Perplexas, a polícia e a justiça tomaram uma atitude original. Não processaram nem prenderam as velhinhas e os velhinhos, desde que assumissem o compromisso de parar com seu florescente negócio e de ir catar latinhas como os demais. Assim foi dito, assim foi feito, e todos foram felizes para sempre com este “happy end” digno de uma comédia cinematográfica.
8/7/20235 minutes, 18 seconds
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No calor excessivo, a Europa se volta para a sesta

Tradicionalmente, muitos habitantes do norte europeu veem a sesta como um ato exótico e não laboriosamente muito virtuoso, comum no sul do continente ou em terras distantes, como o México ou em regiões tropicais das Américas. Flávio Aguiar, analista políticoEntretanto, na semana passada o Dr. Johannes Niessen, presidente da Associação Alemã de Médicas e Médicos dos Departamentos de Saúde Pública, propôs que a sesta fosse adotada oficialmente em seu país, a Alemanha. Motivo: a intensa onda de calor que atingiu não só a Europa, mas todo o hemisfério norte durante o mês de julho deste ano, considerado o mais quente de toda a história humana.A temperatura média do planeta subiu dos tradicionais 15 graus para inacreditáveis 17,5°, um salto que prenuncia catástrofes globais inclusive em breve.As ondas extremas de calor vem se tornando mais intensas e comuns em todo o hemisfério norte e particularmente na Europa, um continente que vem se aquecendo mais rapidamente do que os outros.As explicações reúnem elementos muito diversos, desde o crescimento de zonas urbanas em áreas antes rurais, até a permanência de uma corrente de vento do Atlântico para o continente, a muitos quilômetros de altura, que facilita a existência de bolhas de ar quente na superfície terrestre.Mas sobre e sob todos esses elementos paira a atividade humana industriando o aquecimento global.Oficialmente a temperatura mais alta registrada na Europa aconteceu na Sicília, em 2021: 48,8 graus Celsius. Entretanto, medidas não oficiais, mas confiáveis, já registraram até 50 graus ou um pouco mais, como na cidade de Atenas, neste verão. O calor excessivo tem castigado mais o sul do continente: Portugal, Espanha, o sul da França, a Itália, a Grécia e o mar mediterrâneo. Seus efeitos, entretanto, se estendem mais para o norte, com cidades como Paris e Berlim registrando temperaturas de quase 40 graus.E o fenômeno é mundial: da costa oeste dos Estados Unidos às planícies da Ásia central proliferam as ondas de calor que duram semanas a fio.A cidade de Phoenix, no estado do Arizona, nos EUA, registrou a fantástica temperatura mínima de 36 graus numa das madrugadas deste mês.Efeitos sobre o corpo humanoSegundo especialistas médicos, o calor excessivo pode ter efeitos devastadores sobre o corpo humano, provocando desidratação, ataques cardíacos, doenças nos rins e outras cardio-vasculares, além da perda do dono, caso as altas temperaturas se prolonguem durante a noite.O verão europeu, com dias muito longos e noites muito curtas, potencia tais efeitos. A recomendação é comer porções pequenas muitas vezes durante o dia e tomar mais de dois litros de água a cada 24 horas, conforme o peso e o tamanho da pessoa.Porém, outros hábitos devem mudar. Na Itália e na Espanha há negociações entre sindicatos, empresas e governos para mudar os horários de trabalho. Na Itália já há empresas da construção civil que adotam o horário das seis da manhã às duas da tarde.Na Espanha e na Grécia a sesta é definida oficialmente, com os estabelecimentos comerciais e até escritórios fechando duas ou três horas durante a tarde. O hábito de estende a Portugal, ao sul da França, à Itália e até à Rússia, durante os meses de verão.Origem da palavra sestaA palavra "siesta", sesta em português, "sieste" em francês e também "siesta" em italiano e em romeno, tem origem na expressão latina hora sexta, que designação o meio-dia no horário canônico romano, durante a Idade Média. A hora prima correspondia às seis horas da manhã, depois das matinas, antes do amanhecer e da laudes, no amanhecer, quando determinadas orações deveriam ser feitas, como nas vísperas depois do pôr do sol e nas completas, ou nove da noite.Os benefícios da sesta para a saúde são muitos: ajuda a estabilizar a pressão, diminui o estresse e a propensão a doenças cardio-vasculares, além de proteger quem a pratique da exposição ao sol e ao calor nas horas mais quentes do dia.Assim, não se surpreenda se em breve, ao chegar à Alemanha, você receba um convite para seguir o horário da "Mittagsschlaf", sesta, em alemão.
7/24/20235 minutes, 6 seconds
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Trump continua a liderar a corrida entre pré-candidatos republicanos à Presidência dos EUA

À medida que as eleições presidenciais americanas de 2024 se aproximam rapidamente, uma coisa é bastante clara - Donald Trump é o líder entre os candidatos republicanos. Apesar de quatro anos tumultuosos no cargo, a popularidade do ex-presidente se mantém entre um grupo relevante de republicanos e parece que sua influência (e controle) sobre o partido veio para ficar.  Mas enquanto a nomeação de Trump parece provável, ainda há um homem que pode ficar no seu caminho: o governador da Flórida, Ron DeSantis. Apesar de ser bem visto dentro do partido, DeSantis tem feito uma campanha sem brilho e está ficando rapidamente atrás de Trump nas pesquisas. Se DeSantis não mudar logo seu jogo, parece que Trump vai entrar em 2024 sem ser desafiado.De Santis é considerado um comunicador com altos e baixos, que o faz ser questionado constantemente por algumas frases sem nexo ou comportamentos estranhos quando está perto de seus potenciais eleitores. Por mais que Trump tenha afastado muitos Republicanos tradicionais do Partido, um grupo importante, principalmente do centro-oeste americano, segue enxergando nele um líder quase messiânico. Apesar de sua força, Trump precisará correr atrás do prejuízo para ter um apoio sólido como teve durante a sua primeira (e vitoriosa) campanha. Os apoiadores financeiros observaram atentamente as pesquisas relacionadas às chances de Trump derrotar o atual Presidente Joe Biden caso se confirme como o candidato Republicano. Internamente, Trump seguirá como dono do Partido. As acusações esdrúxulas e sem provas de que as eleições de 2020 foram roubadas acabou por afastar alguns Republicanos dos estados litorâneos, mas sedimentou ainda mais o eleitor republicano dos estados agrícolas e cidades com menos de 200 mil habitantes. Por outro lado, os contínuos problemas com a justiça (que incluem assédio sexual e sonegação de impostos) e o cansaço de parte da população em relação às mesmas narrativas repetidas de Trump, fazem com que ele não seja tão favorito, mesmo contra Joe Biden. Além de Trump e De Santis, alguns outros postulantes à posição de candidato presidencial pelo Partido Republicano incluem: Nikki Haley, ex-embaixadora americana na ONU, Mike Pence, ex-vice-presidente de Trump, Tim Scott, Senador pela Carolina do Sul e outros personagens mais irrelevantes do partido. Mesmo com tantos candidatos e sabendo que Trump é o favorito, todos esses concorrentes evitam criticar publicamente o ex-presidente, por temor da agressividade dos eleitores mais fanáticos de Trump. Não existe ainda a certeza absoluta que Trump será o candidato. No entanto, usando com maestria a velha máxima: se não dá para convencê-los, confunda-os, Trump mantém um grupo leal de seguidores que abraçam a ideia de fraude nas urnas como carro-chefe numa eleição cada vez mais complexa.
7/17/20234 minutes, 49 seconds
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Partidos de extrema direita crescem na Europa com versões atualizadas do nacionalismo

Na semana passada, um pequeno terremoto agitou a cena política alemã. Pela primeira vez o partido Alternative für Deutschland (AfD), de extrema direita, conseguiu eleger um prefeito no país. Trata-se de Hannes Loth, da pequena cidade de Raghun-Jessnitz, no estado da Alta Saxônia. No município de quase 9 mil habitantes, Loth, com 51% dos votos, derrotou seu adversário Nils Neumann, que se apresentava como candidato independente.  Dias antes, o AfD conseguira eleger seu primeiro administrador distrital, em Sonneberg, no estado da Turíngia. Este estado é o único da Alemanha a ter um governador do Die Linke, partido de esquerda. Mas se houvesse eleição hoje, o AfD chegaria na frente, com 28% dos votos, contra 22% da Linke, e a conservadora União Democrata Cristã (CDU) em terceiro, com 21%.Estes números confirmam o enraizamento da extrema direita na antiga Alemanha Oriental. Mas o AfD vem fazendo progressos em todo o país. Se houvesse hoje eleições gerais, a CDU viria em primeiro lugar, com 28% dos votos. Também pela primeira vez o AfD chegaria em segundo, com 20%, superando o Partido Social-Democrata (SPD), do atual chanceler Olaf Scholz, que ficaria em terceiro, com 18%. Os Verdes teriam 14% e o liberal FDP, ambos da coalizão governamental, ficaria com 7%. A Linke, com apenas 4%, sequer entraria no Parlamento Federal alemão, o Bundestag.Outros paísesNa Espanha, o Vox, que se declara herdeiro do ditador Francisco Franco e dos Cavaleiros Templários da Idade Média, também fez progressos nos últimos tempos, embora na última pesquisa seu ímpeto tenha arrefecido. Esta deu, em primeiro lugar, o conservador Partido Popular (PP), com 31,3% dos votos. Em segundo, vem o Partido Socialista Operário Espanhol, atualmente no governo, com 29,5%. Em terceiro vem o Vox, com 14,8% e em quarto a frente de esquerda, Sumar, com 13,4%; 11% ficariam para outros partidos. O Vox e o PP vêm fazendo alianças em várias regiões, desbancando o Partido Socialista em alguns de seus redutos tradicionais.Partidos de extrema direita lideram os governos da Itália, da Polônia e da Hungria. Na Finlândia, a extrema direita passou a integrar o governo, e na Suécia dá apoio decisivo ao novo governo conservador. Na Grécia, onde os conservadores conseguiram expressiva vitória recentemente, três partidos de extrema direita conseguiram entrar no Parlamento Nacional.E na cada vez mais convulsionada França a candidata Marine Le Pen, também de extrema direita, ganha mais votos a cada eleição que disputa.De um modo geral, os partidos de extrema direita mantém-se fiéis a seu nacionalismo nostálgico e xenófobo, voltado sobretudo contra os imigrantes e refugiados não europeus. Mas em outros pontos alguns deles vêm modificando suas teses tradicionais. Por exemplo, já não falam em “sair” da União Europeia, mas em “reformá-la”. Quanto à moeda única, o euro, vêm mantendo o que se pode chamar de um “silêncio obsequioso”. Tradicionalmente acusados de serem simpáticos ao presidente russo, Vladimir Putin, vêm se distanciando dele, devido à guerra na Ucrânia.Estes partidos também são favorecidos pela atitude de militantes dos partidos conservadores tradicionais, que se aproximam de suas bandeiras, como as da hostilidade aos imigrantes não europeus, na tentativa de recuperar votos que estão perdendo. No fundo, esta atitude legitima tais bandeiras aos olhos do eleitorado.Curiosamente, a principal exceção a este quadro, que muitos analistas avaliam como ameaçador para a democracia no continente, está na seguidamente conservadora Inglaterra. As últimas pesquisas dão uma vantagem estável para o Labour, o Partido Trabalhista, com uma votação estimada entre 43 e 47%, com tendência de alta, enquanto os Tories, o Partido Conservador, atualmente no governo, ficam entre 22 e 29%, com tendência de baixa. Já o Partido Reformador do Reino Unido, Reform UK, de extrema direita, ficaria apenas entre 4 e 9%.O primeiro grande termômetro deste novo desenho político ocorrerá na Espanha, cuja eleição nacional está marcada para o próximo 23 de julho.
7/10/20235 minutes, 17 seconds
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Biden foca em economia na sua pré-campanha eleitoral no Estados Unidos

À medida que se aproximam as eleições presidenciais americanas de 2024, o atual presidente Joe Biden e os seus assessores estão fazendo campanha para recordar aos eleitores os progressos realizados durante o seu mandato. O chefe de Estado acredita que, se conseguir comunicar com êxito todos os avanços desde que assumiu o cargo há quatro anos, os eleitores estarão mais dispostos a conduzi-lo à Casa Branca para um segundo mandato. Thiago de Aragão, analista políticoA equipe está preparando uma extensa campanha publicitária que destaca o que a administração Biden alcançou para o povo americano desde 2021. Isto inclui o aumento do acesso aos cuidados de saúde, a implementação de reformas progressivas e, principalmente, a melhora no ambiente econômico, apesar dos juros ainda estarem bem altos, assim como a inflação. Esse será o ponto crítico, principalmente pelo fato de que a maioria dos americanos acreditam que os Republicanos são melhores para gerir a economia do que os Democratas. A decisão de Biden de se apoiar fortemente no seu histórico econômico mostra que ele está confiante. No entanto, a sua equipe ainda tem muito trabalho pela frente para convencer os eleitores de que a situação econômica é controlável e continuará a melhorar sob o comando do democrata. O risco de uma recessão, que já foi alto, ainda não desapareceu completamente. Alguns assessores de Biden ainda são céticos em relação a uma campanha política centrada na economia, principalmente num ambiente de juros e inflação altos. Por outro lado, se não houver recessão e a economia continuar mostrando sinais de melhoras com a queda da inflação, queda na taxa de desemprego e, consequentemente, queda nos juros, o governo terá um bom material nas mãos para vender a ideia de Biden 2.0. O sucesso da campanha de reeleição de Biden reside na capacidade da equipe para gerir este delicado equilíbrio: manter o crescimento econômico, mas também a vigilância contra a inflação, para convencer os eleitores de que ele é o mais adequado para conduzir a América a um futuro mais brilhante e com maior prosperidade. Os riscos são elevados para a administração Biden, mas se conseguirem gerir ambas as tarefas com sucesso, então o democrata poderá estar no seu caminho de reeleição. Estratégia de Bill Clinton como modeloFocar na economia como carro-chefe de uma campanha eleitoral não é novidade. Bill Clinton adotou essa estratégia em 1992 e saiu vencedor. Em 1996, adotou a estratégia que os assessores de Biden querem adotar como modelo. Mas para que a tática funcione, a economia precisa estar boa a um ponto em que o eleitor menos instruído consiga identificar diferenças positivas em relação a um momento anterior a Biden. Para que essas mudanças sejam claras e perceptíveis, a melhora precisa ser substancial e passa, invariavelmente, pela questão da inflação e dos juros. Conseguir o equilíbrio certo desta vez será ainda mais importante para a campanha de reeleição de Biden, uma vez que poderá determinar se ele irá ou não se candidatar a um segundo mandato em 2024. O clima econômico continua a ser motivo de preocupação e desconcerto entre o público. Numa pesquisa recente do Pew Research Center, a inflação foi considerada a principal preocupação dos norte-americanos. Isto é especialmente preocupante, dado que o índice de aprovação global do presidente Biden no emprego se situa atualmente em apenas 35%.
7/3/20234 minutes, 42 seconds
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As “sepulturas flutuantes” da Europa

Um helicóptero sobrevoa um barco cheio de gente que está afundando. Dirigindo-se aos náufragos, o piloto do helicóptero pergunta: “ei, vocês viram um submarino por aí?”. Uma charge como esta apareceu na mídia, reunindo, de modo macabro, dois acontecimentos da semana passada. Flávio Aguiar, analista políticoUm deles era a tragédia do submarino que implodiu enquanto buscava os destroços do Titanic no fundo do Oceano Atlântico, provocando a morte de seus cinco ocupantes.O outro era um dos tantos naufrágios no mar Mediterrâneo de botes repletos de refugiados que, vindos do norte da África ou do Oriente Médio, buscam alcançar a Europa. Desta vez, a tragédia aconteceu perto do porto grego de Kalamata, no sul do país.A charge contrastava a intensidade das buscas do submarino com passageiros milionários numa viagem que muitos consideraram fútil, com o que denunciava ser uma suposta negligência criminosa das marinhas e autoridades europeias para com o drama das pessoas que, aos milhares, buscam a fuga de territórios devastados por guerras ou pela pobreza.  Na tragédia de Kalamata o navio pesqueiro transportava 750 pessoas quando naufragou, às 23 horas da terça-feira (13). Ela deixou um rastro de 104 sobreviventes, 78 corpos resgatados e mais de 500 desaparecidos.Pode-se fazer uma série de críticas à charge. Brinca com a morte de pessoas. Reúne acontecimentos distantes e com protagonistas diferentes. Milhares de quilômetros separam os dois naufrágios, entre o norte do Atlântico e o mar Jônico, no Mediterrâneo. Na busca do submarino atuaram sobretudo as guardas costeiras dos Estados Unidos e do Canadá. No naufrágio do pesqueiro as supostas acusações de negligência apontavam para a guarda costeira da Grécia, que localizara o navio muito antes da tragédia e nada fizera.Seja como for, com críticas ou não, a charge chama a atenção para um debate que vem tomando vulto entre representantes de organizações não governamentais que monitoram os refugiados do Mediterrâneo e muitas vezes os socorrem."Hostilidade aos não-europeus?"Afinal, há ou não há uma atitude de crescente hostilidade por parte das autoridades e marinhas da Europa em relação a estes migrantes não-europeus? Muitas vozes deste debate apontam o contraste entre esta suposta ou temida hostilidade com os africanos, árabes e outros com a fraterna boa vontade em relação aos refugiados ucranianos que, no fim de contas, são europeus. Apontam, também, que a guerra na Ucrânia e seu fluxo de refugiados ergueram uma cortina de fumaça sobre os outros migrantes, tornando-os invisíveis até que uma desgraça aconteça, como no caso de Kalamata.Há versões conflitantes sobre o acidente. A guarda-costeira grega diz que o navio seguia um curso normal em direção à Itália até o momento do naufrágio. Outras fontes, inclusive a BBC, dizem que o navio ficou parado durante horas antes de virar e afundar. Ainda uma terceira versão diz que perto das 23 horas, uma embarcação mercante tentou rebocá-lo com uma corda, o que teria provocado o naufrágio.A conta de acidentes deste tipo no Mediterrâneo é assustadora. Segundo aquelas ONGs, desde 2014 mais de 21 mil pessoas morreram ou desapareceram na arriscada travessia.  Ainda segundo estas mesmas fontes, as atitudes repressivas das marinhas e outras autoridades fazem com que estas viagens, sem dúvida ilegais, abandonem as rotas seguras e busquem outras mais perigosas.Alguns dias depois do desastre perto de Kalamata, outro barco virou quando seguia da Tunísia para a Itália, com 46 migrantes a bordo. Nove foram salvos, 37 desapareceram.Nada indica que este fluxo de desesperados venha sequer a diminuir, pelo menos no curto prazo. As guerras, a crescente desigualdade, a pobreza e a falta de perspectiva continuarão a provocar a busca destas viagens em embarcações precárias, batizadas, com justiça, de “sepulturas flutuantes”.     
6/26/20234 minutes, 20 seconds
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Domínio de portos pela China prejudica estratégia de países ocidentais

O domínio dos portos chineses vem prejudicando a estratégia de parte do ocidente para depender menos da China. Diversas empresas dos Estados Unidos e da Europa manifestaram a intenção de transferir parte de sua produção da China para a Índia e países do sudeste asiático, devido às crescentes tensões entre Washington e Pequim. Contudo, dados recentes apontam que essas regiões não possuem capacidade para competir com os chineses. Thiago de Aragão, analista políticoDe acordo com a ONU, atualmente 80% das mercadorias no mundo são transportadas por navio. No entanto, enquanto a China possui 76 terminais portuários capazes de acomodar grandes navios, países do sul e sudeste asiático têm apenas 31 dessas estruturas. Estima-se que os chineses tenham investido pelo menos US$ 40 bilhões entre 2016 e 2021 em infraestrutura portuária, o que resultou em uma capacidade de manejo de contêineres maior do que todos os países do sul e sudeste asiático juntos. Essa discrepância evidencia os desafios que empresas vão enfrentar ao tentar realocar suas cadeias de suprimentos para fora da China. Embora alguns países estejam buscando diversificar suas fontes de importação e reduzir a dependência, essa mudança será lenta e levará anos para se concretizar.Títulos pandaHá um firme interesse do governo chinês em expandir ainda mais sua capacidade portuária. Não é à toa que o governo chinês decidiu lançar seus títulos panda (título da dívida soberana). O Banco da China (BOC), em conjunto com o Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura (AIIB, sigla em inglês) emitiram 2,5 bilhões de yuans (aproximadamente US$ 349,33 milhões) em títulos panda.Esses títulos têm um prazo de vencimento de cinco anos e uma taxa de juros de cupom de 2,7%. Os recursos levantados por meio desta emissão serão direcionados para o apoio ao desenvolvimento de infraestrutura sustentável.A peculiaridade deles é que são emitidos por entidades estrangeiras dentro da China continental. Os ativos pandas geralmente têm prazos mais curtos e pagam taxas de juros mais altas do que os títulos do governo chinês denominados em moeda local. Essa diferença ocorre porque os investidores estão assumindo um risco cambial ao investir em moeda estrangeira.O AIIB lançou seu primeiro lote de títulos panda em 2020, levantando 3 bilhões de yuans desde então. Linhas de crédito para uma melhora na infraestrutura do país - incluindo no setor energético - serão mais comuns durante os próximos 12 meses do governo de Xi Jinping, reeleito em março para um terceiro mandato na presidência do país. 
6/19/20232 minutes, 49 seconds
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EUA: diálogo com a China é essencial para reduzir chances de conflito

Recentemente, as tensões entre os Estados Unidos e a China aumentaram substancialmente. Em resposta, o presidente chinês Xi Jinping deixou claro que a China irá aumentar a sua capacidade de defesa e implementar um sistema de alerta para detectar ameaças militares. O governo chinês vem, ao longo dos últimos meses, buscando modernizar vários armamentos, aumentar a capacidade de produção de navios militares, além de modernizar softwares utilizados em seus aviões de caça. Thiago de Aragão, analista políticoEstas preocupações ecoaram no fórum de segurança de Shangri-la, em Singapura, onde vários líderes mundiais se reuniram recentemente para discutir essa e outras questões. Em especial, os funcionários dos governos dos Estados Unidos e da China demonstraram esforços para iniciar um diálogo construtivo, a fim de fazer face à sensação de perigo demonstrada por ambas as partes.Ainda não é claro quais medidas específicas poderão ser tomadas para desanuviar a situação, mas dada a gravidade deste conflito, é promissor que tais discussões estejam sendo realizadas.As palavras do secretário da Defesa dos Estados Unidos, Lloyd Austin, durante o fórum, de que a recusa da China em iniciar as conversas prejudica os esforços para manter a paz, podem ter sido uma forma de expressar a sua preocupação pela falta de progressos nesta situação.Infelizmente, a recente passagem de navios americanos e canadenses pelo Estreito de Taiwan, quando um navio de patrulha chinês chegou a apenas 150 metros de um navio americano, com risco de potencial colisão, é um sinal de que estão surgindo novas áreas de contenção e sugere que a situação entre estes dois países pode ainda estar longe de ser resolvida. O governo chinês se mostrou muito desconfortável com os recentes exercícios militares realizados entre EUA e aliados regionais (Japão, Austrália, Filipinas e Indonésia). Além disso, os EUA estão aumentando a capacidade de interoperacionalidade de tecnologias militares americanas e japonesas.No fórum de segurança de Shangri-La, o ministro da Defesa chinês, Li Shangfu, declarou que a China "reforçaria a sua posição de liderança na região", e deixou claro que não tolerará o trânsito militar americano e de seus aliados em águas no qual os chineses consideram seu território. Naturalmente, os americanos e aliados argumentam que a navegação não cometeu nenhuma ilegalidade, já que as águas eram consideradas internacionais.Consequentemente, muitos observadores continuam pessimistas quanto à perspectiva de se conseguir um diálogo significativo num futuro próximo. Existem inúmeras arestas entre os dois lados que impossibilitam um diálogo franco entre os dois países.Tudo leva a crer que as tensões militares entre estas duas potências mundiais não deverão diminuir tão cedo, continuando ambas as partes a preparar-se para um potencial conflito. Como tal, parece claro que é necessário fazer mais para garantir a paz.
6/5/20235 minutes, 21 seconds
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Percepção de equivalência de culpa da guerra na Ucrânia desqualifica o Brasil como mediador

Durante a reunião do G7, Lula voltou a se colocar como um possível mediador para buscar a paz entre russos e ucranianos. No entanto, algumas críticas e comentários do presidente brasileiro demonstram que ele ainda não vê a origem da guerra a partir de uma invasão russa. Lula afirmou ainda que a busca pela paz que a Ucrânia quer é irreal, pois ela representa a rendição total da Rússia. Thiago de Aragão, analista políticoQuando a soberania de um país que estava quieto em seu canto é violada por meio de uma invasão, não dá para relativizar o ato do agressor e equalizá-lo ao comportamento do agredido. A Ucrânia, violentada pela invasão russa, certamente não quer dividir a culpa da guerra com seu agressor. A percepção brasileira de equivalência de culpa é exatamente o que desqualifica o Brasil para o papel de mediador. É absolutamente compreensível que o presidente Lula busque esse protagonismo como mediador. Afinal, sua reputação internacional que já era grande, se tornou maior ainda a partir da ausência internacional e das trapalhadas de seu antecessor. No entanto, prestígio não é sinônimo de conhecimento factual e conceitual do que está acontecendo.Durante o G7, Lula acertou em alguns pontos. De fato, o mundo não precisa de uma Guerra Fria. No entanto, ela existe. Criticar o criticável, sem apresentar uma solução estruturada, é chover no molhado. Óbvio que o mundo não precisa de uma nova Guerra Fria, mas, surpresa, ela está aí e nos resta compreender suas nuances para evitar que ela se torne quente. Lula criticou fortemente o presidente americano Joe Biden por se colocar tão fortemente contra a Rússia em sua condenação à invasão da Ucrânia. Qual seria o comportamento ideal então? Estimular uma equivalência de culpa entre o agredido e o agressor gera um sentimento de repulsa tão profunda no agredido, que compreendo o fato de Volodymir Zelensky ter desistido de ir à reunião marcada para as 15h15 (hora local) no hotel onde Lula estava hospedado. As consequências desta guerra no Donbass e em inúmeras localidades ucranianas são tão trágicas e tão dispendiosas que é absolutamente inaceitável ignorar ou relativizar o comportamento do governo russo. O mundo tem de compreender que há um claro agressor neste conflito e, se queremos trazer a paz, temos de ter uma solução prática e concreta para pôr fim a este conflito de uma forma que não premie a Rússia. Como obter uma solução onde a paz é gerada por uma navalhada na própria carne para entregar um naco para os russos? O mundo precisa de um mediador que enxergue essa realidade e atue na busca de uma solução viável que satisfaça os dois lados sem recompensar o país agressor. O Brasil tem potencial para se tornar esse mediador, mas não com a percepção que se tem hoje do conflito ucraniano-russo. Lula está correto em afirmar que a postura de Biden o impede de mediar a guerra, afinal, os EUA já se posicionaram amplamente a favor dos ucranianos (como boa parte do planeta).Por outro lado, Lula ainda não percebeu que o comportamento do Brasil até agora, legitimado pela fala de Serguei Lavrov (“os interesses russos estão bem alinhados com a proposta brasileira”), também impede o Brasil de mediar, pois seu lado já foi escolhido, mesmo que não queira deixar isso claro. 
5/22/20234 minutes, 50 seconds
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Brasil, Ucrânia, Rússia, Europa: uma equação complicada

Imaginemos uma equação matemática assim disposta: (Ucrânia + EUA, OTAN e aliados) contra Rússia / China e Brasil. O resultado seria ainda uma incógnita. O fato é que ninguém sabe como esta guerra vai terminar, nem quando. O secretário-geral da ONU António Guterres sentenciou: a paz está longe, porque ambos os lados do conflito ainda “estão convencidos de que vão vencer”. Flávio Aguiar, analista políticoDiante desta expectativa, a insistência com que o governo brasileiro insiste em falar em paz pode parecer uma retórica vazia, embora acompanhado pela China. Mas não é bem assim. Em matéria de geopolítica e diplomacia as coisas são mais complexas.A posição brasileira de não enviar armas para Kiev pode suscitar críticas por parte dos Estados Unidos e seus aliados europeus. Mas estas críticas, curiosamente, são mais veementes entre os governados do que entre os governantes. O fato é que por onde passem o presidente Lula e seu assessor especial Celso Amorim são recebidos de braços abertos, com ou sem críticas, de Washington a Moscou, de Buenos Aires a Pequim.Exemplos recentes, além da visita de Amorim a Moscou e Kiev: o presidente Lula foi oficialmente convidado pelo primeiro-ministro japonês para a próxima reunião do G7 em Hiroshima, de 19 a 21 de maio; o primeiro-ministro holandês disse que quer explicar ao presidente Lula a posição dos países europeus que apoiam Kiev, mas, ao mesmo tempo, declarou que quer conversar com ele sobre “muitos outros assuntos”.Pragmatismo políticoDepois da longa hibernação provocada pela política externa confusa e obtusa do governo anterior, agora todos querem conversar com o atual governo brasileiro. Para colocar a questão em termos muito pragmáticos, muito ao gosto das finanças internacionais: um mercado de quase 220 milhões de habitantes não pode ficar na berlinda.Alguns comentaristas na mídia costumam cair na armadilha de considerar a posição brasileira sobre a guerra isoladamente, sem levar em conta o conjunto da sua política externa. O termo que a melhor define apareceu em artigo recente da revista norte-americana Foreign Affairs: “restauração” (edição de 23/03/2023, assinatura de Husseis Kalut, da Universidade de Harvard, e de Feliciano Guimarães, da Universidade de São Paulo). O governo brasileiro busca restaurar a posição de liderança que já teve em relação aos países do chamado “Sul” do mundo, e por isso mantém uma política de equidistância em relação às atuais potências geopolíticas e seus aliados mais próximos. Busca restaurar a credibilidade e o prestígio de que sua diplomacia quase sempre desfrutou desde a segunda metade do século XIX, onde os alinhamentos automáticos foram a exceção, nunca a regra. O Brasil não é um país mundialmente relevante do ponto de vista militar. A política externa brasileira sempre se pautou pelo chamado “soft power” e pelo multilateralismo, e no século XXI pela liderança na questão ambiental, que foi rompida pelo governo anterior. O governo brasileiro quer demonstrar que pode dialogar com todo mundo o tempo todo. Na Europa, o governo brasileiro dialoga com Emmanuel Macron em Paris e com Charles III e Rishi Sunak em Londres; com Olaf Scholz em Berlim, com Pedro Sánchez em Madri, António Costa em Lisboa, e com Joe Biden, Vladimir Putin, Volodymyr Zelensky, Xi Jinping e outros mais.Quanto à insistência na palavra “paz”, bem, pode-se esperar de tudo no atual estado da arte da geopolítica, menos resultados imediatos. Decididamente o mundo - inclusive a Europa - passa por um momento de rearmamento geral, intensificado pela guerra na Ucrânia. Em tal circunstância, é melhor acreditar no ditado tão brasileiro: “água mole em pedra dura tanto bate até que fura”.
5/15/20234 minutes, 17 seconds
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Para neutralizar influência crescente da China na América Latina, EUA devem buscar flexibilidade

Em 2017, o Panamá tomou a decisão de mudar sua lealdade de Taiwan para a China, o que causou reações perplexas em Washington. Isso aconteceu devido ao crescente investimento chinês que o país havia recebido e sua determinação em garantir alianças estratégicas. A China considera Taiwan uma província rebelde e parte de seu território. Pequim pretende recuperar a ilha mesmo que seja pela força. O Canal do Panamá é um exemplo perfeito de por que a China valoriza essa parceria, visto que ele é de extrema importância comercial e econômica. O país da América Central não é o único a se aproximar da China recentemente – Nicarágua e Honduras também estão estreitando os laços com a nação asiática. Belize permanece fiel a Taiwan, mas pode mudar de lado em um futuro próximo, apesar do governo local ter reafirmado sua lealdade a Taiwan. A influência da China na América Latina difere da influência dos Estados Unidos. As propostas chinesas são personalizadas e dinâmicas, colocando soluções acima dos problemas. Este aspecto contrasta com a abordagem americana, que dá prioridade a políticas mais rígidas e consistentes. Apesar de as políticas chinesas estarem longe de serem perfeitas, a abordagem mais flexível e adaptável de Pequim pode ajudar o país a se estabelecer na cena internacional.Além disso, é importante destacar a diminuição da influência dos Estados Unidos na América Latina. Países como o Brasil e o México estão cada vez mais interessados em expandir sua presença global, o que pode significar olhar para além das parcerias tradicionais com os EUA. Além disso, há crescente ceticismo em relação ao compromisso contínuo dos Estados Unidos com a região.No entanto, é vital observar que a China ainda não é um parceiro perfeito e que deve ser tomado com cuidado. A história ensinou a importância da diversificação de parceiros para evitar que um único país gere uma dependência desproporcional. Dito isto, a China está fazendo sua presença ser sentida na América Latina e pode representar um desafio significativo para a hegemonia dos Estados Unidos na região.China tem abordagem diferenciadaÉ importante ressaltar também que a China está se expandindo em todo o mundo a um ritmo incrível, e sua abordagem diferenciada é atraente para muitos países que desejam tomar decisões mais adaptáveis aos desafios políticos, econômicos e ambientais enfrentados. Isso não significa que devemos ficar despreocupados com as políticas chinesas, mas sim fazer análises cuidadosas e adotar medidas preventivas quando necessárias.Enquanto os Estados Unidos focam em lidar com problemas urgentes, como a imigração ilegal, a corrupção e o narcotráfico, a China faz uma abordagem diferente, focando em investimentos para expandir sua influência regional. Embora muitas vezes as promessas de investimentos sejam exageradas, para os políticos latino-americanos com mentalidade de curto prazo, a oferta da China pode parecer mais atraente do que se envolver em narrativas conflituosas com os Estados Unidos. No entanto, pode ser benéfico para Washington adotar uma abordagem positiva e propositiva, trabalhando em estreita colaboração com os países da região, a fim de neutralizar o impacto das ações chinesas.Os EUA devem estar atentos e buscar melhores maneiras de manter sua influência na região de forma mais adaptável. Isso garantirá uma maior diversificação de opções para os países latino-americanos e, consequentemente, um ambiente mais equilibrado para o desenvolvimento e crescimento.
5/8/20235 minutes, 1 second
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Inflação provocada por guerra na Ucrânia turbina atos de 1° de Maio na Europa

Melhores salários, melhores condições de trabalho, melhorar as pensões e as aposentadorias, mais oportunidades para trabalhadores jovens, e também fim das discriminações de gênero, combate aos preconceitos sexuais, combater o aquecimento global: esta pauta ampliada vai dominar as comemorações do Dia do Trabalhador ou do Trabalho nesta segunda-feira (1°), em um grande número de cidades europeias Flávio Aguiar, analista políticoDepois de anos de relativa letargia ou congelamento os movimentos de trabalhadores estão renascendo das próprias cinzas. Diante de uma inflação galopante turbinada pelas consequências da guerra na Ucrânia, os movimentos sindicais tradicionais e alternativos vem crescendo em toda a Europa. A sindicalização, antes em recesso, está aumentando em muitas cidades. Ao lado das centrais sindicais de longa tradição surgem cada vez mais movimentos alternativos buscando congregar os novos imigrantes que chegam ao continente de todos os lados, fugindo de guerras ou da piora nas condições de trabalho e sobrevivência em muitos países. Além dos ucranianos, continuam a chegar levas e mais levas de fugitivos da África e do Oriente Médio. Os naufrágios trágicos no Mediterrâneo continuam, sem trégua.“Solidários para sempre”Em Berlim a DGB, a central sindical alemã, lançou a palavra de ordem “Ungebrochen Solidarisch”, “Solidários para Sempre”, ou “sem Limites”, numa tradução livre. A passeata da DGB termina por volta do meio-dia, como tradicionalmente, junto ao Portão de Brandemburgo, numa grande festa, com muita música e cerveja. À tarde há manifestações alternativas em bairros populares como Kreuzberg e Neuköln. E no final do dia, grupos radicais, em geral de inspiração anarquista, realizam nova passeata a partir destes bairros, que costuma terminar em violência, com quebra-quebra e repressão por parte da polícia. O quebra-quebra, aliás, já começou nesse domingo (30) quando se comemora a chamada “Noite de Walpurgis”, ou “Noite das Bruxas”, com vitrines quebradas e os carros incendiados.Atos em outros países europeusNa França as manifestações têm por tema dominante os protestos contra a reforma da Previdência, aumentando a idade mínima das aposentadorias para 64 anos, e pelo aumento do custo de vida, sobretudo de alimentos, energia e combustíveis.Na Itália as três grandes centrais sindicais, CGIL, CISL e UIL, lançam no primeiro de maio uma campanha unificada pela valorização do trabalho, que deve se estender ao longo do ano. Na Espanha e em Portugal, os trabalhadores vão às ruas por melhores salários, mas também pedindo mais solidariedade com os refugiados, jovens. Em Londres ocorre uma grande manifestação que converge para a Praça de Trafalgar, no centro da cidade, reivindicando, além de reajustes ou aumentos de salário, melhores condições de trabalho, melhores serviços para a população e a preservação de empregos.A guerra entre Moscou e Kiev não parece poder acabar em breve, comprometendo nos países europeus as importações de grãos, em geral provenientes da Ucrânia, e de fertilizantes e gás, que costumavam vir sobretudo da Rússia. Isto significa que a inflação, puxada pelos preços de produtos agrícolas e da energia, vai continuar em alta, alimentando a carestia e os protestos.
5/1/20233 minutes, 47 seconds
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Brasil e China precisam superar desafios para implementarem acordos

Recentemente, o Brasil e a China assinaram acordos comerciais que somam US$ 10 bilhões, fruto da visita de alto nível liderada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A relação entre os países vem se desenvolvendo e fortalecendo há anos. Nesse terceiro mandato de Lula à frente do governo brasileiro, parece que esta relação com a China atingirá níveis nunca antes vistos de aproximação. Os anúncios são positivos, falta ver como as dificuldades em implementá-los serão resolvidas.  Thiago de Aragão, para a RFIEmbora o comércio entre o Brasil e a China possa gerar benefícios para ambas as partes, existem preocupações de que o mesmo possa causar uma desindustrialização no Brasil. Para evitar isso, a administração Lula busca incentivos chineses para promover áreas industriais e tecnológicas focada em tecnologias verdes.Além disso, o governo brasileiro também está considerando políticas industriais que possam turbinar a indústria nacional. Essas políticas industriais, no entanto, não são novidade para Lula. Em seus governos anteriores, a implementação de uma nova política industrial ficou apenas na ideia e no gasto, sem a execução.No entanto, com escassos recursos financeiros disponíveis para projetos como este, o governo brasileiro terá que ser criativo para conseguir alcançar seus objetivos. Para isso, ele pode usar os recursos internos do país - incluindo matérias primas e um grande mercado interno - a fim de tornar as indústrias brasileiras mais competitivas e capazes de produzir produtos que possam ser comercializados internacionalmente.Apesar de flertar com a ideia de incentivos e eventuais subsídios para a indústria brasileira, no fim Lula sabe que a complexa matriz tributária (além da alta carga) são os empecilhos mais comuns para o desenvolvimento da indústria nacional. DesafiosO anúncio de projetos e acordos pode ter sido saudado como um passo positivo, mas é evidente que ainda há muitos desafios a serem ultrapassados quando se trata de implementar as iniciativas. As transferências de tecnologia exigirão negociações delicadas entre dois países com sistemas industriais e regulamentos muito diferentes. A fábrica de hidrogênio verde envolverá investimentos dispendiosos em infraestruturas num setor energético que enfrenta numerosos obstáculos.Os projetos eólicos offshore serão dificultados por uma falta de experiência quando se trata de gerar energia renovável na região. E a empresa binacional de logística agrícola poderá enfrentar dificuldades devido à complexa regulamentação aduaneira do Brasil. Tudo isto significa que, embora o memorando da semana passada tenha sido certamente um passo à frente, é demasiado cedo para dizer se estes projetos serão bem sucedidos. No entanto, é bom sempre lembrar que inúmeros acordos e memorandos assinados em 2015, entre a então presidente Dilma Rousseff e Xi Jinping, ficaram apenas no papel. Um dos mais chamativos, foi o acordo da rodovia Trans-Pacífico, que não conseguiu avançar por problemas, inexperiências ou perda de interesse de um lado, ou de outro.Muitos dos projetos formados por Lula nessa última viagem correm o mesmo risco. 
4/24/20234 minutes, 44 seconds
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Governo alemão apresenta projeto para regularizar uso recreativo da maconha

O governo alemão apresentou na semana passada um projeto de lei que regulamenta o uso recreativo da maconha. “Recreativo” significa o uso individual por prazer, sem finalidade médica. Algo semelhante a tomar um aperitivo no final da tarde. Flávio Aguiar, analista políticoO projeto foi apresentado pelo ministro da Saúde, Karl Lauterbach, do Partido Social Democrata, e pelo ministro da Agricultura, Cem Özdemir, do Partido Verde.O texto provocou uma reação negativa imediata por parte da União Social Cristã, partido da Baviera predominantemente católica. Mas a expectativa é de que o projeto seja aprovado no Bundestag, o parlamento federal alemão.O projeto já vinha sendo elaborado pelo governo alemão há algum tempo. A versão inicial era mais "aberta" do que a apresentada agora, que recuou em alguns pontos.Na versão atual, indivíduos maiores de idade (a partir de 18 anos) seriam autorizados a terem posse de 25 gramas de maconha, o que equivale mais ou menos ao suficiente para preparar até cem cigarros (cinco maços) ou “baseados”, na gíria brasileira, dependendo da sua pureza ou mistura com tabaco. Além disto, os usuários estariam autorizados a terem três pés de maconha em suas residências, desde que, no caso de uma fiscalização, comprovem que há medidas de segurança para impedir o acesso às plantas por parte de menores de idade.O uso e a posse da maconha estarão proibidos nos arredores de escolas e creches. O projeto original previa a criação de lojas de venda da maconha. Houve um recuo nesta matéria, para uma adequação às normas da União Europeia.Ainda assim, o projeto prevê a criação de “clubes” onde os consumidores de maconha poderão trocar experiências, sementes e espécimes, com um número limitado a 500 sócios para cada clube. Países avançam na legislaçãoSe o projeto for aprovado, a Alemanha passará a pertencer a um grupo crescente de países onde o uso recreativo da maconha é liberado, dentro de certas regras, havendo cinco países onde esta liberação é mais ampla (Canadá, México, Espanha, Portugal e Uruguai) e outros 25, nos cinco continentes, onde a liberação ao uso existe, mas de forma mais restrita. Além disto, há o caso da Austrália e dos Estados Unidos, onde a liberação da maconha é de competência estadual. E há ainda o caso de países onde o porte e o uso da erva é ilegal, mas existe uma política de tolerância informal. Este, inclusive, é o caso atualmente na Alemanha.Especialistas consideram que a liberação parcial ou completa do uso da maconha é fundamental para coibir seu tráfico e de outras drogas, uma vez que a “cannabis”, nome científico da planta, com frequência é a ponta de lança para o tráfico de outras drogas mais pesadas, como a cocaína, a heroína, o crack, o ecstasy, etc.Os defensores do projeto alemão estão divididos em relação ao seu atual formato. Eles estão satisfeitos, por um lado, porque o consideram um avanço. E insatisfeitos, por outro, porque argumentam que, enquanto não houver a possibilidade de comercializar a maconha em lojas autorizadas, o tráfico ilegal continuará a ter terreno favorável para se expandir.
4/17/20233 minutes, 38 seconds
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Lula precisa tomar cuidado com as tensões geopolíticas no encontro com Xi Jinping em Pequim

A viagem de Lula à China cumpre a meta inicial de seu governo no campo da diplomacia: demonstrar uma equidistância dos EUA e da China, a fim de buscar se beneficiar das relações com os dois países. Essa foi a postura dos dois primeiros governos de Lula e, obviamente, faz muito sentido, dado o posicionamento histórico brasileiro de neutralidade no que é possível. Thiago de Aragão, analista políticoPor mais que a lógica na cabeça de Celso Amorim, assessor-chefe da Assessoria Especial do presidente Lula, seja baseada na noção de equidistância, o que muda desde quando Lula encerrou seu segundo governo é a situação geopolítica global. Lula conversou com Joe Biden em sua ida aos EUA e deixou claro ao presidente americano que não tomará parte em ações de contenção da influência chinesa na América Latina. Não era o que Biden queria ouvir, mas tampouco foi uma surpresa para o governo americano. Xi Jinping certamente não pedirá para o Brasil tomar uma posição pública de aliança com a China e antagonismo em relação aos EUA, pois a diplomacia chinesa não funciona assim. No entanto, muita coisa mudou nesses últimos anos. O mundo está mais polarizado do que nunca e Lula, mesmo com o seu alto interesse em política externa, precisa estar atento a detalhes que normalmente não são levados em conta por assessores próximos. Em primeiro lugar, as tensões entre China e EUA são crescentes e dinâmicas. Os nervos estão à flor da pele, e o governo brasileiro deve tomar muito cuidado com o que o presidente Lula dirá em Pequim. Um posicionamento a favor da China contra Taiwan cairia muito mal na comunidade internacional. Assim como Lula minou a possibilidade de mediar um cessar-fogo entre Ucrânia e Rússia a partir do momento que dividiu, irmãmente, a culpa pela guerra entre os dois países. Em relação a Taiwan, o ideal é ficar quieto e não mencionar nada nessa linha. Um segundo ponto importante é que certamente Lula e seus assessores mais próximos sabem que a “tecnologia” é o ponto central das tensões entre EUA e China. A Huawei é vista como um grande risco por americanos e europeus, enquanto o governo Lula não vê a empresa chinesa dessa forma. Um eventual anúncio de cooperação e/ou de comercialização de produtos tecnológicos ligados às listas de sanções impostas pelos americanos contra a China poderá prejudicar e muito a ampliação de empresas americanas e europeias operando no Brasil. No campo das telecomunicações, por exemplo, poderia surgir uma crise de confiança no fluxo de dados entre empresas no Brasil que trabalham com operadoras que utilizam os kits de 5G da Huawei. Terceiro ponto: o posicionamento chinês a favor da Rússia na guerra da Ucrânia é público e notório. Um comunicado conjunto entre Lula e Xi nessa linha, independentemente da mensagem que saia dos dois, não seria bem recebido e seria visto como um erro diplomático. Dada a posição de Xi em relação à guerra, qualquer coisa que saia da boca de Xi sobre esse tema, com Lula em pé ao seu lado, seria prejudicial. Apesar desses riscos “operacionais”, a viagem não deixa de ser extremamente importante para o país. A China, como principal parceira econômica do Brasil, inevitavelmente estimula a ida de uma enorme comitiva brasileira. Enquanto os acordos que serão discutidos e assinados no campo do agronegócio e comércio serão indubitavelmente positivos, os que poderão surgir nas áreas de cooperação em ciências e tecnologia merecem uma atenção maior aos riscos. A diplomacia brasileira está acostumada a missões presidenciais repletas de alegrias, oba-oba e boas notícias. A ida de Lula à China conterá tudo isso, dado o perfil do presidente brasileiro. No entanto, desde a ida de Lula ao Irã em 2010 para tentar, ao lado de Mahmoud Ahmadinejad, fechar um acordo nuclear, o Brasil não tem um presidente visitando um país onde riscos silenciosos podem se tornar custosos, seja por uma frase mal colocada ou um sorriso fora de hora. O ponto de interrogação permanece em relação à esdrúxula ideia da diplomacia brasileira de mediar uma solução para a guerra na Ucrânia. Obviamente, China e Rússia se colocarão a favor do plano brasileiro, pois beneficia claramente a Rússia ao tentar equiparar os atos russos aos ucranianos. Lula é um presidente ativo na política externa e benquisto em vários países do mundo. Isso não quer dizer, no entanto, que entenda dos detalhes e nuances dos temas complexos da geopolítica global. O projeto de mediar o fim da guerra, apresentando tudo que a Rússia sonha em ter, prejudica e muito a imagem do Brasil no mundo, mesmo em um momento em que praticamente qualquer coisa que Lula faça gere resultados melhores do que a bizarra política externa de Ernesto Araújo e Jair Bolsonaro. Na China, Lula terá em Xi Jinping um aliado para esse plano de mediação, justamente por ser inatingível e benéfico apenas para a Rússia e, consequentemente, para a China.
4/10/20234 minutes, 58 seconds
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A questão social ferve na Europa

Há mais de dez anos fui a Frankfurt-am-Main cobrir uma reunião da DGB, a Deutscher Gewerkschaftsbund, a Federação Alemã de Sindicatos. Também participei de uma reunião da Federação e de sindicatos em Berlim. Eu acompanhava uma delegação da CUT brasileira, convidada a participar dos encontros.  Flávio Aguiar, analista político Numa das exposições, um dos principais dirigentes da DGB expôs que a ação da Central e de um dos principais sindicatos alemães, o IG Metall, o dos metalúrgicos, baseava-se sobretudo numa estratégia que ele chamou de “Win-Win”, valendo-se do verbo inglês “to win”, “ganhar”. Aquela expressão se poderia traduzir por “Ganha-Ganha”. Referia-se a uma política de cooperação, ao invés de confronto, entre trabalho e capital, sindicatos e patrões. A moldura desta estratégia era a de uma inflação próxima de zero, aliada a se privilegiar a manutenção de postos de trabalho sobre a perspectiva de novos reajustes ou ganhos salariais. Esta situação parecia sólida e duradoura como uma rocha. É verdade que a crise financeira de 2008 e o avanço da precarização dos contratos de trabalho expunham algumas rachaduras naquela rocha, mas não suficiente para abalá-la. O esforço maior dos sindicatos mais fortes, como o dos metalúrgicos, era o de estender aos trabalhadores precarizados as condições dos contratos regulares, os de “carteira assinada”, como a gente diria em termos de Brasil.  Mais recentemente, os efeitos da pandemia e da guerra na Ucrânia catapultaram a inflação, que passou a crescer regularmente, chegando a mais de 10% anuais na média, e dando pinotes e corcovos de 20 a 40% no caso dos alimentos e da energia. Em resumo, aquela rocha, que parecia tão firme, derreteu e a questão social se avolumou, assumindo agora ares de correnteza à solta, e não só na Alemanha. O resultado é que na semana passada ocorreu algo que não acontecia no país há muito tempo. Durante 24 horas, a Alemanha praticamente parou, graças a uma greve múltipla nos transportes aéreos, ferroviários, urbanos, interurbanos e regionais. Motivo: insatisfação com os salários diante do aumento generalizado do custo de vida. Com a inflação na casa dos dois dígitos anuais, a maioria dos trabalhadores vem obtendo reajustes de 4 a 5%, quando obtêm. Mesmo o poderoso IG Metall conseguiu um reajuste de apenas 8,5% para a categoria. Protestos na França e no Reino Unido A insatisfação e os movimentos vêm crescendo de modo exponencial também na França e no Reino Unido. Na França houve seguidas manifestações de rua contra a reforma da Previdência decretada unilateralmente pelo governo de Macron, elevando a idade mínima de 62 para 64 anos. O movimento é tão forte e tão amplo que muitos analistas apontam que a reforma decretada não é suficiente, por si só, para explicá-lo. O custo de vida também joga combustível na fogueira, além de outros fatores, como meio ambiente e piora nas condições de trabalho. Outro componente não desprezível são os protestos contra a repressão policial, considerada excessiva em muitos casos. No Reino Unido as greves têm se multiplicado, sendo mais dramática a situação da área de saúde. O caso é emblemático. O Reino Unido tinha um sistema público de saúde considerado exemplar desde a década de 1940, mas ele foi praticamente destruído a partir do governo neoliberal de Margaret Thatcher, e os atuais planos conservadores de austeridade fiscal não o ajudaram a se recuperar. As greves se sucedem sem parar. Crise veio para ficar O que acontecerá no plano político? É difícil dizer. Grande parte dos partidos social-democratas e socialistas aderiram a princípios neoliberais nas duas últimas décadas. Conseguirão recuperar parte do eleitorado perdido, que migrou à esquerda e à direita? Os conservadores manterão o poder que hoje têm na França e no Reino Unido? Recuperarão terreno na Alemanha? As esquerdas conseguirão capitalizar o descontentamento? Ou será a extrema direita, como ocorreu nas décadas de 20, 30 e 40 do século passado, com trágicas consequências? Uma coisa é certa: a crise veio para ficar. Naqueles encontros da DGB alguns dos dirigentes sindicais alemães criticaram veladamente seus colegas da CUT brasileira por serem “muito radicais”. Gostaria de saber o que diriam agora.
4/3/20234 minutes, 49 seconds
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A turbulência bancária não acabou

Tentei entender o que estava acontecendo no sistema bancário internacional, que entrou em crise na semana passada, com a insolvência real ou projetada de quatro bancos, três nos Estados Unidos e um - o maior deles - na Europa. Depois de algumas tentativas sem sucesso, tal é a opacidade do “economês”, consegui entender alguma coisa. Daí que o resumo deste comentário é o seguinte: aperte o cinto, porque a turbulência não acabou. Flávio Aguiar, analista político Para começar, imaginemos estar a bordo de uma esquadrilha de aviões sobrevoando o oceano. De repente, a esquadrilha entra numa zona de turbulência. Alguns dos aviões apenas sacodem muito. Mas outros caem num vácuo, e mergulham vertiginosamente em direção ao naufrágio. Ocorre que os aviões da esquadrilha estão interligados por fios invisíveis a olho nu, mas reais. Ou seja, se alguns aviões caem, os outros, no mínimo, também começam a cair, ou pelo menos sacodem muito mais. Foi o que aconteceu. O primeiro avião a cair no vácuo foi o norte-americano Silicon Valley Bank - SVB. A sua queda foi provocada por uma cadeia de fatores. O primeiro deles foi a junção de duas tempestades no horizonte: a pandemia e suas consequências, e a guerra na Ucrânia, que elevou a inflação no mundo inteiro. Para combater a inflação o Federal Reserve Bank, FED, o Banco Central dos Estados Unidos, fez uma dramática elevação da taxa básica de juros, de 0,08% em março de 2022 para 4,57% em março de 2023. Isto desvalorizou os títulos de` longo prazo do Tesouro dos EUA, porque estes têm uma remuneração fixa, que fora estipulada com o taxa de juros baixa. Com a alta, eles perderam o interesse. O SVB apostara muito de seu capital nestes títulos. Também apostara muito em financiar o setor digital de vendas e serviços, inflado durante a pandemia no mundo inteiro. Com o fim da fase aguda desta, o setor se retraiu, pelo menos nos EUA. E as suas empresas pequenas, médias e grandes foram obrigadas a buscar seus capitais depositados para equilibrar suas perdas. Começou uma retirada maciça das contas do SVB. Para atender a demanda, este teve de vender seus títulos de longo prazo - desvalorizados. Uma coisa não cobriu a outra, e o banco quebrou. A desconfiança instalada no sempre nervoso e temperamental “mercado” contaminou dois outros bancos nos Estados Unidos, o Silvergate e o First Republican. O primeiro também quebrou, o o segundo teve de ser socorrido antes que também quebrasse. A bomba agora está nas mãos do governo de Joe Biden, para socorrer os correntistas, sobretudo o das contas não seguradas. Ressalte-se que o SVB costuma ser um grande financiador das campanhas do Partido Democrata. O caso Credit Suisse Enquanto isto, do outro lado do Atlântico, o poderoso Credit Suisse já vinha de um período de turbulência, provocada por suspeitas de gestão inadequada, que levaram a uma retirada de 124 bilhões de euros de suas reservas em 2022, quase 700 bilhões de reais. Os rumores - verdadeiros ou falsos - de gestão problemática se avolumaram no começo deste ano, e começou uma nova corrida de retiradas. Para complicar, um outro bombardeiro peso pesado da esquadrilha, o Banco Nacional da Arábia Saudita, principal acionista do Credit Suisse, anunciou que não colocaria novos fundos neste. A corrida se avolumou, e o Credit começou a despencar no vácuo. Só não caiu de vez porque o Banco Central Suíço  deu-lhe um balão de oxigênio de 62 bilhões de euros, 343 bilhões de reais, para garantir-lhe a liquidez. Mas a hemorragia não parou por aí. A desconfiança em relação ao Credit Suisse continua, e muitos investidores estão saindo de seu cercado em busca de investimentos mais seguros ou rentáveis. Os sinais de um pânico no futuro a frente da esquadrilha se levantaram no horizonte, junto com o fantasma da crise financeira de 2008. Resultado: segundo o jornal El País, da Espanha, numa semana as bolsas financeiras da Europa tiveram uma perda de 50 bilhões de euros em retiradas, ou seja, 13% de seu valor, o equivalente a todo o Banco Santander. O Banco Central Europeu anunciou, olimpicamente, que não via sinais de “contágio”. E o UBS - União de Bancos Suíços, o maior do país, anunciou estar estudando a possibilidade comprar o Credit Suisse. Apesar do otimismo do Banco Central Europeu, e da expectativa de que nos Estados Unidos o governo democrata não vai deixar o setor se estrangular com uma eleição prevista para o ano que vem, o clima geral é o de que “o BCE e Washington no creen en brujas, pero que las hay, las hay”. E para nós, você e eu, sentados numa das aeronaves, sem qualquer influência sobre os pilotos ou os comandantes da esquadrilha, e com um serviço de bordo cada vez mais magro, tudo o que resta a fazer é apertar os cintos e rezar.
3/20/20234 minutes, 46 seconds
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Entenda por que colapso de banco do Vale do Silício causa apreensão em vários países

Em um movimento dramático no domingo (12), o Tesouro dos Estados Unidos assumiu o comando e forneceu uma salvação para os clientes do Silicon Valley Bank (SVB) protegendo todos os seus depósitos além dos limites federalmente segurados.  Thiago de Aragão, de Washington Esta medida foi tomada após o banco PNC Financial recusar qualquer oferta de aquisição do SVB, que atende a uma série de empresas de tecnologia do Vale do Silício. Sem esta ação decisiva do governo americano, estes clientes poderiam ter grandes prejuízos.  O SVB era uma potência no mundo financeiro, oferecendo recursos inestimáveis a empresas de tecnologia em setores-chave. Do software empresarial e fintech à tecnologia de fronteira e às ciências da vida, o empreendedorismo floresceu graças, em parte, à instituição, que proporcionava linhas de crédito para as start-ups. A falência de uma instituição financeira como o SVB, que não acontecia desde a crise de 2008, enviou ondas de choque ao mundo financeiro, mostrando que todos os sistemas bancários precisam permanecer vigilantes contra colapsos. Felizmente - embora não sem consequência - o Tesouro dos EUA interveio com uma ação decisiva que deu alguma garantia a outros bancos. Nos próximos dias, a administração Biden deve informar o Congresso sobre as decisões tomadas sobre o SVB, antes de seu colapso. Depois disso, será possível fazer um exame mais profundo do impacto que o banco teve na indústria tecnológica e o que deu errado com a instituição, tão influente no mundo das finanças. Em resposta à recente incerteza financeira, o Tesouro dos EUA pretende implementar medidas de proteção para investidores e clientes, para que episódios de instabilidade como o atual não se repitam no futuro. Parceiro de empresas chinesas e de tecnologia A queda do SVB deixou muitos fundos de cobertura e empresas de tecnologia chinesas numa situação financeira arriscada. Sem acesso ao mercado americano, estas empresas estão agora desesperadas por financiamento para se manter solventes. O banco tinha se tornado um parceiro importante destas empresas, com os recursos necessários para expandir as suas operações nos EUA e na Europa. As empresas, que antes eram prósperas no Vale do Silício, e seus investidores entraram em pânico devido a um potencial efeito dominó do setor bancário, desencadeado pelo inesperado colapso da SVB.  Os bancos devem se armar contra futuros choques financeiros, considerando os riscos de liquidez e flutuações das taxas de juros, bem como de instabilidade sistêmica. Medidas pró-ativas ajudarão a garantir que, independente de crises, as instituições estejam preparadas para resistir. Infelizmente, o colapso do SVB mostrou a rapidez com que uma tempestade pode se materializar, mas ainda há tempo para que outros bancos tomem medidas antes de enfrentar dificuldades semelhantes.
3/13/20235 minutes, 22 seconds
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Estudo faz paralelo entre desmatamento e diminuição das chuvas

Uma equipe da Universidade de Leeds, na Inglaterra, quantificou pela primeira vez a perda de chuvas nas florestas tropicais em relação ao desmatamento. Já havia relatos dispersos sobre a diminuição das chuvas em áreas desmatadas. Mas o estudo da universidade britânica mediu com critérios científicos esse paralelo.  O estudo mostrou que quando a área desmatada passa de 50 km² a perda de chuvas no microclima regional passa a ser mais significativa. Se a área desmatada chega a 200 km², para cada 1% de perda na floresta há uma perda correlata de 0,25% na quantidade local de chuva. Isto se deve ao fato de que nas florestas tropicais a quantidade de chuva depende também da quantidade de evaporação de água propiciada pela própria floresta. Segundo o professor Dominick Spraklen, um dos membros da equipe, dependendo da região amazônica de 25% a 50% da quantidade de chuva se deve a esta reciclagem da água feita pela própria floresta. O estudo levanta a hipótese de que a floresta amazônica pode estar perto de perder a quantidade de chuva necessária para sua sobrevivência. O alerta se estende às outras duas grandes florestas tropicais no mundo: a da bacia do Congo, na África, e a da Indonésia, na Ásia. E o estudo demonstra que a diminuição das chuvas nas florestas tropicais também afeta negativamente a agricultura e a qualidade vida nas cidades que as bordejam. Pior seca em 500 anos Entretanto, o problema da água não se restringe às áreas tropicais. Ele também se manifesta em regiões temperadas, como a Europa. Os cientistas estimam que a seca de 2022 no continente foi a pior em 500 anos, afetando gravemente rios de Portugal, Espanha, França, Itália, Alemanha, e também de outros países. Mas o problema é mais grave do que se pensava porque não se refere apenas à água de rios e lagos na superfície. Um estudo da Universidade de Saskatchewan, no Canadá, com base em dados obtidos através do sistema norte-americano e alemão de satélites conhecido como GRACE, mostrou que há uma perda significativa de água nos aquíferos subterrâneos europeus. Em parte, esta perda se deve à falta de água ou de sua má distribuição na superfície, forçando agricultores e regiões urbanas a explorarem mais intensamente os reservatórios subterrâneos. Segundo dados do GRACE cerca de 30% do território europeu padece de problemas com a água durante todo o ano, e os outros 70% pelo menos durante os meses mais quentes. O problema é mais grave nas ilhas do Mediterrâneo e nos países continentais do sul da Europa. O estudo mostra que desde o começo do século XXI a perda anual de água no continente europeu é de 84 gigatons por ano. Um gigaton equivale a um bilhão de toneladas de água. A perda anual equivale a um lago Ontário, entre o Canadá e os Estados Unidos, que tem quase 19 mil km². Os cientistas envolvidos na pesquisa atribuem a perda à combinação do aquecimento global que, segundo eles, provoca uma distribuição muito desigual de chuvas, e à maior intensidade na exploração dos aquíferos subterrâneos. A distribuição desigual das chuvas pode ser catastrófica, provocando inundações em alguns locais e secas extremas em outros, além de dificultar a reposição das reservas em aquíferos. Poluição provocada pelo homem intensifica o problema O problema se complica mais ainda devido a práticas humanas, tanto nas áreas rurais como nas urbanas e industriais, que poluem sistematicamente as águas disponíveis. O seu enfrentamento depende tanto de soluções técnicas quanto de políticas adequadas de controle sobre os poluentes - os químicos e seus distribuidores humanos. No segundo semestre deste ano, a Organização das Nações Unidas realizará uma segunda conferência mundial sobre o tema em Nova Iorque. As dificuldades de se obter um grande acordo mundial sobre o tema são enormes, sobretudo no que se refere aos aquíferos subterrâneos, porque eles são invisíveis a olho nu. Bem diz o ditado: “o que os olhos não veem o coração não sente”. Mas se não vermos o que está acontecendo, a catástrofe será maior do que a que já se previa que poderia acontecer.
3/6/20234 minutes, 51 seconds
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Protestos contra reforma eleitoral podem redefinir corrida eleitoral no México

Milhares de mexicanos consternados foram à Praça Zócalo da Cidade do México no domingo em uma manifestação coletiva de dissidência contra a reforma eleitoral proposta pelo presidente Andrés Manuel López Obrador, conhecido pelo acrônimo AMLO. Políticos da oposição e organizações da sociedade civil uniram forças sob uma mensagem comum, de que as mudanças no Instituto Nacional Eleitoral (INE) não podem ser aceitas sem consentimento popular. Esta é apenas mais uma manifestação de uma população indignada, cujos protestos sobre este assunto se tornaram ainda mais fortes desde que começaram, há cinco meses. Thiago de Aragão, analista político Milhares de manifestantes tomaram as ruas e ocuparam a simbólica Plaza de la Constitución em frente à sede do Supremo Tribunal, exigindo que o Congresso escute suas exigências de reformas constitucionais. O ministro aposentado José Ramon Cossio falou apaixonadamente do pódio sobre a defesa da democracia e do respeito inabalável pela Carta Magna do país. As modificações das leis eleitorais recentemente aprovadas pelo Poder Legislativo do México são fortemente contestadas e enfrentam um exame rigoroso no Supremo Tribunal do país. O ex-ministro Cossío endossa as críticas, afirmando que a Constituição salvaguarda a democracia ao possibilitar o equilibrio entre poderes e o controle de políticos que atualmente ocupam posições governamentais. Isso garante uma importante proteção dos direitos dos cidadãos, apesar das tentativas do presidente López Obrador de silenciar os juízes da Suprema Corte que avaliam essas mudanças. Foi a manifestação mais significativa desde que López Obrador foi eleito em 2018 e uma indicação de que seu partido está passando pelo período mais tumultuado até agora. As ruas estavam cheias de manifestantes desde o início da manhã e a mídia social viu um afluxo de imagens mostrando uma forte oposição em meio a uma solidariedade esperançosa para a mudança na política mexicana. Eleição presidencial de 2024 AMLO está esperando uma grande manifestação de apoio no dia 18 de março, quando ele levará à mesma praça Zócalo o comício de aniversário de uma de suas maiores realizações: a expropriação de petróleo. Com as promessas dos apoiadores de que eles encherão a praça, parece que esse evento cheio de ímpeto acrescentará mais um capítulo triunfante nos livros de história de sua presidência. Na semana passada, o Senado do México finalmente ratificou o "plano B" da reforma eleitoral proposta por Obrador. O texto limita o poder do INE, uma instituição que supervisiona as eleições em escala nacional, levando à dissolução de 300 conselhos distritais para realizar uma economia de 3,5 bilhões de pesos mexicanos. Enquanto os representantes do governo argumentam que isso melhora a situação financeira do INE, os oponentes estão preocupados com o que parece ser uma quantia ínfima, mas de alto valor para a democracia. Com uma supervisão mais limitada, aumenta o risco de o México enfrentar eleições menos seguras e transparentes nos 32 estados do país. Lopez Obrador terá um grande desafio pela frente. Mesmo sem concorrer à reeleição no pleito programado para 2024, seu sucessor no partido Morena iniciará a campanha na condição de favorito. Para a oposição, essa ação contra o INE caiu como uma luva, pois essa é a grande chance que tem em mãos para enfraquecer o poder e a popularidade de AMLO.
2/27/20235 minutes, 7 seconds
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Os prisioneiros da guerra entre Rússia e Ucrânia

“Nós precisamos vencer o Golias russo”, com estas palavras o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, definiu o papel de seu país e de seu governo na guerra que nesta semana vai completar o primeiro ano de vida e mortes, em seu discurso durante a abertura da Berlinale, o Festival Internacional de Cinema da capital alemã, na noite de 16 de fevereiro. Flávio Aguiar, analista político  E no encerramento de sua fala de dez minutos, reiterou a imagem, repescando uma expressão do tempo da Guerra Fria entre capitalismo e comunismo: “Nós todos somos o Davi do Mundo Livre”. Dessa forma, explicitou o meta-discurso que acompanha o desempenho de suas Forças Armadas no campo de batalha. Meta-discurso: a referência retórica que projeta no campo de valores éticos e até estéticos aquilo que acontece no mundo real, no caso, o conflito que vem sendo descrito como o mais cruento na Europa desde a Segunda Guerra, apesar das atrocidades cometidas por todos os lados na chamada Guerra Civil Iugoslava, entre 1991 e 2001. O esforço retórico para enquadrar a atuação do governo de Kiev na moldura bíblica evoca comparações curiosas. Na narrativa sagrada para os cristãos, o pastor de ovelhas Davi vence o gigante Golias porque tem por trás de si a força de Jeová, o Senhor dos Exércitos de Israel, por ele invocada. Volodymyr Zelensky, que se projeta como Davi, tem por trás de si todo o peso do Ocidente ressuscitado: os Estados Unidos, o Reino Unido, a OTAN e a União Europeia, que lhe fornecem bilhões de dólares e euros em armamentos. Seu esforço retórico é o de convencer o mundo de que ao lado da força das armas por que implora continuamente, ele conta com a força superior da razão e da ética, o que lhe concede uma dimensão histórica e messiânica.  O lado russo Do lado russo, o esforço não é menor. Vladimir Putin tem diante de si o desafio de transformar a invasão de outro país num gesto defensivo, o que também exige uma certa cabriola discursiva. A referência buscada é a da Grande Guerra Patriótica, como é descrita, desde os tempos da finada União Soviética, a resistência custosa em termos de vidas, mas bem sucedida ao então invasor nazista, durante a Segunda Guerra Mundial. A referência à “desnazificação” da Ucrânia é constante, projetando uma proteção histórica e grandiosa da ameaçada “Mãe Pátria”, batizando com tintas de heroísmo nacional a ocupação da zona fronteiriça da Ucrânia, para a salvaguarda de sua população, e também a reanexação da península da Crimeia, que já fora russa no passado, até os anos 50 do século XX. Até hoje ninguém entendeu o porquê do então primeiro-ministro soviético Nikita Kruschev ter doado o território à Ucrânia. Acontece que as palavras não são neutras, elas cobram seu preço. Davi não pode perder para Golias; nem mesmo a possibilidade do empate lhe é concedida. Se ele não matasse o gigante, ficaria desmoralizado perante o rei Saul, perante Israel, perante seus irmãos e seu pai Jessé, e também perante Jeová. Se Kiev não “vencer a guerra”, como hoje se apregoa no Ocidente, ela não passará de uma aventura que torrou recursos bilionários e contribuiu para devastar um país. Do outro lado, a Pátria Grande também não admite concessões, nem empates tampouco. Somente a vitória garante a sua integridade. Se a Rússia não “vencer”, de algum modo “a guerra”, ela também não passará de uma invasão desnecessária que devastou um país vizinho e sacrificou a vida de milhares de seus soldados e civis do outro lado. Temos assim uma guerra em que, tanto quanto senhores, os envolvidos nela são prisioneiros de suas palavras. E de momento não têm como escapar desta cumbuca em que meteram suas mãos. Significado de "vitória"  O que significa a palavra “vitória” para Zelensky e seus aliados? Expulsar os russos dos territórios ocupados a partir do começo da guerra, em 24 de fevereiro de 2022? Reconquistar a Crimeia? Afundar a economia russa e derrubar Vladimir Putin? Qualquer destes objetivos parece hoje muito difícil de atingir. E para Putin, o que significa a palavra “vitória”? A Rússia parece não ter condições de ocupar a Ucrânia, nem política, nem econômica, nem militarmente. Derrubar Zelensky parece estar fora de alcance. Manter os territórios ocupados como um tampão para proteger a Crimeia, onde tem bases militares e navais? Mesmo esses últimos objetivos envolvem um custo enorme para a economia do país, acossada pelas sanções econômicas, apesar da asa protetora da China, embora esta pareça reservadamente crítica em relação à guerra. É claro que tudo pode mudar de uma hora para outra. Mas de momento a possibilidade de deter a matança no curto prazo parece muito remota. Usamos a palavra porque uma guerra sempre envolve a promoção de uma enorme matança. Isso nos lembra a sabedoria antiga das palavras de um ditado muito popular no nosso Brasil: “macaco velho não mete a mão em cumbuca”. 
2/20/20236 minutes, 18 seconds
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Espionagem: rivalidade entre EUA e China atinge novo patamar

A disputa entre EUA e China tem se intensificado nos últimos anos. A rivalidade entre as duas maiores economias do mundo tem sido cada vez mais evidente, desde a guerra comercial até as disputas militares. O caso dos balões revelado nos últimos dias demonstra que a espionagem China-EUA atingiu o nível mais elevado de todos os tempos. Thiago de Aragão, analista político Os Estados Unidos têm uma força militar significativamente maior que a China, mas os especialistas acreditam que o país asiático está rapidamente alcançando ou ultrapassando os Estados Unidos em termos de tecnologia militar. Os próximos passos na disputa entre EUA e China dependem das intenções de ambas as partes. Os Estados Unidos parecem estar focados em manter sua supremacia militar no Pacífico, enquanto a China busca expandir sua influência regional e global. O governo dos EUA tem feito pressão sobre seus aliados para que não façam negócios com a China, enquanto Pequim continua a investir em infraestrutura e tecnologia militar para fortalecer sua presença na região. Além disso, os Estados Unidos também estão trabalhando para conter o avanço da China no setor de telecomunicações, impondo restrições às empresas chinesas como Huawei e ZTE. Por outro lado, a China tem procurado reforçar sua presença militar na região do Indo-Pacífico, construindo bases militares em ilhas artificiais e realizando exercícios militares frequentes nas proximidades de Taiwan. No futuro próximo, é provável que vejamos um confronto direto entre os dois países sobre questões regionais importantes como Taiwan e o Mar da China Meridional. É possível que os Estados Unidos tentem bloquear ou limitar o avanço da China nessas áreas por meio de sanções comerciais ou diplomáticas. No entanto, qualquer escalada militar direta poderia ter consequências catastróficas para todos os envolvidos. Espionagem Os últimos desenvolvimentos na espionagem China-EUA destacam a intensificação da rivalidade entre os dois países. Com ambos os lados acusados de utilizar tecnologias avançadas para realizar espionagem cibernética e física, esta batalha contínua por hegemonia assumiu uma nova dimensão. Os Estados Unidos e a China estão agora envolvidos em uma corrida armamentista cada vez maior, enquanto cada lado tenta ganhar uma borda sobre o outro.  Isto levou ambos os países a intensificarem seus esforços em áreas tais como tecnologia, vigilância e coleta de inteligência humana. Além disso, tem havido relatos de tentativas da China de roubar propriedade intelectual de empresas e universidades americanas. A crescente hostilidade entre as duas nações é ainda evidenciada pelo aumento das tensões em relação a acordos comerciais e atividades militares no Mar do Sul da China. Resta saber se as conversas e negociações diplomáticas podem levar a uma resolução deste conflito rapidamente, ou se as tensões continuarão a aumentar no futuro.  Independentemente do resultado, é evidente que a espionagem entre os dois países atingiu o nível mais alto de todos os tempos. Como ambos os lados procuram obter uma vantagem sobre o outro, a espionagem entre os dois países é provável que continue a ser uma característica proeminente dessa rivalidade contínua. Legalidade de operações aéreas questionada O incidente de os EUA abaterem um balão espião chinês levantou muitas questões sobre relações internacionais e questões de segurança. Muitos argumentaram que isto mostra a vontade dos EUA de tomar medidas militares para proteger seus próprios interesses, enquanto outros questionaram se uma medida tão extrema se justificava ou não, dadas as circunstâncias.  Há também questões sobre a legalidade de tais ações, pois o direito internacional é muitas vezes obscuro quando se trata de atividade militar em solo ou espaço aéreo estrangeiro. Como as tensões entre os EUA e a China continuam a aumentar, será importante monitorar de perto a situação e considerar todos os resultados possíveis antes de tomar qualquer outra medida. O pior cenário nas tensões EUA-China envolveria um conflito militar em larga escala. Os dois países têm visões diferentes sobre uma série de questões, do comércio aos direitos humanos e a disputa do Mar do Sul da China. Se estes desentendimentos se agravarem, poderá levar a um grande confronto entre os dois lados. Tal conflito poderia começar com Washington impondo sanções a empresas ou indivíduos chineses, levando a medidas de retaliação por parte de Pequim. Isto poderia desencadear uma guerra comercial, com outros países potencialmente se envolvendo na luta. Em casos extremos, poderia até mesmo levar a um conflito militar total envolvendo tropas terrestres e ataques aéreos. As consequências de tal conflito seriam de longo alcance e poderiam ter efeitos devastadores na economia global. Os custos econômicos de um conflito militar em larga escala entre os dois concorrentes seriam imensos, com indústrias inteiras sendo afetadas e perdas significativas de empregos em ambos os países. Há também o potencial de instabilidade política a longo prazo em várias partes do mundo, bem como os danos ambientais causados pelo próprio conflito. Espaço para evolução diplomática? Portanto, é essencial que ambos os lados tomem medidas para diminuir as tensões e evitar que ocorra o pior cenário possível. Isto exigirá diálogo, diplomacia e compromisso a fim de resolver as divergências em questão. Também é importante que outros países se envolvam nessas conversas e atuem como mediadores entre os dois lados. Em última análise, uma resolução pacífica é a única maneira de garantir que os EUA e a China possam continuar a ter relações fortes no futuro.
2/13/20235 minutes, 29 seconds
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O acordo entre União Europeia e Mercosul vai sair do papel?

Depois de mais de 20 anos de complicadas negociações o acordo entre a União Europeia e o Mercosul chegou ao papel, isto é, chegou a uma redação acordada entre os encarregados de viabilizá-lo. Entretanto a questão que se coloca agora é a de se ele sairá do papel, isto é, se será implementado depois de sua aprovação pelos poderes legislativos de todos os países envolvidos. Flávio Aguiar, analista político Há novas expectativas positivas a respeito, mas também há grandes resistências e problemas a resolver. Ao mesmo tempo em que a redação do acordo chegava a termo, ele próprio empacava em ponto morto, sobretudo devido à política do governo anterior do Brasil, totalmente avessa à proteção do meio-ambiente. A situação melhorou com o compromisso do novo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de proteger os biomas e o meio ambiente do país de um modo geral, retomando uma liderança internacional que o Brasil já teve no passado. Isto ficou claro durante a visita, na semana passada, do chanceler alemão Olaf Scholz ao Brasil. A mídia alemã deu grande destaque à diferença de posição entre os dois governos no que se refere ao fornecimento de armamentos ao governo da Ucrânia, em guerra com a Rússia. Esta mídia, cujo apoio ao governo de Kiev é amplo, geral e irrestrito, viu com grande desagrado a negativa do presidente Lula quanto a entregar a munição que fabrica para os tanques Leopard 2 que a Alemanha se comprometeu a enviar para o governo ucraniano. Mas o fato é que o encontro entre os dois governantes abordou e se pôs de acordo quanto a uma enorme série de iniciativas de cooperação, entre elas a de retomar o caminho para a efetivação do acordo entre a União Europeia e o Mercosul, tema que o chanceler alemão já abordara com o presidente Alberto Fernandez na sua passagem prévia por Buenos Aires. Esta retomada tem o apoio também de Frans Timmermans, vice-presidente da Comissão Europeia para Questões do Meio-Ambiente e de Josep Borrel, vice-presidente para Relações Internacionais e de Segurança. Mas é do lado europeu que partem as principais resistências quanto à implementação do acordo, sobretudo da parte do setor agrícola francês. Logo depois da visita de Scholz à América do Sul, o ministro francês da Agricultura, Marc Ferneau, declarou que se a França admite a possibilidade do acordo, ela não o ratificaria “no seu estado atual”, numa referência a questões ambientais e também ao que considera a busca de “um acordo comercial justo”. A questão é controversa, ou como dizia um colega meu de universidade, é “uma faca de muitos gumes”, cortando para vários lados. Temas controversos A União Europeia está endurecendo seus critérios quanto ao uso de agrotóxicos para produtos importados. Alguns desses produtos proibidos ou de uso bastante restrito, como os chamados “neonicotinoides”, são utilizados no Brasil, em que o governo anterior desenvolveu uma política de franca liberação no uso de agrotóxicos. Porém não se pode esquecer que muitos desses produtos proibidos na Europa são fabricados… na própria Europa e exportados para dezenas de países pelo mundo afora, inclusive para o Brasil! O acordo não se refere apenas ao comércio, embora este aspecto seja o mais destacado em suas repercussões. Várias tarifas sobre importação e exportação seriam gradualmente eliminadas, beneficiando no Mercosul a exportação de produtos agrícolas, carne bovina e de frango, açúcar, arroz, milho, óleos vegetais e outros, e na União Europeia a exportação de veículos, maquinário, produtos químicos e farmacêuticos. Do lado brasileiro há preocupações também por parte de associações ambientalistas e dos povos originários, alegando que a sociedade civil não foi devidamente ouvida quanto aos termos do acordo, cujo conteúdo é largamente desconhecido. Como se vê, o caminho para a implementação desse acordo será longo e labiríntico. Entretanto há um aspecto paradoxal que deve ser ressaltado. Não vamos cometer a loucura de dizer que há guerras que vem para o bem, mas sem dúvida a já mencionada guerra entre a Rússia e a Ucrânia é um dos fatores que está ajudando a retomada do caminho para a implementação do acordo. O conflito, cujo fim está longe de aparecer no horizonte, provocou uma carestia de energia e de produtos agrícolas e de insumos necessários para o setor em toda a Europa, forçando os países do continente a buscar novos mercados onde se abastecer. A Ucrânia vai levar muito tempo para se recuperar da devastação a que está submetida, e as relações da União Europeia com a Rússia estão seriamente abaladas e assim permanecerão por muito tempo. Também por isto os olhos europeus voltaram a se fixar na produção do Mercosul.
2/8/20235 minutes, 31 seconds
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Opinião: Decisão alemã de enviar tanques Leopard 2 para a Ucrânia foi difícil mas acertada

Olaf Scholz, chanceler alemão, fez a coisa certa quando cedeu às pressões domésticas e internacionais, e finalmente resolveu enviar tanques “Leopard” para a Ucrânia. Certamente não foi uma decisão fácil, já que esses blindados são as joias do exército alemão. Observar a reação e eficiência desses tanques em operação na Ucrânia pode gerar enorme confiança ou decepção em cima da capacidade operacional do veículo. Essa preocupação é essencialmente compartilhada entre militares alemães de alto nível, mas não tanto entre os membros do gabinete de Olaf Scholz. Tendo durante tantos anos sido dependente do gás russo, Scholz constata o que o resto da Europa percebeu há um ano: o afastamento da Rússia é pra valer. Não há uma nostalgia alemã dos dias em que o gás russo fluía nas tubulações da Renânia Vestfália, da Bavária e da Baixa Saxônia. O que há é uma cautela relacionada ao medo da guerra começar a fugir do controle, de uma forma irreversível. Scholz teme que a entrega dos “Leopards” leve a um espiral que consuma cada vez mais materiais militares alemães. Se por um lado, ninguém precisa ser Nobel da Paz para compreender que a ajuda aos ucranianos representa uma ajuda à democracia, por outro, Scholz sabe que a cada tanque enviado à Ucrânia, ele precisa mais que nunca que a Rússia não vença a guerra.  A decisão de enviar os tanques foi uma decisão difícil, mas não foi tomada só. O presidente norte-americano Joe Biden também colocou a cara a tapa quando aprovou o envio de tanques M1 Abrams à Ucrânia. Essa decisão faz a de Scholz parecer mais fácil, dilui um pouco a pressão, mas dobra a raiva e o desespero de Putin. A Ucrânia, obviamente, necessita mais e mais. Está claro que nem Rússia ou Ucrânia são fortes o suficiente para vencer o oponente. O fato de Kiev precisar recuperar territórios, faz com que sua necessidade de armamentos para contra-ataques seja mais imediato e impactante.  Mal a tinta da caneta da assinatura de Scholz para enviar tanques “Leopard 2” secou, a Ucrânia já colocou na mesa uma demanda mais ousada, robusta e que, sim, poderia virar totalmente a balança da guerra a seu favor. Mas também aumentaria consideravelmente a possibilidade da guerra extrapolar as fronteiras ucranianas. Numa expectativa ousada, porém compreensível, os ucranianos agora querem uma coalizão de caças de diversos países da OTAN, para a formação de uma força aérea de combate sem precedentes desde o pós-guerra. Os EUA contribuiriam com F-16s, o Reino Unido com Tornados, Suécia com seus Gripens, França com os Rafales e espanhóis e italianos enviando seus Eurofighters.  Guerra europeia Se hipoteticamente isso acontecesse, a Ucrânia teria uma vantagem aérea que possivelmente viraria a balança para seu lado. Justamente por isso, a Rússia poderia “apelar” para jogar por tudo ou nada. A apelação poderia envolver ataques, deliberados ou “sem querer” contra alvos da OTAN na Polônia, Romênia, Letônia, Lituânia e Estônia. Isso, sabemos, poderia desencadear uma guerra europeia.  Dificilmente Putin não entenderia isso como uma expressão clara de que a OTAN entrou na guerra. A linha vermelha que não deve ser cruzada, para Putin é essa: a entrega de caças. Para a Ucrânia, os caças são exatamente o que eles desesperadamente precisam.  No entanto, é preciso viver um dia de cada vez e observar a reação russa ao desempenho dos M1 Abrams e Leopards em combate. Mais importante, ver como esses tanques podem afetar o rumo da guerra. Nos aproximamos de um afunilamento perigoso: Ucrânia precisa de mais, OTAN não consegue dar mais, Putin está sentindo a pressão da guerra e das sanções. A exposição do limite no qual todos se encontram não representa, necessariamente, uma aproximação a um cessar-fogo. Infelizmente, aparentam representar a aproximação de um estágio pior na guerra.
1/30/20234 minutes, 39 seconds
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O mundo se solidariza com Lula e a democracia brasileira

As notícias e as cenas do ataque contra os prédios dos três poderes constitucionais por partidários do ex-presidente Jair Bolsonaro estão correndo o mundo. Flavio Aguiar, analista político De todos os quadrantes e de governantes de diferentes tendências ideológicas estão chegando mensagens de solidariedade com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e com a democracia brasileira. Editoriais e comentários na mídia mundial repudiam os atos de vandalismo. Ao mesmo tempo questionam se não houve no mínimo negligência ou até cumplicidade por parte de autoridades responsáveis pela segurança do Distrito Federal, apontando a lentidão e ineficiência das primeiras atitudes das forças policiais. Mensagens de solidariedade ao presidente brasileiro e de apoio à democracia partiram dos governos dos Estados Unidos, Chile, Colômbia, Argentina, França, Reino Unido, Venezuela, Portugal, Peru, Equador, Bolívia, Espanha, Cuba, México, Uruguai, Paraguai, Canadá, Itália, Austrália dentre outros, além de representantes de organismos internacionais como a ONU, a OEA e a União Europeia. Até os atos de vandalismo deste fim de semana o noticiário sobre o Brasil era amplamente positivo ou de solidariedade e luto pela morte de Pelé. A mídia europeia saudava a reconciliação entre o presidente Lula e a ex- e nova ministra do Meio-Ambiente Marina da Silva, como um sinal esperançoso para proteção da Amazônia e de outros biomas brasileiros. A Alemanha e a Noruega anunciaram a retomada do financiamento do Fundo de Proteção à Floresta. O Reino Unido declarou estar disposto a examinar a possibilidade de adesão ao Fundo, exemplo que poderia ser seguido por outros países. A expectativa era e é de que o Brasil retome a liderança que já teve na diplomacia mundial quanto à defesa do meio-ambiente e dos direitos humanos, depois dos anos de descaso por parte do governo que se encerrou em 31 de dezembro. Pode-se dizer que um terremoto político abalou este clima de lua-de-mel. Mas não o destruiu. Prova disto são as mensagens de solidariedade e confiança recebidas pelo governo brasileiro e de condenação dos atos de vandalismo que muitos caracterizam como terroristas. O presidente Lula foi qualificado pelo jornal Le Monde como “o presidente Fênix”, em alusão à ave que na mitologia grega renascia das próprias cinzas. Do mesmo modo, o Brasil e a democracia brasileira estão renascendo das cinzas da devastação ambiental e política. O caminho será árduo e cheio de obstáculos. Mas a esperança também está renascendo, por sobre os vândalos que querem destruí-la.
1/9/20233 minutes, 24 seconds
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Geopolítica impulsiona devoluções de bens culturais a países colonizados

A atual dinâmica da geopolítica, com novas polaridades emergentes entre Estados Unidos, Europa, Rússia e China, coloca na pauta do dia a disputa por espaços no Terceiro Mundo. Um efeito colateral positivo desta nova dinâmica, tão marcada por guerras, agressões e disputas acirradas por mercados, é o de impulsionar a diplomacia de devolução de bens culturais saqueados pelas potências ao longo dos séculos nos países por elas colonizados. Neste ano de 2022 registraram-nas várias devoluções, notadamente de países europeus em relação à África. Há poucos dias o governo alemão devolveu 21 peças de bronze à Nigéria, pertencentes ao antigo Reino do Benim (não confundir com o atual e vizinho país do Benim). Estas peças, junto com outras, foram roubadas por militares britânicos no século 19 e em seguida vendidas a diversos museus europeus. No ato da entrega, a ministra das Relações Exteriores da Alemanha, Annalena Baerbock, comparou a situação a uma hipotética impossibilidade, por parte dos alemães, de contemplarem a Bíblia de Gutenberg. O ministro da Cultura português, Pedro Adão e Silva, anunciou a decisão por parte de seu governo de inventariar cuidadosa e discretamente, “sem politização” (sic), obras de arte, bens culturais, objetos de culto e até restos mortais tomados a comunidades das ex-colônias, para devolução. O Papa Francisco I decidiu, também neste dezembro, enviar ao Arcebispado da Igreja Ortodoxa em Atenas, na Grécia, três peças pertencentes ao Partenon, que estavam há séculos no Museu do Vaticano. Em outubro passado o Vaticano já devolvera 3 múmias pré-hispânicas ao Peru e uma cabeça reduzida e mumificada ao Equador. Em agosto o Museu Horniman, do Reino Unido, anunciou a devolução de 72 peças à Nigéria, também pertencentes ao antigo Reino do Benim. O presidente francês Emmanuel Macron já ordenara, em 2021, o retorno de 26 peças do Museu do Quai Branly, em Paris, ao atual Benim, vizinho da Nigéria. Lotes arqueológicos A tendência também é observada em outras partes do mundo. Em setembro, a Justiça dos Estados Unidos ordenou a devolução de 16 assim chamados “tesouros arqueológicos” ao Egito, que estavam no Metropolitan Museum of Art, em Nova York. O governo uruguaio anunciou a devolução de 39 lotes arqueológicos e culturais ao Equador, Peru e Egito, que haviam chegado ao país através de contrabando. Mas nem sempre a tendência desperta entusiasmo ou sequer aprovação. Há notícias de que partidários do movimento Chega, de extrema direita, em Portugal, se opõem ao anúncio de possível devolução feito pelo ministro da Cultura daquele país. Alegam que esta política compromete o culto à grandeza do antigo Império Português, e culpam as recentes levas de imigrantes como responsáveis por este comprometimento do nacionalismo em Portugal. Por seu turno, o Museu Britânico, que há anos discute uma possível devolução das frisas do Partenon à Grécia, até o momento mantém um silêncio obsequioso sobre a reivindicação, por parte do Egito, do retorno da famosa Pedra de Roseta, graças à qual o arqueólogo francês Jean-François Champollion, no século 19, conseguiu decifrar os antigos hieróglifos egípcios. A Pedra de Roseta foi tomada por Napoleão I, e depois pelos ingleses, como despojo de guerra e levada para o Museu Britânico, em Londres. Este museu também guarda, até o momento, um silêncio sepulcral sobre as peças que obteve daqueles militares que saquearam o antigo Reino do Benim, na Nigéria. Atitudes negativas como estas justificam o dito irônico de que o Egito ainda tem pirâmides porque elas eram pesadas demais para serem levadas a algum país europeu.
12/26/20224 minutes, 40 seconds
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China vive situação caótica com fim da política de Covid Zero

A imposição da política de Covid Zero na China, gerou um caos social e sanitário, culminando com a morte de dez pessoas numa fábrica em Xinjiang e protestos contra Xi Jinping. Essa situação levou o líder chinês a determinar o fim de uma longa política em um dos últimos países a ainda sofrer de forma substancial com a pandemia que assolou o mundo em 2020 e 2021.  Por Thiago de Aragão, analista político Com o fim da política de Covid Zero, a China vivia um sentimento generalizado de alívio. No entanto, a falta de um elemento essencial está colocando o país em uma situação complicada que, como da última vez, acarreta em inúmeros problemas interligados: pressão nos hospitais, mortes, fechamento de fábricas, danos a cadeia de produção e impacto negativo na economia (que é a principal base de sustentação do Partido Comunista Chinês perante a sociedade). Esse elemento primordial para superar a crise é a vacina. A China foi um dos primeiros países do mundo a desenvolver imunizantes anticovid-19. Tanto a Coronavac como a Sinovac são de fabricação chinesa, apesar de o governo chinês também estar envolvido no financiamento da vacina da AstraZeneca e, via a BioNTech, indiretamente ligado à vacina da Pfizer. Como podemos ver ao longo dos últimos anos, a vacina da Pfizer (e Moderna), com a tecnologia RNA mensageiro, se mostrou mais eficaz na neutralização do vírus, fazendo com que esse imunizante se tornasse o predominante em vários países. A China, por outro lado, por conta da propaganda “necessária” ao partido, resolveu não comprar as vacinas mRNA (e tentar desenvolver a própria). Situação caótica A falta de vacinação eficiente na população fez com que uma situação caótica se estabelecesse no país. No momento, quase um terço da população de Pequim (22 milhões) está com suspeitas de estar com o coronavírus. O caos começa a se disseminar na mesma proporção de contaminação do vírus. Caminhoneiros não conseguem levar cargas e suprimentos de um lugar para outro, alimentos não estão chegando nos supermercados e a população, começando a se desesperar, acumula o máximo de produtos não perecíveis. Além do temor de que o vírus se espalhe ainda mais, o Partido Comunista Chinês também lida com a hipótese de que o alto volume de contaminações e possíveis usos indiscriminados de remédios não relacionados gerem um novo ciclo de mutações no vírus, que poderia resultar em uma variante mais agressiva que a ômicron. Claro que isso é um problema futuro, e é difícil o governo chinês lidar com eventualidades quando problemas atuais estão prejudicando num ritmo acelerado a percepção da população em relação ao partido. Assim, as próximas semanas serão críticas em relação a estratégia adotada para conter esse avanço avassalador da Covid-19. Não podemos excluir a hipótese do retorno da política de Covid Zero com o intuito de ganhar tempo para acelerar o processo de vacinação dos mais idosos e, quem sabe, produzir a própria vacina mRNA.
12/19/20224 minutes, 11 seconds
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Rede de extrema direita desmantelada na Alemanha tinha conexões com o Brasil

Na semana passada uma mega-operação da polícia alemã revelou uma rede da extrema direita que conspirava para tomar o poder no país. Seus planos, que muitos analistas consideram delirantes, mas que outros levam a sério, incluíam uma invasão do Bundestag, o Parlamento alemão, o corte de energia no país, provocando o caos, a derrubada do governo e a tomada do poder, além da renegociação com as potências vencedoras da Segunda Guerra Mundial das fronteiras alemãs. Flavio Aguiar, analista político De início, foram detidas 25 pessoas, e outras 27 foram postas sob investigação, incluindo um autoproclamado príncipe de família aristocrática, militares reformados de alta patente das Forças Armadas e uma juíza e ex-deputada do Parlamento, filiada ao partido Alternative für Deutschland.  A rede deste grupo, intitulado de União Patriótica, se estendia por diversos estados alemães e tinha conexões internacionais, chegando, por via direta ou indireta, até o Brasil.  De acordo com o serviço de inteligência encarregado de investigações domésticas, o Bundesamt für Verfassungschutz (BfV), o União Patriótica faz parte de um movimento mais amplo, o Reichsbürger - Cidadãos do Império Alemão, que soma cerca de 21 mil membros ativos. Mas este movimento não chega a ser uma organização.  Na verdade, debaixo desta sigla se encontram inúmeras pequenas organizações disseminadas por todo o país. Seus membros, em geral, são do sexo masculino, têm 50 anos ou mais e defendem ideias antissemitas, além de manifestarem uma nostalgia do regime nazista, um culto às armas e, nos casos mais radicais, uma apologia à violência política.  O movimento ganhou mais força e amplitude a partir de 2020, ao lutar contra as medidas sanitárias implementadas durante a pandemia da Covid-19, incluindo a vacinação. Infiltrações em orgãos de Segurança Uma das maiores preocupações dos que investigam o movimento é sua infiltração em órgãos de Segurança, incluindo as Forças Armadas e a Polícia Federal. Entre 2018 e 2021, o BfV investigou 860 casos suspeitos de atividades de extrema direita por membros dos órgãos de Segurança, concluindo que em 327 deles havia provas positivas a respeito. Entretanto, estimativas dentro do próprio BfV avaliam que o número de casos reais pode ser nove ou dez vezes maior. Um dos casos mais sensíveis da infiltração de grupos de extrema direita envolveu o comando antiterrorista de elite do Exército conhecido como KSK, Kommandos Specialkräfte - Comandos de Forças Especiais. Fundado em 1996, seu comandante foi forçado a renunciar em 2003 por denúncias de envolvimento com a extrema direita alemã. E, em 2020, uma das quatro unidades do KSK foi inteiramente dissolvida pelo mesmo motivo. Conexões com o Brasil Um dos militares reformados detidos na operação policial na semana passada, pertencente ao União Patriótica, costumava passar férias em Santa Catarina, no Brasil, onde tem duas empresas em operação. Outros membros do grupo têm ligação com o movimento norte-americano e internacional conhecido como QAnon, presente hoje em mais de 70 países, incluindo o Brasil. Entre outras teorias conspiratórias, o QAnon defende a ideia de que houve e há um complô contra o ex-presidente Donald Trump, e que ele é o único líder capaz de combater o tráfico internacional de crianças para práticas de prostituição infantil. No Brasil, um dos grupos identificados com as campanhas do QAnon é o Pugnaculum, que divulga na internet posts favoráveis ao atual presidente brasileiro, bem como obras em e-book e artigos destinados aos por ele chamados de “patriotas brasileiros”.
12/12/20224 minutes, 52 seconds
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Covid-19: apesar de flexibilização, China irá demorar para voltar à normalidade

Manifestações baseadas em conspirações e fantasias acabam se tornando folclóricas quando pacíficas e lamentáveis quando prejudicam o bem-estar da maioria, mas quando embasados na realidade, sensatez e senso de justiça, há vezes que protestos funcionam. Na China, as manifestações contra a política de “Covid Zero” no país acabaram por gerar alguma flexibilidade que, comparado ao que era, melhora muito a vida da maioria da população. Thiago de Aragão, analista político Passados três anos desde seu início, a Covid ainda é um problema grave na China. Milhões de idosos não estão vacinados e, caso peguem o vírus, representariam uma pressão desproporcional no sistema de saúde do país. Em Taiwan, por exemplo, a taxa de mortalidade se mantém na faixa dos 0.2% da população. Se esse mesmo percentual existisse na China continental, o número de mortes ficaria na casa dos milhões. Sun Chunlan, o estrategista-chefe do Partido Comunista Chinês no combate à Covid (uma espécie de Dr. Fauci chinês), foi quem desenhou e convenceu Xi Jinping de que a política de “Covid Zero” era a única alternativa para impedir o colapso do sistema de saúde e impedir milhões de mortes. Assim, à medida que casos eram descobertos em determinadas regiões, o lockdown de um complexo residencial, bairro ou cidade, se tornava a alternativa escolhida pelo governo chinês. Isso levou a milhões de habitantes - mais de 140 milhões em determinados momentos - a estarem sob lockdown por semanas ou meses, dependendo da região. Flexibilização decidida a portas fechadas A flexibilização dessa política foi decidida a portas fechadas, após protestos em diversas cidades do país. O ponto de ebulição foi um incêndio na cidade de Urumqi. Por conta de um lockdown que focava na manutenção do trabalho, trabalhadores estavam trancados em uma fábrica do município e morreram em um incêndio, sem a possibilidade de sair do local e se salvarem. Em seguida, os protestos contra as rígidas medidas restritivas se iniciaram em Urumqi, Shenzhen, Xangai e outras cidades, colocando uma pressão grande em cima do governo. A portas fechadas, Xi Jinping reconheceu que o atual formato do "Covid Zero", não era mais sustentável, dada a exaustão coletiva da sociedade. Como sempre, quando há um protesto na China, a imprensa Ocidental corre para especular o início de uma versão chinesa da "Primavera Árabe", ou tentar identificar algum tipo de rebelião contra o Partido. Não é o caso. Apesar de protestos efusivos e corajosos em Xangai diretamente contra Xi Jinping e pedindo a renúncia do presidente, o foco principal dos protestos se baseia na "Covid Zero" e não na busca por democracia ou pelo fim do Partido Comunista Chinês. Campanha de vacinação Após ser reeleito para um terceiro mandato, Xi sabe que entrará na fase mais complexa de seu governo a partir do ano que vem. Se por um lado o afrouxamento da "Covid Zero" é bem-vindo, por outro, há uma necessidade gritante de uma ampla campanha de vacinação em idosos. Milhões não estão vacinados o suficiente para evitar a ômicron. Olhando além do problema da Covid, Xi Jinping sabe que o crescimento econômico chinês é de suma importância para manter a ordem e a confiança da população no partido. As expectativas otimistas para 2023 giram em torno de uma taxa de 5.5%. No entanto, a flexibilização da "Covid Zero", sem uma campanha pesada de vacinação, poderá diminuir essa expectativa pela metade. Na China, a imagem do país para o mundo e do mundo para a população chinesa é de grande importância para o Partido. Assim, até a transmissão da Copa do Mundo se tornou um problema. Para que o telespectador chinês não percebesse que o mundo já superou (em grande parte) a Covid, a imagem da plateia nos estádios está sendo vetada pela TV chinesa. Enquanto a preocupação maior for em cima da percepção das pessoas ao invés de combater estrategicamente o vírus com vacinas, a China irá demorar muito para voltar a sua normalidade.
12/5/20224 minutes, 58 seconds
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Copa 2022: talento da seleção brasileira pode ser diferencial decisivo

A mídia europeia e mundial derramou elogios desmedidos diante do segundo gol brasileiro e de Richarlison, de voleio, como se diz na gíria desportiva. Sublinharam o “talento” do atacante. Houve um comentarista alemão que atribuiu este termo, “talento”, ao conjunto da equipe brasileira, algo que, segundo ele, poderia fazer o diferencial decisivo numa Copa em que quase todas as seleções seguem um mesmo esquema tático, o chamado 4 - 4 - 2, basicamente defensivo e popularizado a partir dos anos 70 do século passado. Flávio Aguiar, analista político É um esquema que atua com quatro zagueiros em linha, às vezes até 5, com um pivô colocado um pouco mais à frente. Aponta para o fato de que a maior preocupação nas táticas atuais é a de não tomar gols, ao invés de fazê-los. Esse esquema contribui para nivelar o desempenho as equipes, diminuindo a distância entre aquelas tradicionalmente consideradas de excelência e as médias. Facilita a ocorrência de “zebras”, como a derrota da Argentina para a Arábia Saudita e da Alemanha para o Japão. Neste último caso, que traumatizou a mídia alemã, o diferencial foi a velocidade dos japoneses, sobretudo no gol da vitória. Desde os tempos em que o futebol começou a ser exportado da Inglaterra, onde nasceu, para o mundo, o resultado dos jogos foi marcado por uma combinação de dois fatores: esquema tático, combinando disciplina coletiva e inovação, de um lado, e do outro o talento individual dos jogadores. O primeiro fator destaca o trabalho do técnico e a preparação física; o segundo, a habilidade com a bola e eventualmente a liderança em campo. Esquema tático “Pirâmide” O primeiro esquema tático, difundido internacionalmente a partir de 1891, foi o da chamada “Pirâmide”: goleiro, dois zagueiros, três médios e cinco atacantes. Sua presença foi tão forte que durante muito tempo, mesmo depois que as equipes adotaram outros esquemas táticos, ele ordenou a escalação dos times. Exemplo: em 1958, quando o Brasil já atuava com o chamado 4 - 2 - 4 ou o 4 - 3 - 3, os locutores ainda descreviam a escalação assim: Gilmar, Bellini e Orlando; Djalma Santos, Zito e Nilton Santos; Garrincha, Didi, Vavá, Pelé e Zagallo (o time da final, contra a Suécia). No final dos anos 20, quando foi introduzida a atual forma da lei do impedimento, o técnico inglês Herbert Charpman inovou o esquema, com uma distribuição que também correu mundo: o chamado “WM”, tão estático quanto eficiente: três zagueiros, dois médios à frente, dois meia armadores e três atacantes, dois pelas pontas e um centroavante. Com a progressiva adoção de números nas camisetas, este esquema evidenciou a nove, a do centroavante, como uma das mais valorizadas numa equipe. Foi a partir de 58 que Pelé consagrou a camisa 10 como a de maior destaque. A grande inovação seguinte foi a adoção, a partir das seleções da Hungria, em 1954, e do Brasil, sobretudo em 1958, do já mencionado 4 - 2 - 4, com sua variante 4 - 3 - 3, com o ponta-esquerda Zagallo jogando recuado, em auxílio ao meio do campo. Este esquema, mais ágil e dinâmico do que o “WM”, impôs-se também graças à liderança em campo de jogadores que atuavam como “organizadores do time”, como Ferenc Puskas, da Hungria, Didi, do Brasil, Kopa, da França, tão importantes como os goleadores. A invenção do 4 - 2 - 4 é atribuída ao brasileiro Martim Francisco, quando treinador do Villa Nova Atlético Clube, de Nova Lima, na Grande Belo Horizonte, no começo dos anos 50. “Laranja Mecânica” A novidade subsequente se deu com Rinus Michels, nos anos 70, com a invenção do chamado “Carrossel Holandês”, também apelidado de “Laranja Mecânica”, devido à cor da camiseta do time. Nele, todos os jogadores se capacitam a jogar em todas as posições, com exceção do goleiro. Mas nem tudo é inovação no futebol. Em 1954 os criativos húngaros, apelidados de “Mágicos Magiares”, caíram na final perante os disciplinados alemães ocidentais, comandados por Fritz Walter. Depois de estar perdendo por 2 x 0, os alemães viraram o jogo para 3 x 2. Em 1974 os holandeses, liderados pelo legendário Johan Cruijff, caíram na final de novo diante dos disciplinados germânicos, liderados pelo também legendário Franz Beckenbauer. Em 1978 os holandeses perderam a final novamente, mas desta vez para os nem tão disciplinados argentinos, liderados por Passarella e Kempes. Em 1958 os fotógrafos brasileiros pediram ao capitão Bellini que erguesse a taça Jules Rimet para melhor fotografá-la. Ele o fez, e seu gesto, então inovador, consagrou-se como o preferencial para simbolizar a vitória em qualquer esporte. Vamos ver se desta vez, depois de 20 anos de jejum, o capitão Thiago Silva consegue repetir o feito, “erguendo a taça” para o Brasil.
11/28/20225 minutes, 20 seconds
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Polêmicas sobre Catar como sede da Copa são conhecidas há mais de doze anos

A Copa do Mundo no Catar traz à tona algumas importantes contradições no relacionamento entre países. A escolha da FIFA em realizar o mundial no Catar foi tratada como polêmica desde que o anúncio foi feito há 12 anos. A decisão da FIFA se baseou na argumentação de que o mundial deveria ser disputado em uma região que nunca havia sediado o evento antes. Thiago de Aragão, analista político O Catar levou porque, no final das contas, apresentou um plano bilionário de investimento para adequar a Copa num ambiente que não possui tradição em sediar exemplos multiculturais como a Copa do Mundo. Esse acaba sendo um dos principais problemas. O Catar não tem leis que garantam igualdade de tratamento entre homens, mulheres, homossexuais e imigrantes levados ao país para colaborar na construção da infraestrutura necessária para realizar o maior evento esportivo do planeta. Nem mesmo os Jogos Olímpicos despertam as paixões que vimos ao longo da história das Copas do Mundo. Assim, o fato de um país que exibe uma infraestrutura do futuro, misturado a interpretações históricas e sociais do passado, faz com que o Catar não seja o país ideal para sediar a Copa.  O noticiário nos próximos 30 dias vai se revezar entre resultados dos jogos e demonstrações de como o Catar não é um país adepto ao nosso entendimento de Direitos Humanos. Isso tem uma importância grande de conscientização. É importante que o mundo entenda que a sede da Copa não divide os mesmos valores de inclusão, igualdade e respeito ao próximo, que foram os elementos-chave de inspiração para a criação da própria FIFA. Devemos criticar o Catar por ainda ter leis contra homossexuais, pelo tratamento dado a trabalhadores imigrantes e pela exclusão das mulheres de diversas facetas da sociedade? Claro que sim. No entanto a FIFA e todos aqueles que sabiam que o mundial seria no Catar desde 2010, e só agora resolveram expressar o descontentamento em relação ao país-sede, também merecem críticas. Obviamente, me incluo nesse grupo. Tudo que o mundo vem questionando e criticando em relação à Copa do Mundo já é sabido há 12 anos. Por que a ênfase não foi dada antes quando algo de concreto ainda poderia ter sido feito?  Protesto monocromático Sendo a Copa do Mundo o maior evento esportivo do planeta, todas as críticas e revoltas por parte de países participantes tendem a ser mínimas. A Dinamarca, por exemplo, vai "protestar" contra a violação de direitos humanos de trabalhadores, usando um uniforme monocromático. Certamente, todos aqueles que trabalharam 18 horas por dia, durante anos, na construção dos estádios, respiram aliviados com o protesto dinamarques. Como era esperado, nenhum país abriu mão de participar da Copa como forma de protesto. No fim, há sempre um cuidado muito grande em criticar coisas que são relacionadas a paixões. A maioria dos países participantes possuem, em seus governos e na sociedade, indivíduos que carregam pesadas críticas ao Catar. No entanto, a esmagadora maioria possui uma paixão pelo futebol que acaba neutralizando a legitimidade e a extensão das críticas. Nesse aspecto, eu também faço uma mea culpa. Somos uma civilização movida pela eventologia. O que está acontecendo agora se torna a coisa mais importante do universo até, amanhã, deixar de ser. Isso nos inibe a atacar os grandes problemas da humanidade como desigualdade, racismo, fome, pobreza entre outras mazelas. Essas mazelas se tornam urgentes e deixam de ser, à medida que os olhos do mundo focam nelas. Com o desvio do foco, os problemas estruturais de sempre seguem existindo, no aguardo de soluções inesperadas. Após o fim do Mundial, a Dinamarca irá fazer algo a mais do que uma camisa monocromática? Algum governo de um país importante usará sua influência para tentar mudar algo? Ou jogaremos a culpa na FIFA por ter premiado o Catar como palco? A FIFA pode ser uma instituição cínica com uma história controversa, mas o problema já existia e seguirá existindo com Mundial ou sem Mundial. A vantagem, é que a Copa do Mundo sendo no Catar, muitas pessoas passam a aprender um pouco mais sobre as diferenças globais nos tratamentos dados à mulheres, homossexuais, trabalhadores imigrantes, negros e todos aqueles que sofrem discriminação por capricho. 
11/21/20225 minutes, 32 seconds
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Expectativa mundial com governo Lula não se restringe à pauta ambiental

Alívio: esta é a palavra que melhor descreve a sensação amplamente majoritária entre governantes, políticos e também na mídia europeia e de outras partes do mundo diante do resultado da eleição presidencial brasileira, com a vitória de Luís Inácio Lula da Silva e a derrota de Jair Messias Bolsonaro. Flávio Aguiar, analista político A vitória foi apertada, mas o alívio foi imenso. Ele se expressou no imediato reconhecimento internacional da vitória de Lula, com manifestações vindas de todos os quadrantes políticos, de Emmanuel Macron, da França, a Joe Biden, dos Estados Unidos, do esquerdista Alberto Hernandez, da Argentina, a ultradireitista Giorgia Meloni, da Itália, passando pelo conservador Rishi Sunak, do Reino Unido e os socialistas António Costa e Pedro Sánchez, de Portugal e Espanha, respectivamente, além de Josep Borrell, o encarregado das Relações Exteriores na União Europeia. Do Canadá à Patagônia, das margens do Atlântico às ilhas e costas do Pacífico, do Oceano Ártico à ponta sul da África, acorreram mensagens entusiasmadas com o feito de Lula, que alguns anos atrás parecia condenado ao ostracismo e agora prepara a saída triunfal do Brasil do isolamento geopolítico a que foi condenado pela política externa desastrosa do governo Bolsonaro. A Noruega e a Alemanha anunciaram sua disposição de retomar sua participação no financiamento do Fundo Amazônico, que fora suspensa desde o desmonte dos controles sobre o desmatamento da floresta e de outros biomas brasileiros, promovido pelo atual governo. Agenda cheia na COP27 Lula nem tomou posse, e já é estrela convidada da COP27, que se realiza na cidade de Sharm el-Sheikh, na ponta sul da península do Sinai, no Egito. Lula desembarca na conferência do clima nesta semana acompanhado de sua esposa, a socióloga Rosângela Lula da Silva, a Janja, do ex-chanceler Celso Amorim, cotado para ser assessor especial da presidência da República, e pelo ex-ministro da Educação Fernando Haddad, pressentido como novo ministro de Relações Exteriores. A agenda de Lula será pesada e apertada. Dela já constam a participação em pelo menos três fóruns públicos e dez encontros bilaterais com mandatários ou representantes de países ou líderes de organismos internacionais, entre eles o Secretário-Geral da ONU, António Guterres, o presidente egípcio, general Abdul Fatah al-Sisi, o presidente do Banco Mundial, David Malpass, e o enviado especial da China, Xien Zhenhua. Há forte expectativa de que Lula lidere a articulação mundial para uma ajuda financeira por parte dos países mais ricos às nações mais vulneráveis do ponto de vista climático, além da formação de uma frente de proteção às florestas tropicais com a Indonésia e a República Democrática do Congo, detentores, como Brasil, de mais da metade destas florestas no mundo. No entanto, as expectativas positivas em relação ao futuro governo não se restringem apenas à essencial pauta ambiental. A política externa do governo que se encerra, que pode ser descrita como “errática e convulsiva”, comprometeu seriamente o renomado prestígio da diplomacia brasileira. Espera-se que o futuro governo Lula restabeleça este prestígio, reconduzindo o Brasil à posição de liderança do Terceiro Mundo em fóruns internacionais, como o G-20 e a Comissão de Direitos Humanos da ONU. Destaque na mídia europeia Por fim, deve-se assinalar que, embora a mídia dominante na Europa costume olhar para os governantes de esquerda na América Latina com um certo ceticismo, a vitória de Lula repercutiu intensamente nos veículos de comunicação europeus. Dou um exemplo: no dia seguinte à eleição do ex-presidente, o seu retrato ocupava as capas dos mais diferentes jornais em todas as bancas de Berlim. Trata-se, no fundo, de uma questão de credibilidade e de decoro do cargo. Espera-se que Lula restabeleça a confiança no comportamento governamental, mesmo com quem tenha discordâncias em relação a ele. Ao mesmo tempo, ele deve constituir um ponto de equilíbrio no Brasil, assim como em relação à toda a América Latina, à África e demais continentes, além de evitar vexames protagonizados pelo atual presidente Jair Bolsonaro, como os de pisar no pé da então chanceler alemã, Angela Merkel, ou distribuir sorrisos e tapinhas amistosos no funeral de uma rainha, ocorrido recentemente no Reino Unido.
11/14/20225 minutes, 7 seconds
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Política externa de terceiro mandato de Lula será diferente de anteriores

A vitória de Lula marcará uma grande mudança na política externa brasileira. Durante o governo Bolsonaro, houve uma tentativa de reposicionar o Itamaraty dentro de uma lógica de inserção global pensada a partir dos pensamentos do guru bolsonarista Olavo de Carvalho, morto este ano. O ex-chanceler Ernesto Araújo não conseguiu executar um trabalho relevante e, com o tempo, acabou substituído pelo competente Carlos França.  Thiago de Aragão, analista político Durante seus primeiros dois governos, Lula deixou muito claro que a regência da política externa brasileira estava mais a cargo do Partido dos Trabalhadores do que do Executivo. A política externa "bicéfala" de Lula contava com Celso Amorim liderando a partir do Itamaraty e com Marco Aurélio Garcia, de dentro do Palácio, agindo como o "chanceler de fato" do governo Lula.  Em 2004, era claro o posicionamento de Lula em ter o PT influenciando com tanta força a política externa nacional. Afinal, o objetivo central era manter o partido ocupado com outro tema e que não tivesse influência direta no Ministério da Fazenda. Isso gerou uma situação um pouco paradoxal, principalmente a partir dos olhos de estrangeiros: se por um lado havia pragmatismo a partir do Ministério da Fazenda, na política externa o posicionamento mais ideológico era mais detectável.  A partir de 2023, Lula não promoverá uma política externa nos mesmos moldes anteriores. Certamente o relacionamento com países com governos à esquerda será forte e relevante. Na região, veremos um diálogo mais sólido com Argentina, Venezuela, Chile, Peru entre outros países. Diferente do primeiro governo Lula, o BNDES não deverá ter o papel de linha auxiliar na política externa. Naquela época, o banco de fomento era uma peça instrumental na busca por influência e liderança na região. As controvérsias envolvendo empréstimos à Cuba, Venezuela e Bolívia devem pressionar o governo a manter o banco com um papel mais doméstico.  Relações com os EUA e a China O relacionamento com os EUA será melhor no âmbito presidencial, já que Lula e Joe Biden poderão iniciar do zero a relação. Importante ressaltar que o volume das relações Brasil-EUA é grande e contínuo, independentemente da postura entre presidentes. Geralmente, os principais acordos entre os dois países correm de uma forma tranquila nos níveis burocráticos.  Com a China, certamente teremos uma relação mais amigável no âmbito público. O relacionamento entre o PT e o Partido Comunista Chinês é antigo, com frequentes intercâmbios. Isso facilitará o diálogo nesse nível e trará uma aura de boa vontade para as relações entre Brasil e China no âmbito presidencial. A China mantém interesse em investir mais no Brasil e, principalmente, oferecer linhas de crédito para o governo federal, focando em projetos de infraestrutura. É de se esperar que, assim como aconteceu nos governos Lula, Dilma, Temer e Bolsonaro, o Brasil continuará recusando essas linhas de crédito, a fim de não gerar uma dependência financeira a partir da já existente dependência comercial.  OCDE e Mercosul Em relação a alguns objetivos macro da política externa brasileira, o governo de Lula não irá mudar 180 graus. O ingresso na OCDE deve seguir em frente, apesar de ter ganhado protagonismo durante o governo Bolsonaro. O acordo entre Mercosul e União Europeia deverá ser ratificado pelos países membros do bloco europeu. A política ambiental, tão importante para a comunidade internacional, será um componente importante da narrativa de Lula, principalmente dentro do objetivo de melhorar as relações com os europeus.
11/7/20223 minutes, 57 seconds
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Europa se prepara para viver um inverno 'à brasileira'

Acredite se quiser: a Europa se prepara para passar um inverno à brasileira! O que isto significa? Um inverno brasileiro, pelo menos em termos do extremo sul do nosso país e também de suas regiões montanhosas, quer dizer que as temperaturas dentro das casas e dos recintos fechados se aproximam das temperaturas externas. Flávio Aguiar, analista político Ao contrário da maioria dos países europeus e até mesmo de nossos vizinhos uruguaios, argentinos e chilenos, a maioria das casas e edifícios no Brasil, mesmo nas regiões onde o inverno é mais rigoroso, não dispõe de qualquer sistema de aquecimento. Ou, se o tem, se limita a aquecedores individualizados no quarto, ou salamandras e lareiras decorativas nos ambientes sociais. Na Europa, a calefação é a regra. Mas ela é alimentada a gás ou eletricidade, e ambas fontes de energia estão cada vez mais caras. A guerra na Ucrânia, e as tensões em torno das sanções econômicas impostas pela União Europeia à Rússia, seguindo a orientação dos Estados Unidos e do Reino Unido, têm propiciado anúncios de que a situação energética na Europa vai piorar muito no inverno que se aproxima no hemisfério norte. As sabotagens nos gasodutos russos que ligam a região de São Petersburgo ao norte da Alemanha elevaram a temperatura do problema, ao mesmo tempo congelando mais ainda as expectativas quanto ao frio do inverno. A autoria dos atentados a bomba que danificaram o gasoduto ainda em operação permanece sem esclarecimento, com suspeitas mútuas e acusações veladas entre os países do Ocidente, aliados da Ucrânia, e o governo de Moscou. O caso da Alemanha, país que até há pouco era dos mais dependentes do gás russo, e ainda depende dele, ilustra bem o drama. Em setembro, o país registrou uma elevação brusca da taxa inflacionária anual de 7 para 10%. A situação fica mais dramática se observarmos que, em relação aos custos da energia, esta taxa foi para 44% e, quanto aos alimentos, para 19%. Os governos europeus vêm tomando medidas para minorar os problemas decorrentes, buscando também uma difícil coordenação entre suas iniciativas, visando uma redução continental de 15% no consumo de energia ao lado de uma redução geral de custos. De modo geral, elas preveem, com diferentes intensidades, duas frentes de ação: A primeira é a redução do consumo de energia, impondo limites de temperatura ao aquecimento dos ambientes públicos e mesmo privados. No caso de locais públicos, a limitação envolve determinar quais deles serão aquecidos. Por exemplo: em alguns países não haveria mais aquecimento de corredores de passagem ou de ambientes menos frequentados. Além disso, os termômetros seriam ajustados para não ultrapassar os 19 graus, mesmo em ambientes privados. Ficam de fora destas medidas hospitais, escolas e asilos de idosos. A segunda frente diz respeito aos subsídios gerais durante os meses de inverno nos custos da energia para lares de baixa ou até média renda, conforme o país. Na Holanda esses subsídios devem se estender às pequenas empresas. Medidas colaterais preveem redução de impostos sobre o consumo de energia e o congelamento de preços para 2023. Este tipo de medida deve também se estender ao transporte público. Na Espanha o transporte ferroviário regional será gratuito pelo menos até o final deste ano. Na Alemanha, conforme a cidade, há uma política de redução de preços no transporte regional e municipal.  Há quem critique esta política de subsídios, dizendo que ela compromete a redução do consumo. Porém, isto não tem detido os governos em adotá-las. Há também efeitos paradoxais. As usinas a carvão, consideradas perigosas para o meio-ambiente, vem sendo reabilitadas. O novo governo sueco, de direita, declarou que vai retomar a construção de usinas nucleares. Ao mesmo tempo, a convenção do Partido Verde alemão, tradicional inimigo da energia atômica, aprovou o apoio à manutenção em funcionamento de duas das três usinas nucleares no país até abril de 2023. E em vários países a população está estocando lenha para o inverno, assim como no Brasil se estoca madeira e carvão para enfrentar o custo abusivo do gás de cozinha. 
10/17/20224 minutes, 46 seconds
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Como o Congresso do Partido Comunista Chinês pode afetar o Brasil?

Imagine uma reunião com duração de alguns dias, em algum país distante, sem o seu conhecimento e que possui mais potencial de mudar a sua vida do que qualquer outro evento de natureza política. Pois bem, começa no dia 16 de outubro o Congresso do Partido Comunista Chinês, que deve renovar o mandato do atual líder Xi Jinping. Thiago de Aragão, analista político Esse congresso acontece a cada 5 anos, desde 1949 (ano em que acabou a guerra civil chinesa com vitória dos comunistas de Mao Tse Tung sob os nacionalistas de Chiang Kai-Shek), é o evento mais importante da China. Além de eleger membros para várias organizações dentro da estrutura do Partido Comunista (Politburo, Conselho Militar, etc), o Congresso também escolhe o novo líder do partido, e da nação, para os próximos 5 anos.  Tradicionalmente, desde a morte de Mao Tse-Tung em 1976, nenhum eleito fica à frente do governo por mais do que dois mandatos. Essa foi uma forma encontrada desde a morte de Mao, para equilibrar o poder entre as diversas facções do país. No entanto, o atual líder chinês, Xi Jinping, que já está há dois mandatos à frente do país, deverá ser confirmado para um inédito terceiro mandato e se caracterizando com o líder chinês mais poderoso desde Mao.  Impacto para o Brasil A importância desta reunião para o mundo é muito maior do que muitas pessoas imaginam. No Brasil, por exemplo, por conta da dependência brasileira no comércio bilateral com a China, especialmente do agronegócio, as decisões tomadas em Pequim são especialmente importantes e determinantes no Brasil. Não há país no mundo capaz de alterar significativamente os resultados comerciais no Brasil do que a China. Por conta disso, é um espanto que o Brasil não tenha uma atenção, interesse e conhecimento suficiente no seu principal parceiro comercial para melhor se posicionar.  Assim, o Congresso do Partido Comunista Chinês é, ao mesmo tempo, o evento político internacional mais importante para o Brasil, inclusive em relação às eleições americanas, e também o mais subestimado. Além da escolha dos integrantes dos diversos escalões partidários, algumas diretrizes para os próximos anos também serão debatidos. Há a expectativa que o Congresso do Partido analise, entre outros temas, a diversificação de vendedores de commodities de toda a natureza. Caso esse tema avance durante o congresso, o impacto potencial no Brasil será de grande relevância. 
10/10/20224 minutes, 1 second